São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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ENTREVISTA

Brasil sedia encontro sobre saúde no trabalho

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mesmos equipamentos e medidas de segurança que protegem operários de grandes metalúrgicas deveriam proteger também trabalhadores de oficinas de fundo de quintal.
Mas nem sempre é isso que acontece. Apenas um em cada cinco trabalhadores tem equipamentos de proteção adequados. Os menos protegidos estão nas pequenas indústrias.
Segundo o INSS, em 2001 foram registrados 400 mil acidentes de trabalho, com 15 mil inválidos ou incapacitados e 3.100 mortes. Apesar da melhora nos últimos anos, o Brasil ainda ocupa o quarto posto em número de mortes no trabalho no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Os que trabalham na informalidade nem são contados. "Por isso, não são protegidos e correm risco maior ainda", diz o médico Ruddy Facci, especialista em medicina do trabalho.
Facci presidirá, em fevereiro próximo, em Foz do Iguaçu, o 27º Congresso Internacional de Saúde no Trabalho, realizado pela ICOH, sigla em inglês para a Associação Internacional de Saúde no Trabalho, fundada em Milão em 1906. Facci, um dos vice-presidentes, é o primeiro brasileiro a fazer parte da diretoria da ICOH. E o congresso de Foz do Iguaçu é o primeiro realizado no Brasil.
Não por acaso, o tema principal do encontro será "O Desafio da Equidade em Saúde e Segurança no Trabalho". Equidade é mais que igualdade, é proteger mais aquele que corre maior risco.
Abaixo, trechos da entrevista que Facci concedeu à Folha:

Folha - Como atua a ICOH?
Ruddy Facci
- É uma associação científica, não-governamental, formada por especialistas em segurança no trabalho, médicos, engenheiros, físicos, divididos em 35 comitês. São 3.500 associados de 96 países, entre eles 84 brasileiros. Funciona como órgão consultor para a Organização Mundial da Saúde e para a OIT.

Folha - Qual é a situação do trabalhador brasileiro?
Facci
- Desde que a legislação de saúde e segurança foi elaborada, em 1972, a situação vem melhorando. Trabalhador e empregador estão hoje muito mais conscientes. Das 18 recomendações da OIT, o Brasil adota 14, enquanto a Finlândia adota 17, e a Suécia, 16. O Brasil está na frente da maioria dos países desenvolvidos. O Ministério da Saúde está implantando a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador. Médicos são treinados para identificar no paciente possíveis problemas ou lesões decorrentes do trabalho.

Folha - Como cumprir a lei e garantir segurança numa época de desemprego e trabalho informal?
Facci
- Esse é o desafio. Defendemos uma legislação que privilegie empresas que investem em segurança. E que, em lugar de punir as informais e as fora da lei, se criem mecanismos para incentivar a proteção. Uma proposta prevê que pequenas empresas trabalhem em pool, compartilhando iniciativas na área de segurança.


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