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Em MS, foto diz quem entra por cotas para negros
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
A Uems (Universidade Estadual
de Mato Grosso do Sul) usou fotos enviadas pelos estudantes
-coloridas, de 5 por 7 polegadas- como critério para selecionar quais deles tinham direito às
vagas nas cotas para negros.
Entre 530 candidatos que se declararam negros, 76 foram rejeitados porque não possuíam o "fenótipo" exigido, ou seja, "lábios
grossos, nariz chato e cabelos pixaim", na definição do presidente
do Cedin (Conselho Estadual dos
Direitos dos Negros), Naércio
Ferreira Fernandes de Souza, 34,
que fez parte de uma comissão a
qual analisou as fotos apresentadas pelos candidatos.
Outros 126 foram recusados,
pois, embora considerados negros, não eram de escolas públicas
ou bolsistas em particulares.
Quem ficou de fora das cotas
disputou as vagas normais no vestibular. Foi o primeiro na Uems a
reservar 328 vagas (20% do total)
para negros. Diferentemente das
universidades federais do Rio de
Janeiro e da Bahia, que também
adotam cotas, a Uems não aceitou
uma simples declaração do estudante dizendo que é negro ou
afrodescendente. Era preciso
apresentar uma fotografia.
No total, foram cinco avaliadores de fotos: três membros do movimento negro e dois da universidade. Criada há dez anos, a Uems
tem cerca de 6.000 alunos e 38
cursos em 14 municípios.
"A nossa vantagem aqui é que a
lei foi direcionada. No mínimo,
20% para negros, e não para afrodescendentes", disse Souza, referindo-se à lei aprovada pela Assembléia Legislativa de Mato
Grosso do Sul, criando o sistema
de cotas no vestibular deste ano.
"Garantimos [vagas] de fato às
pessoas que tinham o fenótipo, ao
negro preto. Nós fizemos isso
apenas para não deixar uma brecha para um branco ou para um
negro rico [de escola particular]
participar das cotas da Uems."
Souza defende o uso de fotos na
seleção dos candidatos. "Vou dar
um exemplo: quando você vai a
uma agência de emprego ou a
uma firma, eles pedem a foto. Por
meio da foto, a pessoa é contratada. Se a pessoa é negra da pele
bem escura, não olham nem o
currículo", explicou o presidente.
A explicação de Souza para os
chamados afrodescendentes não
serem incluídos na cota é a seguinte: "A sociedade discrimina o
negro pela sua cor. Não é pelo gene, não é pelo sangue, mas pelos
seus traços físicos".
Segundo a pró-reitora de Ensino da Uems, Maria José Jesus Alves Cordeiro, 41, que é negra e diz
já ter sido discriminada, a decisão
de usar foto foi do movimento negro. Ela disse que houve audiências públicas para apresentar as
regras. Por enquanto, nenhum estudante excluído das cotas entrou
na Justiça ou reclamou na Uems.
Além de reservar 20% de suas
vagas para negros, a Uems guardou 10% (160) para índios.
Dez foram recusados nas cotas
porque não tinham "uma declaração de descendência indígena",
informou Cordeiro. Esse documento era concedido por uma comissão formada por "anciões das
aldeias e por um representante da
Funai [Fundação Nacional do Índio]", explicou a pró-reitora.
Sistema de sobrevagas
A UFMT (Universidade Federal
de Mato Grosso) reservou para
estudantes pobres, brancos e negros, pelo menos 660 vagas para o
vestibular do próximo ano. Haverá ainda a reserva de cerca de 70
lugares para índios.
Nesse sistema da UFMT, chamado de sobrevagas, o estudante
considerado pobre terá duas
chances para entrar na universidade. O candidato pode ser aprovado no vestibular entre as vagas
já disponíveis para os candidatos
convencionais. E ainda terá a
chance de conquistar um lugar
entre as vagas para os pobres. Essa regra vale para os índios.
Segundo Speller, as medidas
aprovadas pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão são diferentes das cotas para negros já
adotadas em universidades públicas brasileiras. "Vamos aumentar
o número de vagas em 30% em
vez de reservar parte das disponíveis, como nas cotas para negros."
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