São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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SAÚDE

Araguatins (TO) teve, no total, 262 casos de lesão ocular; suspeita é que contaminação ocorre via caramujo que vive no rio

Parasita pode ter deixado 12 pessoas cegas

ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA

Um parasita encontrado em animais aquáticos pode ter causado cegueira em 12 pessoas em Araguatins (621 km de Palmas).
Ao todo, as secretarias municipal e estadual da Saúde detectaram 262 casos de lesão ocular de origem desconhecida no município, no extremo norte do Tocantins, em uma investigação feita de 9 de novembro a 12 de dezembro.
Em nota oficial, a Sesau (Secretaria Estadual da Saúde) informou suspeitar que as vítimas tenham sido contaminadas pelo parasita trematóide, transmitido por caramujos.
"Por um desequilíbrio ecológico naquele local, [os caramujos] se multiplicaram intensamente, acometendo principalmente crianças que se banharam no rio Araguaia, onde estão alojados os moluscos", informa a nota.
Ainda não se sabe a causa do possível desequilíbrio ecológico, segundo a assessoria de imprensa da secretaria.
Técnicos da Sesau, pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), do Ministério da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, da USP (Universidade de São Paulo) e da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) estão estudando o caso.
Pelo menos um dos técnicos envolvidos no estudo afirma que ainda é prematuro associar o surto aos caramujos.
Todas as vítimas estão sendo acompanhadas e medicadas, segundo o governo estadual. Ontem, a Naturatins (Instituto Natureza do Tocantins) interditou provisoriamente as beiras e as praias naturais formadas ao longo do rio Araguaia no município. Não há registro de casos em outras regiões.
Também foi iniciada a retirada dos caramujos. O problema se restringe a um trecho específico do rio no município, que ocupa 2.627 km2 e tem população de 29.338 habitantes (censo de 2000).
Na nota, o secretário estadual da Saúde, Gismar Gomes, afirmou que não há motivo para preocupação para a população de Araguatins, já que a secretaria está tomando as medidas necessárias para a solução do problema.
"Conseguimos agir com rapidez realizando essa investigação e agora mobilizamos também o Naturatins para interditar a área afetada para a retirada dos moluscos das margens do rio", declarou o secretário na nota.
A Folha procurou Gomes durante toda a tarde de ontem, por telefone, mas ele não havia atendido a reportagem até a conclusão desta edição.
Segundo a assessoria de imprensa da Sesau, os sintomas da contaminação se assemelham aos de uma conjuntivite. O verme se aloja no olho, dando início a um processo inflamatório.
A maioria das vítimas teve apenas um olho atingido. Antes desse surto, foram registrados casos isolados naquele município e em Marabá (PA), em 2002.

Diagnóstico prematuro
Para um dos especialistas que estudam o caso, o oftalmologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Fernando Orestes, ainda é muito prematuro atribuir o surto à contaminação por trematóides transmitidos por caramujos. "Os dados estão sendo analisados ainda."
Orestes afirmou que nem mesmo o microorganismo causador da doença pôde ser identificado.
Ele ressaltou que não há motivos para alarde. "É uma ocorrência comum na região. É preciso tomar cuidado com esse tipo de divulgação, trata-se de um surto que apareceu e que está sendo controlado."


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