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foco
Ex-pedreiro inaugura no subúrbio do Rio biblioteca projetada por Niemeyer
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO
Contagiado há dez anos por
uma paixão pelos livros, o ex-pedreiro Evando dos Santos,
48, não pára de lutar para espalhar esse sentimento.
Após reunir 55 mil títulos
em sua casa, na Vila da Penha
(bairro de classe média baixa
na zona norte do Rio), ele
inaugurou na sexta-feira a Biblioteca Comunitária Tobias
Barreto de Menezes, desenhada pelo arquiteto Oscar
Niemeyer. O prédio, no mesmo bairro onde mora, abriga
10 mil exemplares e sediará
aulas de literatura e idiomas.
Nascido em Aquidabã (SE),
ele veio com a família para o
Rio aos 15 anos. Pouco depois,
começou a trabalhar como
pedreiro. Sequer com ensino
fundamental, aprendeu a ler
com a Bíblia. Mas o episódio
que mudou sua vida ocorreu
em 1998, quando, na obra de
uma casa, ganhou 50 livros
que iriam para o lixo.
A partir daí, tornou-se leitor voraz, começou a juntar
outras obras e montou uma
rede que já recebeu apoio tanto de anônimos quanto de nomes como o das escritoras
Ana Maria Machado e Ruth
Rocha, que fizeram doações.
Nos últimos dez anos, o
"operário em construção"
ajudou a fundar 45 bibliotecas comunitárias em todo o
país. Também doou 4.700 livros para Angola e agora quer
enviar outros 20 mil para
Santa Catarina.
A história do pedreiro já virou livro e filmes, mas a biblioteca de três andares e 200
metros quadrados é sua principal obra. O espaço foi inaugurado com uma carta da escritora Nélida Piñon, da Academia Brasileira de Letras.
"Considero-o um cidadão
exemplar, capaz de sonhar, de
devotar-se às utopias ao alcance do homem", escreveu.
A biblioteca levou três anos
para ser construída e contou
com R$ 651 mil do BNDES.
Os livros podem ser retirados
gratuitamente. Os estudantes
Larissa Sabino da Silva, 10, e
Ramon Martins, 11, foram os
primeiros a pegar obras emprestadas. "Adoro ler, tenho
uns 40 livros", disse Ramon.
Santos, que vive com o auxílio das aposentadorias da
mulher e da mãe, conta que
nunca teve "tentação" de vender as obras que reuniu. "Livro não devia ser vendido, devia ser editado apenas para
ser doado", sonha.
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