São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2005

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País é o 2º em plástica de jovens

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil é o país vice-campeão em cirurgias plásticas de adolescentes, só perdendo para os Estados Unidos. Em 2003, das 621.342 cirurgias realizadas no país, 60% foram estéticas e dessas, 13% em jovens de 14 a 18 anos.
Entre as meninas, os três tipos de cirurgias mais freqüentes são de nariz, de mama e lipoaspiração. Para os cirurgiões plásticos, muitas cirurgias de adolescentes apontadas como estéticas são, na realidade, "reparadoras".
Dois exemplos freqüentemente apontados são as reduções de nariz e de mama. "São situações que costumam criar um grande complexo de inferioridade nas meninas", afirma o cirurgião plástico paulista Munir Cury.
Na contramão da redução mamária, é cada vez maior o número de meninas que implantam silicone nos seios. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica estima que na última década a quantidade de adolescentes que colocam prótese tenha aumentado mais de 300%.
"No Brasil, há exposição maior do corpo e um culto à beleza. Na mídia só há mulheres maravilhosas. A cobrança é muito forte. Mas não acho que seja algo patológico", diz o cirurgião plástico Ithamar Stocchero, presidente da regional paulista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Alerta
Na opinião de Cury, o cirurgião precisa se atentar para os casos de dismorfia corporal (doença em que a pessoa acredita que tenha um defeito físico que não existe). "A pessoa vai se achar feia e gorda sempre. Se fizer uma lipoaspiração, logo vai achar outro problema. Precisamos refutar esse tipo de paciente", diz.
Conscientizar o jovem de que uma cirurgia plástica precoce pode trazer repercussões desagradáveis para a vida adulta deveria ser outra função dos cirurgiões, na avaliação do coordenador da câmara técnica de cirurgia plástica do Cremesp, Wilson Andreoni.
"Há jovens colocando próteses de silicone exageradas. Com o tempo, haverá queda desse seio", alerta. Segundo ele, a mulher jovem tende a se arrepender mais do que a adulta porque, muitas vezes, faz a cirurgia para imitar a amiga ou para agradar o namorado, por exemplo.
A estudante baiana Eliana Hupsel, 23, garante que esse não foi o caso dela. No ano passado, decidiu fazer de uma só vez lipoaspiração, prótese de silicone e plástica no nariz. "Adorei o resultado. Eu não tinha nada, e isso me incomodava", diz Eliana. Suas duas irmãs, de 22 e 27 anos, foram mais comedidas: uma fez nariz e lipoaspiração e a outra, peito e lipo.
J.F., 17, afirma que decidiu fazer uma lipo para "levantar o astral" depois do rompimento de um namoro. "Foi legal. Levantou minha auto-estima."
Para Ana Bahia Bock, presidente do CFP (Conselho Federal de Psicologia), essa busca pela "perfeição" pelo jovem é resultado de uma excessiva preocupação consigo mesmo.
"O botox e a cirurgia plástica são apenas alguns dos elementos que entram no conjunto de ações. Não é doença. É reflexo da sociedade em que vivemos", analisa.
Bock acredita que uma das alternativas seja o país criar políticas que incluam a juventude em projetos sociais. "Pode ser que isso venha um dia a competir com a busca do embelezamento." (CC)


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