São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2005

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VERÃO

Paraísos quase desertos nos litorais de Pernambuco e do Ceará valem as dificuldades impostas pelo acesso restrito

Praia isolada compensa falta de estrutura

Léo Caldas/Folha Imagem
Praia do Paiva, a 36 km de Recife, onde o banho de mar não é recomendado devido aos tubarões


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PERNAMBUCO

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMOCIM (CE)

Praias quase desertas, escondidas em meio a dunas ou coqueirais, são a recompensa nos litorais pernambucano e cearense para quem desafia as dificuldades impostas por trajetos difíceis, caros, e pela "privatização" do acesso às faixas de areia, determinada pelos donos de fazendas e condomínios de luxo que cercam algumas dessas localidades.
Em Pernambuco, duas das oito praias visitadas pela Folha no litoral sul têm o acesso por terra dificultado por fazendeiros. Em outras, há controle dos visitantes ou é preciso atravessar a pé trechos de mangue e trafegar de carro quilômetros por um labirinto de estradas vicinais esburacadas para chegar aos destinos.
No Ceará, o bugue e outros carros de tração são os únicos meios de transporte para ter acesso às praias menos conhecidas de Camocim, no litoral oeste do Ceará (380 km de Fortaleza). Os preços cobrados pelo transporte assustam os desavisados.
Nos dois Estados, porém, quem vence os obstáculos se depara com verdadeiros paraísos ainda preservados. Em algumas praias, como a do Porto, em Barreiros (120 km de Recife), nem mesmo pescadores moram no local.
Para chegar a Porto, é preciso enfrentar nove quilômetros de estrada de terra, cortando canaviais, matas e coqueirais. No local, o mar é aberto, e a areia, clara e fina. Uma pequena ilha de pedra com apenas um coqueiro completa a paisagem.
Caminhando pela areia, ao norte, é possível alcançar Mamucambinhas. Esse, aliás, é o único meio de acesso livre à praia. A passagem por terra é proibida pelo dono da fazenda que circunda a área. Um vigilante controla a porteira da propriedade.
Também bonita e com ares selvagens é a praia de Guadalupe, em Rio Formoso (100 km de Recife). O local -uma enseada de mar calmo cercada por falésias- é usado por adeptos do camping. Mas um rastro de sujeira denuncia a má conservação da área.
O lixo também se acumula na praia sem infra-estrutura mais próxima de Recife, a do Paiva, em Cabo de Santo Agostinho (36 km da capital). Localizada dentro de uma fazenda com acesso livre, mas controlado, Paiva possui extensa faixa de areia. O mar não é recomendado para banhos devido aos tubarões.
Longe desse perigo, já próximo à divisa com o Estado de Alagoas, entre os municípios de Barreiros e São José da Coroa Grande, duas outras praias pouco conhecidas e com nomes parecidos são isoladas por manguezais: Várzea do Una e Barra do Una.
O acesso aos dois locais também é parecido e complicado. Para chegar à Várzea do Una, é preciso atravessar a pé um trecho de 50 metros de mangue, esgueirando-se entre as raízes que brotam da lama. Em Barra do Una, o trecho de água a ser vencido é de 500 metros nas marés altas.

Dunas móveis
No Ceará, chegar às praias menos conhecidas de Camocim também tem seu preço. Um passeio de 30 km, da sede do município até a praia de Tatajuba, custa R$ 155 para três pessoas.
No percurso, é possível ver dunas móveis de areia, mangues preservados, lagoas e praias desertas. "A gente sofre um pouco para chegar, pela falta de infra-estrutura, mas, se não fosse assim, acho que não existiria mais nada disso, estaria tudo destruído pelo excesso de procura", disse a turista carioca Aline Cunha, 25.
O turismo ainda não é a principal atividade econômica em Tatajuba. É apenas uma alternativa para os períodos em que a pesca não é rentável, como o de janeiro a abril, quando a captura da lagosta é proibida.
Não é por falta de interessados que a praia de Tatajuba ainda não foi invadida por investidores estrangeiros. A comunidade, formada por cerca de 200 famílias, se divide em três associações. Elas denunciam a tentativa de especulação imobiliária para a construção de um grande empreendimento no local.
Na sede de Camocim, onde ainda também predomina a pesca, investidores italianos começaram a construir um resort, que funcionará com um hotel de luxo.
O grupo italiano quer facilitar a chegada de turistas estrangeiros, com a melhoria da infra-estrutura do aeroporto de Parnaíba (PI), cidade próxima dali, de onde turistas europeus poderão desembarcar rumo ao litoral do Ceará.


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