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Lixo se mistura às belezas naturais de Bitupitá
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BARROQUINHA (CE)
A dificuldade do acesso à praia
de Bitupitá, no extremo oeste do
litoral cearense (a 409 km de Fortaleza), mantém o lugar preservado, um verdadeiro refúgio para os
turistas que querem algo desconhecido. Por outro lado, a falta de
infra-estrutura atrasa a vida dos
moradores, que vivem da pesca e
buscam na praia os poucos momentos de lazer.
A cada final de tarde, grande
parte dos quase 3.000 moradores
aparece na beira do mar. Os homens, para jogar futebol e ajeitar
as jangadas. As mulheres, para
conversar e cuidar dos filhos. As
crianças, para brincar.
Os brinquedos são improvisados -carrinhos feitos de latas de
óleo, bóias feitas de garrafas plásticas vazias. Mas a principal diversão está lá em abundância: o mar,
onde meninos e meninas se divertem até o anoitecer.
Último paraíso
A praia de Bitupitá fica num dos
municípios mais pobres do Ceará,
Barroquinha, que é dominado há
anos por uma mesma oligarquia.
As belezas naturais da praia, com
uma faixa de areia extensa e uma
área de mangue no Pontal das Almas, se misturam à sujeira produzida pelos próprios moradores,
que não têm coleta de lixo nem saneamento básico.
"Essa poderá ser a última chance de ver um local tão puro e tão
preservado para sua própria gente", disse a turista suíça Françoise
Tinguely. "Como em outros locais, aqui também está perto de
haver uma colonização turística",
afirmou o também suíço Beppe
Giusephe.
Para o casal, a divulgação de um
lugar tão escondido pode atrair os
olhares de investidores, especialmente os estrangeiros, que com
pouco dinheiro poderão se apropriar de Bitupitá e expropriar os
moradores para construir resorts
de luxo.
Consertando peixe
A menina Juliana Ferreira da
Silva, 14, que sonha ser médica,
afirma que o problema para ela e
para outros adolescentes e crianças da comunidade é a má qualidade do ensino.
Outra garota do local, Geissiane
de Sousa, 14, passou agora para a
5ª série do ensino fundamental,
mas não sabe ler nem escrever.
"Sei só soletrar as palavras. Mas
neste ano a professora disse que a
gente aprende a ler."
Lucineide Gomes Rocha, 18, ficou mesmo sem aprender. Estudou até a 2ª série e agora espera o
quarto filho. Sem marido e vivendo com a mãe, ela sustenta as
crianças "consertando" peixe,
uma das únicas formas de as mulheres da comunidade conseguirem alguma renda.
"Consertar" o peixe é tirar as escamas, limpá-lo e salgá-lo, preparando-o para o transporte. A cada
200 peixes, ela e outras mulheres
que fazem o serviço ganham R$
0,60. O pagamento é feito por semana e não passa de R$ 15.
"É desse jeito que a gente vive.
Não tenho sorte, porque nunca
consegui me cadastrar nesses
projetos do governo."
(KF)
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