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ADMINISTRAÇÃO
Ação lembra a da "cracolândia", onde hotéis lacrados funcionam às escondidas; tráfico migrou para ruas próximas
Prefeitura agora tenta limpar o Glicério
FABIO SCHIVARTCHE
THARSILA PRATES
DA REPORTAGEM LOCAL
A baixada do Glicério, uma das
áreas mais degradadas do centro
de São Paulo, passa nesta semana
a ser o novo alvo da administração José Serra (PSDB). O objetivo
da ação conjunta com a Polícia
Militar e a Guarda Civil Metropolitana é mudar o perfil da região.
Será uma ação semelhante à
realizada em 8 de março de 2005
na "cracolândia", no centro velho,
uma espécie de limpeza social.
Comércios ilegais e hotéis que
serviam de esconderijo ao tráfico
foram lacrados. Vendedores e
consumidores de drogas e prostitutas tiveram de se mudar.
Mas, 11 meses depois da ação
batizada de Operação Limpa, a
"cracolândia" segue ativa. Muitos
traficantes e consumidores apenas trocaram de endereço e continuam em regiões próximas.
Ontem, a Folha flagrou várias
pessoas consumindo crack nas
calçadas da "cracolândia" à luz do
dia, em locais como o largo Coração de Jesus. E alguns hotéis que
haviam sido lacrados estão funcionando às escondidas.
Diferentemente da "cracolândia", o problema principal no Glicério não é o tráfico de drogas,
mas o lixo. Há depósitos clandestinos, carroças dificultando a passagem, moradores acampados
entre pilhas de entulho nas calçadas e sujeira por todo lado, o que
atrai ratos e baratas para dentro
das casas e prédios residenciais.
O cheiro para quem anda pelas
ruas é insuportável. As montanhas de sacos de lixo também ajudam a camuflar ladrões, que praticam assaltos principalmente nos
semáforos do elevado que dá
acesso à avenida 23 de Maio.
O subprefeito da Sé, Andrea
Matarazzo, diz que os problemas
atuais da "cracolândia" são isolados. "A região não é mais o endereço do crime. Nossa ação foi vitoriosa. No Glicério também daremos continuidade ao trabalho
de limpeza para atrair a volta dos
bons comerciantes", diz ele.
Na primeira etapa, com apoio
das polícias Militar e Civil, serão
fechados estabelecimentos comerciais irregulares e depósitos
ilegais -como foi feito na "cracolândia". Depois, haverá a transferência das cooperativas de catadores de papel para um local mais
apropriado, seguido do recapeamento e limpeza das ruas.
Para o superintendente-geral da
Associação Viva o Centro, Marco
Antônio Ramos de Almeida, para
ter sucesso, a ação da prefeitura
deve ser contínua.
Já a urbanista Raquel Rolnik, secretária nacional de programas
urbanos do Ministério das Cidades, afirma que devem ser oferecidas moradias e empregos aos pobres da área. "Se não, você apenas
tira a pobreza de um lugar para
colocar no outro."
Realocação
A prefeitura pretende incentivar
que os catadores participem das
cooperativas que fazem a triagem
do lixo sob os viadutos do Glicério
-uma das primeiras etapas do
processo de reciclagem.
Hoje, há duas cooperativas operando legalmente no local. A Recifran, que emprega 90 pessoas e
comercializa 110 toneladas por
mês, e a Camari, com 18 carroceiros e 20 funcionários na triagem.
Matarazzo diz que negocia com
a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) a cessão de um terreno naquela região para realocar
a ampliar o espaço das cooperativas. "Se dermos oportunidade aos
catadores, eles podem dar um salto empresarial. É por isso que fizemos convênio com a Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo] para que eles comprem o produto da reciclagem
dessas cooperativas", afirma.
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