São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

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ADMINISTRAÇÃO

Ação lembra a da "cracolândia", onde hotéis lacrados funcionam às escondidas; tráfico migrou para ruas próximas

Prefeitura agora tenta limpar o Glicério

FABIO SCHIVARTCHE
THARSILA PRATES
DA REPORTAGEM LOCAL

A baixada do Glicério, uma das áreas mais degradadas do centro de São Paulo, passa nesta semana a ser o novo alvo da administração José Serra (PSDB). O objetivo da ação conjunta com a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana é mudar o perfil da região.
Será uma ação semelhante à realizada em 8 de março de 2005 na "cracolândia", no centro velho, uma espécie de limpeza social. Comércios ilegais e hotéis que serviam de esconderijo ao tráfico foram lacrados. Vendedores e consumidores de drogas e prostitutas tiveram de se mudar.
Mas, 11 meses depois da ação batizada de Operação Limpa, a "cracolândia" segue ativa. Muitos traficantes e consumidores apenas trocaram de endereço e continuam em regiões próximas.
Ontem, a Folha flagrou várias pessoas consumindo crack nas calçadas da "cracolândia" à luz do dia, em locais como o largo Coração de Jesus. E alguns hotéis que haviam sido lacrados estão funcionando às escondidas.
Diferentemente da "cracolândia", o problema principal no Glicério não é o tráfico de drogas, mas o lixo. Há depósitos clandestinos, carroças dificultando a passagem, moradores acampados entre pilhas de entulho nas calçadas e sujeira por todo lado, o que atrai ratos e baratas para dentro das casas e prédios residenciais.
O cheiro para quem anda pelas ruas é insuportável. As montanhas de sacos de lixo também ajudam a camuflar ladrões, que praticam assaltos principalmente nos semáforos do elevado que dá acesso à avenida 23 de Maio.
O subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, diz que os problemas atuais da "cracolândia" são isolados. "A região não é mais o endereço do crime. Nossa ação foi vitoriosa. No Glicério também daremos continuidade ao trabalho de limpeza para atrair a volta dos bons comerciantes", diz ele.
Na primeira etapa, com apoio das polícias Militar e Civil, serão fechados estabelecimentos comerciais irregulares e depósitos ilegais -como foi feito na "cracolândia". Depois, haverá a transferência das cooperativas de catadores de papel para um local mais apropriado, seguido do recapeamento e limpeza das ruas.
Para o superintendente-geral da Associação Viva o Centro, Marco Antônio Ramos de Almeida, para ter sucesso, a ação da prefeitura deve ser contínua.
Já a urbanista Raquel Rolnik, secretária nacional de programas urbanos do Ministério das Cidades, afirma que devem ser oferecidas moradias e empregos aos pobres da área. "Se não, você apenas tira a pobreza de um lugar para colocar no outro."

Realocação
A prefeitura pretende incentivar que os catadores participem das cooperativas que fazem a triagem do lixo sob os viadutos do Glicério -uma das primeiras etapas do processo de reciclagem.
Hoje, há duas cooperativas operando legalmente no local. A Recifran, que emprega 90 pessoas e comercializa 110 toneladas por mês, e a Camari, com 18 carroceiros e 20 funcionários na triagem.
Matarazzo diz que negocia com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) a cessão de um terreno naquela região para realocar a ampliar o espaço das cooperativas. "Se dermos oportunidade aos catadores, eles podem dar um salto empresarial. É por isso que fizemos convênio com a Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] para que eles comprem o produto da reciclagem dessas cooperativas", afirma.


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