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REPERCUSSÃO
Especialistas divergem sobre o aumento do rigor penal
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas consultados
pela Folha divergiram com relação à maior rigidez para a
progressão da pena e a punição
para uso de celulares em presídios, medidas aprovadas pela
Câmara dos Deputados.
O professor de direito da
PUC-SP Fernando Castelo
Branco, por exemplo, considera as mudanças positivas, mas
insuficientes. Já o presidente
da Fundação Interamericana
de Defesa dos Direitos Humanos, Hélio Bicudo, chamou as
alterações de "demagógicas".
FERNANDO CASTELO BRANCO,
professor de processo penal na
PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo:
"São medidas boas, que reconfortam a sociedade, mas de
caráter meramente protocolar.
A gente continua carecedor de
medidas efetivas, como resolver o problema do sistema prisional, das questões sociais, situações muito mais graves que,
mais uma vez, vão ser tangenciadas, para se tentar um efeito
pirotécnico, publicista"
PAULO AFONSO GARRIDO DE
PAULA, procurador de Justiça do
Ministério Público de São Paulo
"As medidas são positivas,
mas precisam ser aliadas a outras providências também necessárias, como definir responsabilidades. Os administradores dos sistemas devem ser responsabilizados por suas ações
inadequadas e omissões. Não
podemos imaginar que uma
criança ingresse na Febem
analfabeta e saia analfabeta"
CLÁUDIO BEATO, sociólogo do
centro de estudos de criminalidade e segurança da Universidade
Federal de Minas Gerais
"Apenas o endurecimento
das penas não adianta no âmbito legislativo. A questão crucial
é a estrutura institucional para
que tudo isso funcione. Nós somos um país de bacharéis, que
acha que criando as leis está resolvido o problema"
LUIZ FLAVIO BORGES D'URSO,
presidente da OAB-SP:
"A mudança na progressão
da pena tem o nosso apoio. O
prazo de um sexto da pena era
uma aberração, dava sensação
de impunidade. Também aprovamos as medidas relativas aos
celulares"
DENIS MIZNE, diretor-executivo
do Instituto Sou da Paz:
"As medidas aprovadas pelo
Congresso são boas, mas insuficientes. O que falta é discutir
como qualquer mudança pode
ser efetivamente aplicada"
HÉLIO BICUDO, presidente da
Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos:
"Todas as medidas que vêm
sendo discutidas apontam em
uma só direção: manter as pessoas mais tempo na prisão. Fala-se em entupir ainda mais os
presídios já superlotados, como
se isso fosse solução. Não é. O
incrível é que o Estado que nada faz para reinserir o preso na
sociedade quer piorar ainda
mais o tratamento. As propostas só servem para dar uma satisfação demagógica à população. Não resolverão a situação
da criminalidade"
ROSE NOGUEIRA, presidente do
Conselho Estadual de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana de
São Paulo:
"O que se está propondo é um
aumento da ação repressiva do
Estado, como se isso resolvesse. Não dá para continuarmos
com essa idéia de eliminação
daquilo que incomoda. E enfiar
cada vez mais gente na cadeia é
uma forma de eliminação"
CELSO LIMONGI, presidente do
Tribunal de Justiça de São Paulo:
"É um erro querer mudar a
legislação penal sob o impacto
do pânico. Até porque a lei penal trabalha com as conseqüências, não com as causas da criminalidade. É preciso que a sociedade se empenhe em mitigar
a desigualdade social. O simples aumento do rigor da lei só
aumenta o rancor e o desejo de
vingança"
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