São Paulo, sábado, 16 de fevereiro de 2008

Próximo Texto | Índice

Escuta revela modo de ação de PMs suspeitos de extermínio

Gravações, segundo a polícia, mostram coleta de informações para possíveis alvos

Soldado investigado por morte de coronel da PM, há um mês, disse que "tem que sentar o aço (atirar)" em supostos ladrões da área

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça Militar de São Paulo revelam o modo de atuação de policiais militares da zona norte de SP suspeitos de integrar um grupo de extermínio.
As gravações mostram, segundo a investigação, como esses PMs obtêm informações sobre seus possíveis alvos de ataque.
Com a ajuda da Polícia Federal, as escutas, pedidas pela Corregedoria da PM, mostram os policiais trocando informações sobre pessoas possivelmente envolvidas em crimes, como número de RG, ficha de antecedentes e placas de veículos. Com os dados, esses policiais, segundo a investigação da Corregedoria, iam atrás de fotos dos supostos criminosos para atacá-los nas ruas.
A investigação começou em julho de 2007. Dos policiais investigados, um está preso e é suspeito de envolvimento na morte do coronel José Hermínio Rodrigues há um mês. Os demais continuam trabalhando normalmente.
Em uma das gravações, de novembro, o soldado Paschoal dos Santos Lima conversa com outros policiais da zona norte para levantar dados de ao menos sete homens, que estariam envolvidos no roubo de uma moto e duas armas de outro PM da área, chamado Sérgio.
Nas conversas gravadas, o soldado pede para que o sargento Crispilho arrume número de RG e placas de carros e motos e diz que iria levantar as fotos dos suspeitos para ir atrás deles. Lima fala também que os suspeitos iriam ser pressionados "por um policial civil truta [amigo] do 73º DP [Jaçanã]", que cuidava do roubo da moto e das armas do PM Sérgio. Lima diz que "tem que sentar o aço nesse filha da puta [sic]".
Os grampos também mostram que os sete procurados são dos bairros Jardim Elisa Maria e Jardim Damasceno, ambos na zona norte e onde ocorreram chacinas em 2007.
A Corregedoria não se manifestou ontem sobre essa investigação. Ontem, o promotor Neudival Mascarenhas Filho, assessor da Procuradoria Geral de Justiça, passou a investigar se os sete homens pelos PMs no grampo foram mortos ou não.

Morte do coronel
Denunciado à Corregedoria da PM em 6 de julho de 2007 por suposto envolvimento na morte de Juarez Gomes Ribeiro, 36, o Pingo, em 29 de junho, Lima só foi preso nove dias após o assassinato do coronel.
Pingo, segundo a carta que denunciou Lima à Corregedoria, seria traficante e "estaria atrapalhando o jogo do bicho na zona norte". Pingo tinha passagens pela polícia por roubo e tráfico de drogas.
Por conta do assassinato de Pingo, foi aberto o Inquérito Policial Militar n.º 019/310/ 2007. Nele, consta que o soldado Lima e os sargentos Lelces André Pires de Moraes Júnior e José Rivanildo da Silva Sá são suspeitos do crime.
O homem que atirou no coronel calçava coturnos pretos, como os do uniforme da PM. Rodrigues, que comandava 3.000 PMs na região norte, combatia policiais violentos e essa é principal linha de investigação para a motivação de sua morte.
No dia da morte do coronel, o tenente Paulo Sérgio de Melo, da Corregedoria da PM, enviou documento à Justiça Militar pedindo que os três policiais suspeitos da morte de Pingo também fossem investigados pela morte do coronel. "A suspeita é reforçada pelo fato de o oficial vitimado ser o comandante dos suspeitos."


Colaboraram KLEBER TOMAZ E LUIS KAWAGUTI, da Reportagem Local


Próximo Texto: Não tenho nada com isso, diz sargento investigado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.