|
Próximo Texto | Índice
Escuta revela modo de ação de PMs suspeitos de extermínio
Gravações, segundo a polícia, mostram coleta de informações para possíveis alvos
Soldado investigado por morte de coronel da PM, há um mês, disse que "tem que sentar o aço (atirar)" em supostos ladrões da área
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça Militar de São
Paulo revelam o modo de atuação de policiais militares da zona norte de SP suspeitos de integrar um grupo de extermínio.
As gravações mostram, segundo a investigação, como esses
PMs obtêm informações sobre
seus possíveis alvos de ataque.
Com a ajuda da Polícia Federal, as escutas, pedidas pela
Corregedoria da PM, mostram
os policiais trocando informações sobre pessoas possivelmente envolvidas em crimes,
como número de RG, ficha de
antecedentes e placas de veículos. Com os dados, esses policiais, segundo a investigação da
Corregedoria, iam atrás de fotos dos supostos criminosos
para atacá-los nas ruas.
A investigação começou em
julho de 2007. Dos policiais investigados, um está preso e é
suspeito de envolvimento na
morte do coronel José Hermínio Rodrigues há um mês. Os
demais continuam trabalhando normalmente.
Em uma das gravações, de
novembro, o soldado Paschoal
dos Santos Lima conversa com
outros policiais da zona norte
para levantar dados de ao menos sete homens, que estariam
envolvidos no roubo de uma
moto e duas armas de outro PM
da área, chamado Sérgio.
Nas conversas gravadas, o
soldado pede para que o sargento Crispilho arrume número de RG e placas de carros e
motos e diz que iria levantar as
fotos dos suspeitos para ir atrás
deles. Lima fala também que os
suspeitos iriam ser pressionados "por um policial civil truta
[amigo] do 73º DP [Jaçanã]",
que cuidava do roubo da moto e
das armas do PM Sérgio. Lima
diz que "tem que sentar o aço
nesse filha da puta [sic]".
Os grampos também mostram que os sete procurados
são dos bairros Jardim Elisa
Maria e Jardim Damasceno,
ambos na zona norte e onde
ocorreram chacinas em 2007.
A Corregedoria não se manifestou ontem sobre essa investigação. Ontem, o promotor
Neudival Mascarenhas Filho,
assessor da Procuradoria Geral
de Justiça, passou a investigar
se os sete homens pelos PMs no
grampo foram mortos ou não.
Morte do coronel
Denunciado à Corregedoria
da PM em 6 de julho de 2007
por suposto envolvimento na
morte de Juarez Gomes Ribeiro, 36, o Pingo, em 29 de junho,
Lima só foi preso nove dias
após o assassinato do coronel.
Pingo, segundo a carta que
denunciou Lima à Corregedoria, seria traficante e "estaria
atrapalhando o jogo do bicho
na zona norte". Pingo tinha
passagens pela polícia por roubo e tráfico de drogas.
Por conta do assassinato de
Pingo, foi aberto o Inquérito
Policial Militar n.º 019/310/
2007. Nele, consta que o soldado Lima e os sargentos Lelces
André Pires de Moraes Júnior e
José Rivanildo da Silva Sá são
suspeitos do crime.
O homem que atirou no coronel calçava coturnos pretos, como os do uniforme da PM. Rodrigues, que comandava 3.000
PMs na região norte, combatia
policiais violentos e essa é principal linha de investigação para
a motivação de sua morte.
No dia da morte do coronel, o
tenente Paulo Sérgio de Melo,
da Corregedoria da PM, enviou
documento à Justiça Militar
pedindo que os três policiais
suspeitos da morte de Pingo
também fossem investigados
pela morte do coronel. "A suspeita é reforçada pelo fato de o
oficial vitimado ser o comandante dos suspeitos."
Colaboraram KLEBER TOMAZ E LUIS KAWAGUTI, da Reportagem Local
Próximo Texto: Não tenho nada com isso, diz sargento investigado Índice
|