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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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JUSTIÇA SOB AMEAÇA

Secretário aponta "um certo profissionalismo" de autores do assassinato de juiz em Presidente Prudente

Pacote reforça segurança de juízes em SP

Jorge Santos/"Oeste Notícias"
O velório do juiz Antonio José Machado Dias ontem em Presidente Prudente (SP)


ANDRÉ NICOLETTI
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 250 juízes de execução criminal de São Paulo terão a segurança pessoal reforçada por tempo integral. A medida foi anunciada ontem pelo presidente do Tribunal de Justiça do Estado, o desembargador Sergio Augusto Nigro Conceição. Outra ação preventiva diz respeito à identidade dos magistrados. As decisões de execução criminal serão publicadas sem o nome do juiz responsável.
O pacote foi divulgado pelo desembargador ontem, enquanto aguardava a chegada do corpo do juiz-corregedor Antonio José Machado Dias, 47, assassinado ontem em Presidente Prudente (565 km de São Paulo).
"O interessado tomará conhecimento de quem proferiu essa ou aquela decisão na verificação do processo. A pessoa que pedir o processo para examinar será identificada e efetivamente a partir daí ficaríamos atentos a tudo o que acontecesse em relação àquele processo e àquele juiz", disse.
O desembargador determinou a transferência da responsabilidade pela corregedoria de presídios de Presidente Prudente para a capital. Com relação à segurança, os juízes não poderão dispensar as escoltas, como fez Dias.
O juiz foi assassinado anteontem a tiros, após deixar o Fórum de Presidente Prudente. Dias era responsável pelos processos de Fernandinho Beira-Mar e dos principais líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) que estão detidos na penitenciária de Presidente Bernardes.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) lamentou ontem a morte do juiz e disse que o crime não vai antecipar a transferência do traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, para outro Estado.
"Isso [o assassinato do juiz" não muda o prazo de 30 dias que havia dado para que Beira-Mar permanecesse no Estado de São Paulo."
Sobre a autoria do crime, ele disse que espera a investigação. "Não podemos afirmar se teve ou não relação com o tráfico. Estamos investigando e isso vai ser esclarecido", disse.
"É lamentável que isso tenha ocorrido, mas já estamos apurando o caso com todo o rigor. Vamos pegar esses criminosos."
O secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, afirmou que, desde ontem à noite, equipes de reforço do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) e do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) estão investigando o caso. Dois retratos falados dos suspeitos do crime foram divulgados ontem.
O secretário da Segurança Pública disse que seria "especulação" comentar se o caso tem ou não relação com o Beira-Mar.
Segundo o secretário, a maneira como o assassinato foi cometido demonstra "certo profissionalismo" por parte dos criminosos.
"As armas usadas, a maneira como o crime foi cometido, demonstra que os assassinos não eram amadores", afirmou.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse ontem que não existe nenhuma confirmação de que o assassinato do juiz tenha alguma ligação com Beira-Mar.
Segundo ele, o fato mostra que o crime organizado está crescendo no país. Bastos disse veio a São Paulo a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o ministro, caso se confirme alguma relação do crime com Beira-Mar, isso será considerado uma afronta ao governo.
"O governo dará uma resposta, e ele [Beira-Mar" vai pagar por mais esse crime. Não podemos fazer do presídio um escritório de criminoso", disse. Para ele, "faz muito tempo que o governo federal não luta organizadamente contra o crime organizado e que este governo o fará."
O secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, disse que o Fiat Uno foi roubado em São Paulo e teve as placas trocadas em Presidente Prudente. "Isso poderia indicar um planejamento da ação. Não se sabe ainda de que grupo teria sido", disse.
Segundo Furukawa, houve comemoração por parte de presos em alguns presídios da região de Presidente Prudente quando souberam da morte do juiz.

Beira-Mar

Um dos advogados de Beira-Mar, Lídio da Hora, disse ontem que é "absurdo" dizer que seu cliente tenha mandado o juiz. "Ele nunca presidiu nenhum processo contra Beira-Mar", disse.
"Agora tudo o que acontece é culpa de Fernando. Daqui a pouco vão jogar uma bomba no Iraque e dizer que a culpa é de Fernando, que se aliou com Bush", ironizou o advogado.


Colaboraram a SUCURSAL DO RIO e REGIONAIS

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