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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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Velório no interior de SP reúne 3.000

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O velório do corpo do juiz Antonio José Machado Dias, assassinado anteontem em Presidente Prudente, foi marcado por grande comoção e reuniu cerca de 3.000 pessoas, segundo a Polícia Militar.
O corpo foi translado da sede local da OAB até o aeroporto de Presidente Prudente em carro aberto do Corpo de Bombeiros. De lá seguiu para a capital.
Anteontem, a Polícia Federal escoltou juízes e promotores que lecionavam na Faculdades Toledo. Por volta das 21h30, eles se reuniram no fórum da cidade para discutir o assassinato de Dias, mas não deram declarações.
O comandante do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Carlos do Amaral da Silva, disse que o translado do corpo do juiz em carro aberto foi uma última homenagem prestada pela corporação ao juiz que, segundo ele, era muito querido e respeitado pelos moradores da cidade.
A segunda mulher do juiz, a também juíza Cristina Escher, ficou o tempo todo do lado do corpo do marido. Ela chorava muito.

Família
O tio do juiz, o advogado e pecuarista Adilson Dias, que mora em Campo Grande, disse que havia passado a tarde de anteontem no fórum com o sobrinho e que ele estava muito tranquilo.
"Nestes anos todos, ele nunca demonstrou medo e nem comentou sobre ameaças. Ele também não gostava de escolta", afirmou.
O irmão do juiz, o médico Adolfo Machado Dias, que mora em Assis (SP), disse que sempre falava para o irmão para que tivesse cuidado. Ele afirmou que o juiz andava, sempre que possível, escoltado. Adolfo Machado disse que, em sua opinião, tudo indica que o irmão foi assassinado a mando do crime organizado.

Insegurança
O promotor das execuções penais, Mário Coimbra, disse que o Estado de Direito foi humilhado.
"O assassinato do juiz foi uma demonstração de força típica do crime organizado, que não se submete ao poder público", afirmou.
O prefeito de Presidente Prudente, Agripino Lima (PTB), disse ter certeza de que haverá mais crimes na região. "Na capital, os criminosos estão acostumados a corromper as autoridades. No interior, eles não têm essa liberdade de atuação. Então acontece esse tipo de coisa", afirmou o prefeito.
Agripino Lima também reclamou da construção de presídios na região de Presidente Prudente.
"Em vez de sermos contemplados com saúde, educação ou industrialização, recebemos oito presídios e mais de dez mil detentos", disse Agripino Lima.
Segundo o prefeito, o efetivo da PM na cidade não é suficiente para assegurar a segurança da população. "Estamos há três anos pedindo reforço no policiamento. O que eles fizeram? Transferiram o comando da PM para Bauru", reclamou Agripino Lima.

Fora Beira-Mar
Ontem, uma manifestação no centro de Presidente Prudente pediu a transferência do traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, do CRP (Centro de Reabilitação Penitenciária) da cidade vizinha de Presidente Bernardes.
Segundo os organizadores, a manifestação reuniu cerca de 300 pessoas. "Exigimos do governo do Estado que Beira-Mar não permaneça aqui além do dia 29", disse o presidente da organização não-governamental Proderp (Núcleo de Desenvolvimento da Região de Presidente Prudente), Álvaro Barboza.
Segundo o presidente do Proderp, a população ficou "mais alarmada" depois do assassinato do juiz. "Nunca tínhamos visto nada desse tipo na região. Não estamos acostumados com esse requinte. Somos uma cidade do interior, onde ainda se pode dormir de janelas abertas", disse Barboza.
Em Presidente Bernardes, a diretoria de segurança do CRP afirmou que a rotina continua a mesma no presídio.
Ainda de acordo com a diretoria de segurança, não há informação de que o assassinato do juiz tenha sido articulado dentro do CRP.


Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Agência Folha


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