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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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JUSTIÇA SOB AMEAÇA

Presidente do Senado e secretário-geral da CNBB afirmam que país poderá se igualar à Colômbia

Crime organizado acua o país, diz Sarney

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou estar "perplexo" com o assassinato do juiz Antonio José Machado Dias. Ele disse acreditar que a situação brasileira, se continuar no ritmo atual, levará o país a se igualar à Colômbia, que, segundo ele, sofre uma infiltração do narcotráfico nas diversas esferas da administração pública.
"Verifica-se com este assassinato a profundidade da insegurança no país, que a infiltração de métodos do crime organizado nas esferas públicas já acuam nosso país como acuaram a Colômbia, que só está na situação em que está porque as forças do narcotráfico infiltraram-se, paralisaram e atemorizaram o Judiciário."
Segundo Sarney, o assassinato do juiz Antonio José Machado Dias representa um "alarme" para que a questão da segurança seja tratada com a devida prioridade.
O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Raymundo Damasceno, tem a mesma opinião. Ele afirmou que a situação da segurança pública no país se assemelha à que ele viu quando esteve na Colômbia, entre 1991 e 1995.
"É uma situação bastante parecida. Lá, mais de 200 juízes foram assassinados pelo crime organizado", disse.
Segundo Damasceno, o crime "avança e ganha terreno" no país, sendo que, para mudar isso, seria fundamental uma resposta "dura, corajosa e rigorosa" do governo ao assassinato do juiz.
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Marco Aurélio de Mello, acredita que o assassinato de Antonio José Machado Dias tenha relação com sua função de juiz-corregedor.
Apesar disso, diz que, por ora, é "presunção" acreditar que o traficante Fernandinho Beira-Mar esteja ligado ao crime.
"De qualquer forma, isso mostra a inoperância do sistema [carcerário". Beira-Mar foi transferido de um presídio de segurança máximo para outro, como se isso fosse solução. Há algo que precisa ser corrigido", afirmou Mello. Ele qualificou o crime como hediondo. "Ele foi pego de surpresa, sem a menor chance de reagir."
Segundo Mello, a morte do juiz-corregedor é um sinal de que se chegou a um ponto intolerável. "Se cumprir a lei e fazer cumprir a lei implicam risco de vida, estamos muito mal."
Para Perly Cipriano, diretor da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, é necessário apurar o crime o mais rapidamente possível para esclarecer uma eventual relação entre o assassinato do juiz e o crime organizado.
Cipriano, que é ex-secretário da Justiça do Espírito Santo - onde ficou provada a relação entre o crime organizado e as autoridades estaduais-, disse que esses grupos criminosos costumam ter vinculação com setores organizados da sociedade e até com o autoridades. Esses motivos reforçam, segundo ele, a necessidade de uma apuração rápida e precisa.
Para o presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Paulo Sérgio Domingues, os trabalhos de investigação não podem terminar com a apuração da morte de juiz-corregedor.
"Temos que cortar o mal pela raiz. É preciso acabar com as cabeças do crime organizado. E elas não estão nos morros. Estão nos esquemas de lavagem de dinheiro e de tráfico e armas", disse.
A solução, segundo o juiz federal, é a reestruturação da polícia: "Uma polícia sucateada não consegue investigar. Além disso, não temos nem sequer um cadastro nacional de pessoas que estão sendo processadas, condenadas e foragidas. Isso favorece o crime organizado".
Domingues conheceu o juiz assassinado em 1997, quando trabalhou em Presidente Prudente.



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