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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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Assassinato é apontado como "gravíssimo"

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O assassinato do juiz Antonio José Machado Dias foi considerado um episódio gravíssimo, que aponta para uma tentativa de intimidação do crime organizado contra a sociedade, embora não se tenha certeza sobre a autoria.
É o que dizem policiais federais, advogados criminalistas, juízes e autoridades da área de segurança pública ouvidos pela Folha.
O secretário da Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, Astério Pereira de Souza, disse não ter dúvidas da ação do crime organizado. Comparou o caso aos assassinatos de magistrados na Colômbia (pelo narcotráfico) e na Itália (pela máfia).
Souza é responsável pelo controle do sistema penitenciário de Bangu. Até ser transferido para o presídio de Presidente Bernardes (na alçada do juiz morto), o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, cumpria pena em Bangu 1.
O diretor da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Federal, delegado Getúlio Bezerra, disse que, embora não se saiba de onde partiu o ataque ao juiz, a morte pode ser uma ação organizada contra uma autoridade que o combatia o crime.
"É uma audácia muito grande matar um juiz, uma tentativa de intimidação. Mas pode acabar tendo um efeito reverso, de mobilização ainda maior da sociedade e da magistratura contra o crime organizado", afirmou o delegado.
O ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior disse que é prematuro concluir a autoria do crime, e que alguém pode ter matado o juiz para culpar Beira-Mar.
"Quem estava pensando em matar o juiz poderia estar pensando nisso. Nesse clima de emocionalismo, é fácil ligar o crime a Beira-Mar. Recentemente houve outros casos em que se imaginava um certo motivo para um crime e na verdade era outro."
O coronel PM Jorge da Silva, presidente do Instituto de Segurança Pública do Rio, também considera cedo para atribuir o crime a Beira-Mar.
O senador Magno Malta (PL-ES), que presidiu a última CPI do Narcotráfico na Câmara, quando era deputado, disse que esse crime é do estilo do que está acontecendo na Colômbia. "Nós entramos num Estado de exceção e precisamos de uma legislação específica", disse.
O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Miguel Pachá, disse ser necessário investigar a verdadeira motivação do caso.
"Se o motivo do crime tiver sido mesmo represália de marginais presos, devemos nos lembrar da Itália, onde o Judiciário desencadeou a Operação Mãos Limpas, e as mortes de alguns juízes fizeram com que o Judiciário se unisse para combater o crime organizado."
A Associação dos Magistrados do Estado do Rio divulgou nota intitulada "Colômbia ou Brasil?". Afirma que o assassinato é um atentado contra o Estado democrático de Direito. A entidade informa que apresentará ao Tribunal de Justiça um plano de emergência preventivo para segurança dos juízes do Rio de Janeiro.


Colaborou FABIANA CIMIERI, free-lance para a Folha


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