São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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JUVENTUDE ENCARCERADA

Processo de desativação começa ainda neste mês, antes de o presidenciável Alckmin deixar o cargo

Ano eleitoral apressa fim da Febem Tatuapé

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O processo de desativação do complexo da Febem no Tatuapé, zona leste de São Paulo, e de construção de um parque no mesmo espaço vai começar antes que o governador Geraldo Alckmin deixe o cargo, no final deste mês, para concorrer à Presidência da República pelo PSDB.
No ano passado, quando o quadro eleitoral estava indefinido, Alckmin chegou a afirmar que a desativação do complexo poderia ficar para o próximo governador.
Pelo menos o edital para a construção do parque vai ser publicado neste mês. O começo da demolição dos prédios deve ocorrer entre o final de março e o começo de abril, segundo representantes do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança), da prefeitura e de moradores da região, que participaram de uma reunião ontem, na sede da Febem.
A desativação do complexo era uma das promessas do governo Alckmin. Em março de 2005, o governador anunciou o fechamento, em cinco meses, de 8 das 18 unidades do Tatuapé. Mas o plano de construção de unidades no interior atrasou e, em outubro, sem nenhum prédio do Tatuapé desativado, o governador admitiu que o problema poderia ficar para o seu sucessor.
Ontem pela manhã, o vice-presidente da Febem, Mansueto Lunardi, se reuniu com membros da comunidade, Subprefeitura da Mooca e Polícia Militar. Três pessoas que estavam nessa reunião afirmaram à Folha ter ouvido as mesmas informações: a entrada de internos no complexo foi suspensa, o edital para a obra deveria ser publicado ainda neste mês e a demolição dos prédios será iniciada a curto prazo.
Lunardi não quis falar com a reportagem. A assessoria da Febem confirmou parte das informações. Para os participantes da reunião, a Febem teria evitado confirmar os detalhes da desativação do complexo porque estaria planejando um anúncio oficial, com a participação de Alckmin.
Segundo a fundação, a demolição dos prédios deve começar em, no máximo, 30 dias. Mas a instituição disse que a publicação do edital para a construção do parque não tem data, apesar de admitir que pode ocorrer ainda em março. A Febem negou, no entanto, que a entrada dos internos no complexo tenha sido suspensa. Isso só deve ocorrer, segundo a fundação, quando forem concluídas as obras de uma unidade em Campinas, para onde parte dos adolescentes será transferida.
"Antes era de boca. Agora, vimos os papéis. Parece que a coisa vai andar", afirmou Norberto Mensório, presidente do Conseg do Belém, que esteve na reunião na sede da Febem. "Se ele não cumprisse essa promessa, toda a oposição iria apedrejá-lo. Promessa não cumprida em ano eleitoral vira pecado capital para o eleitor", afirmou.
Ontem, representantes de entidades de direitos humanos, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e da associação de mães de internos vistoriaram três unidades do complexo do Tatuapé. As entidades afirmam ter encontrados vários adolescentes trancafiados e com marcas de agressões.
O relatório será encaminhado à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos.
A Febem afirma que os internos ficaram feridos em um confronto com funcionários durante uma tentativa de fuga, na última sexta-feira. Segundo a fundação, internos agrediram o diretor de uma das unidades.


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