São Paulo, sexta-feira, 16 de março de 2007

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PMs são acusados de invadir casas após avião ser saqueado

Foram retirados R$ 5,56 milhões de avião que caiu em São Sebastião do Passé (BA)

Segundo moradores, sem mandado, policiais invadem casas e os ameaçam para encontrar valor; R$ 403.540 já foram recuperados

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ (BA)

Um dia após a queda de um bimotor que transportava R$ 5,56 milhões, moradores de duas localidades de São Sebastião do Passé (61 km de Salvador) acusaram ontem policiais militares de, sem mandado judicial, invadirem algumas casas para tentar encontrar parte do dinheiro que foi saqueado por cerca de 120 pessoas.
As buscas se concentram no povoado de Maracangalha (cerca de 140 moradias) e em um acampamento sem-terra (80 barracos), a menos de um quilômetro do local do acidente. Até as 19h de ontem, R$ 403.540 haviam sido recuperados. À noite, autoridades policiais decidiram estender as buscas a outras cidades vizinhas de São Sebastião do Passé. Ao todo, 190 policiais civis e militares estão nessa operação.
"Os policiais estão barbarizando, invadindo as nossas casas e vasculhando tudo", disse um aposentado, que não se identificou. "Batem à nossa porta e perguntam pelo dinheiro, provocando pavor na gente", afirmou a dona-de-casa Maria Célia de Jesus. A PM nega (leia texto nesta página).
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou que o avião saiu de Petrolina (PE) com destino a Salvador.
Os quatro ocupantes da aeronave morreram -Renildo Moraes dos Santos, 66, Armando Dantas Ferreira, 57, e Genésio Barbosa, 41, funcionários da Nordeste Segurança (empresa responsável pelo transporte do dinheiro) e o piloto José Leão Bezerra de Araújo, 55.
Os depoimentos de oito pessoas que confessaram à delegada Andréa Gonçalves Cardoso participação nos saques revelam que a ação foi rápida. "Vinha gente correndo de todo lado. Alguns malotes foram rasgados, o dinheiro voou e as pessoas corriam atrás", disse o agricultor Adenilson Ferreira dos Santos, que devolveu R$ 2.400 que havia saqueado.
"Apareceu um monte de gente e todos queriam o dinheiro. Os mais espertos conseguiram pegar muito", contou o vaqueiro Joel dos Santos, que contou ter enterrado R$ 51.290.
No início da tarde, antes de devolver o dinheiro, o vaqueiro acusou PMs de envolvimento nos saques. "Dei para três ou quatro policiais pacotes com até R$ 10 mil." Os agentes também encontraram dinheiro em fogões, armários e banheiros.
O movimento foi intenso durante todo o dia na delegacia de São Sebastião do Passé. Convencidos por familiares ou policiais a devolver o dinheiro, pelo menos 15 pessoas estiveram no local. "Trouxeram o dinheiro em sacos plásticos, páginas de jornal ou mesmo em bolsos de calças", disse a delegada Maria Salete Campos do Amaral.
Poucas horas após a queda da aeronave da Bata (Bahia Táxi Aéreo), policiais localizaram R$ 81,7 mil enterrados no quintal de uma casa abandonada, em Maracangalha.
Para proteger as cédulas, o saqueador as enrolou em um lençol. "Recebemos uma denúncia anônima de dois moradores do povoado", disse o delegado Joelson dos Santos Reis, diretor-adjunto do Departamento de Polícia do Interior.
Depois do saque, pelo menos 15 dos 80 barracos do acampamento de sem-terras estavam vazios, segundo a PM.
"Estamos trabalhando com várias hipóteses. Uma delas é que as pessoas que conseguiram saquear alguns malotes tenham fugido", disse a delegada.
Os sem-terra negam o saque. "Eles [os policiais] desconfiam da gente porque somos pobres", disse o sem-terra Antonio Jacinto.
A Nordeste Segurança informou que o dinheiro pertencia a vários bancos que costumam fretar aviões em conjunto para transportar grandes valores. Em nota, a empresa disse que a aeronave preenchia todas as condições de segurança.
Peritos trabalham com duas hipóteses para a queda da aeronave -pane seca (falta de combustível) ou falha humana. Os resultados da perícia devem sair em 30 dias.


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