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PMs são acusados de invadir casas após avião ser saqueado
Foram retirados R$ 5,56 milhões de avião que caiu em São Sebastião do Passé (BA)
Segundo moradores, sem mandado, policiais invadem casas e os ameaçam para encontrar valor; R$ 403.540 já foram recuperados
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO SEBASTIÃO
DO PASSÉ (BA)
Um dia após a queda de um
bimotor que transportava R$
5,56 milhões, moradores de
duas localidades de São Sebastião do Passé (61 km de Salvador) acusaram ontem policiais
militares de, sem mandado judicial, invadirem algumas casas
para tentar encontrar parte do
dinheiro que foi saqueado por
cerca de 120 pessoas.
As buscas se concentram no
povoado de Maracangalha (cerca de 140 moradias) e em um
acampamento sem-terra (80
barracos), a menos de um quilômetro do local do acidente.
Até as 19h de ontem, R$
403.540 haviam sido recuperados. À noite, autoridades policiais decidiram estender as
buscas a outras cidades vizinhas de São Sebastião do Passé.
Ao todo, 190 policiais civis e militares estão nessa operação.
"Os policiais estão barbarizando, invadindo as nossas casas e vasculhando tudo", disse
um aposentado, que não se
identificou. "Batem à nossa
porta e perguntam pelo dinheiro, provocando pavor na gente", afirmou a dona-de-casa
Maria Célia de Jesus. A PM nega (leia texto nesta página).
A Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) informou que o
avião saiu de Petrolina (PE)
com destino a Salvador.
Os quatro ocupantes da aeronave morreram -Renildo Moraes dos Santos, 66, Armando
Dantas Ferreira, 57, e Genésio
Barbosa, 41, funcionários da
Nordeste Segurança (empresa
responsável pelo transporte do
dinheiro) e o piloto José Leão
Bezerra de Araújo, 55.
Os depoimentos de oito pessoas que confessaram à delegada Andréa Gonçalves Cardoso
participação nos saques revelam que a ação foi rápida. "Vinha gente correndo de todo lado. Alguns malotes foram rasgados, o dinheiro voou e as pessoas corriam atrás", disse o
agricultor Adenilson Ferreira
dos Santos, que devolveu R$
2.400 que havia saqueado.
"Apareceu um monte de gente e todos queriam o dinheiro.
Os mais espertos conseguiram
pegar muito", contou o vaqueiro Joel dos Santos, que contou
ter enterrado R$ 51.290.
No início da tarde, antes de
devolver o dinheiro, o vaqueiro
acusou PMs de envolvimento
nos saques. "Dei para três ou
quatro policiais pacotes com
até R$ 10 mil." Os agentes também encontraram dinheiro em
fogões, armários e banheiros.
O movimento foi intenso durante todo o dia na delegacia de
São Sebastião do Passé. Convencidos por familiares ou policiais a devolver o dinheiro, pelo
menos 15 pessoas estiveram no
local. "Trouxeram o dinheiro
em sacos plásticos, páginas de
jornal ou mesmo em bolsos de
calças", disse a delegada Maria
Salete Campos do Amaral.
Poucas horas após a queda da
aeronave da Bata (Bahia Táxi
Aéreo), policiais localizaram
R$ 81,7 mil enterrados no quintal de uma casa abandonada,
em Maracangalha.
Para proteger as cédulas, o
saqueador as enrolou em um
lençol. "Recebemos uma denúncia anônima de dois moradores do povoado", disse o delegado Joelson dos Santos Reis,
diretor-adjunto do Departamento de Polícia do Interior.
Depois do saque, pelo menos
15 dos 80 barracos do acampamento de sem-terras estavam
vazios, segundo a PM.
"Estamos trabalhando com
várias hipóteses. Uma delas é
que as pessoas que conseguiram saquear alguns malotes tenham fugido", disse a delegada.
Os sem-terra negam o saque.
"Eles [os policiais] desconfiam
da gente porque somos pobres", disse o sem-terra Antonio Jacinto.
A Nordeste Segurança informou que o dinheiro pertencia a
vários bancos que costumam
fretar aviões em conjunto para
transportar grandes valores.
Em nota, a empresa disse que a
aeronave preenchia todas as
condições de segurança.
Peritos trabalham com duas
hipóteses para a queda da aeronave -pane seca (falta de combustível) ou falha humana. Os
resultados da perícia devem
sair em 30 dias.
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