São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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Endereço exclui do mercado de trabalho

DA SUCURSAL DO RIO

Dados do "Mapa do Fim da Fome 2" indicam que os favelados do Rio são estigmatizados no mercado de trabalho.
Com base na renda dos habitantes da favela da Rocinha, palco da recente guerra do tráfico no Estado, o estudo descobriu que um não-favelado com as mesmas características de sexo, raça, idade e nível de escolaridade ganha até 90% a mais se morar na Lagoa. Se morar na Barra da Tijuca, o não-favelado recebe 78% a mais e, em Copacabana, 74% a mais.
"Possivelmente, a origem é fator preponderante nesse caso. Para um favelado é mais difícil se inserir no mercado de trabalho. Muitas vezes, ele é obrigado a omitir sua origem para conseguir um emprego", diz o economista Marcelo Neri, coordenador do CPS.
O estudo da FGV é uma radiografia da qualidade de vida e da pobreza no Estado e no município do Rio. No Estado, as cidades mais pobres são São Francisco de Itabapoana (norte fluminense), com 44,7% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza (ganho mensal inferior a R$ 79 per capita), e Japeri (Baixada Fluminense), com 41,7%.

Análise
A novidade é que a pesquisa analisou a pobreza e a qualidade de vida por áreas da capital do Estado, que foi dividida em 32 subdistritos. A análise permitiu a localização física das regiões com condições sociais adversas.
Os três subdistritos mais pobres da capital são Complexo do Alemão, com 29,4% de miseráveis, Santa Cruz (27,6%) e Jacarezinho (27,4%). Os três mais ricos são Botafogo, Copacabana e Lagoa -todos com menos de 4% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza.
O estudo compara ainda as cinco regiões com mais alta renda (Lagoa, Barra da Tijuca, Botafogo, Copacabana e Tijuca) com as cinco maiores favelas do Rio (Alemão, Jacarezinho, Cidade de Deus, Maré e Rocinha).
Em comparação com os trabalhadores das áreas mais ricas, os moradores dessas favelas trabalham mais e ganham menos. A renda média mensal é de R$ 405 ante R$ 2.145 no asfalto. Ao mesmo tempo, a jornada semanal média de trabalho é de 46 horas nas favelas -cinco horas a mais do que a das regiões de alta renda.
O estudo mostra que, em média, um trabalhador do Alemão ou da Maré ganha R$ 2 por hora trabalhada, enquanto um ocupado da Lagoa, R$ 11,8.
A taxa de desemprego também é maior nas favelas, chegando a 19%, ante 10% nas áreas mais ricas. Outro fator é a relação entre renda e a taxa de escolaridade. Cada ano a mais de estudo rende aos ocupados das área ricas mais dinheiro do que para os pobres.
Por ano, os ricos recebem mais R$ 180,5; os pobres, R$ 65,9. Em média, os habitantes dos subdistritos mais ricos têm 11,9 anos completos de estudo contra 6,2 nas comunidades de baixa renda.


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