São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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BARBARA GANCIA

Boca no trombone, ministro Celso Amorim!

Nestes dias, caiu em minhas mãos uma fita de vídeo de arrepiar até os cabelos mais ocultos. Sem exagero, o material que ela contém pode ser tão danoso ao Brasil quanto foram para os madrilenhos as bombas nos trens.
Em formato de documentário e feito para ser apresentado em canais de TV estatal da França e da Alemanha, o vídeo começa mostrando uma usina não-identificada de cana-de-açúcar no interiorzão de Pernambuco. Enquanto a câmera exibe a precariedade das instalações, um narrador explica que uma das razões que fazem o açúcar tapuia ser tão barato é a falta de investimentos em equipamentos antipoluentes.
Em seguida, é apresentado um punhado de entrevistas com trabalhadores rurais da usina não-identificada. Todos contam histórias pavorosas de privação e afirmam viver em um regime de semi-escravidão.
O ponto alto do programa é o depoimento de Hans-Jörg Gebhard, presidente do Conselho de Administração da Sudzücker, maior empresa produtora de açúcar da Alemanha.
Herr Gebhard nem sequer pisca quando diz que a Europa não deve abrir suas fronteiras ao açúcar brasileiro. Segundo ele, isso não ajudaria nossos pequenos produtores ou trabalhadores rurais, uma vez que as usinas de açúcar estão nas mãos de "um clube fechadíssimo" de 250 famílias, que prefere "torrar seu dinheiro em Miami". O executivo finaliza dizendo que o europeu precisa "estar consciente e saber se aceita ou não essa situação".
Pois nós brazucas também precisamos ter consciência dos fatos. Devemos saber que os mercados europeu e norte-americano são fechados aos nossos produtos agrícolas. Exportamos a outros países o açúcar de cana por cerca de US$ 250 a tonelada. Enquanto isso, na Europa, o açúcar de beterraba é vendido a US$ 750 pela mesmíssima tonelada. E o que é pior: os excessos da produção européia acabam vendidos, por preço inferior ao nosso, nos poucos mercados mundiais a que temos acesso.
A diferença é paga pelos subsídios que a Europa oferece à sua agricultura. E como esses subsídios são imorais e diretamente responsáveis pela fome e a pobreza no Terceiro Mundo, os europeus produzem documentários de TV para convencer a população de que os vilões somos nós.
Em vez de criar caso inutilmente com o urânio, que tal se o ministro Celso Amorim começasse a denunciar em voz alta a propaganda suja e enganosa que é feita pelos produtores europeus?

QUALQUER NOTA

Desmitificação
Ciosa no papel de guardiã do mito, a família Senna da Silva ainda não se manifestou sobre "Ayrton, o Herói Revelado", do jornalista Ernesto Rodrigues, que chega hoje às livrarias. A biografia, capa da "Veja" da semana, oferece a primeira grande oportunidade de esmiuçar o verdadeiro -e genial- Ayrton Senna.

Molusco da hora
Sabe-se lá por que o tapuia insiste em comer mexilhões ao tomate ou em escabeche. Quem lamenta a mesmice que corra ao festival "Mariscos e Fritas", do Ici Bistrô, em Higienópolis, em que os moluscos são marinados "à francesa", em vinho branco.


E-mail - barbara@uol.com.br


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