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BARBARA GANCIA
Boca no trombone, ministro Celso Amorim!
Nestes dias, caiu em minhas mãos uma fita de vídeo
de arrepiar até os cabelos mais
ocultos. Sem exagero, o material
que ela contém pode ser tão danoso ao Brasil quanto foram para os
madrilenhos as bombas nos trens.
Em formato de documentário e
feito para ser apresentado em canais de TV estatal da França e da
Alemanha, o vídeo começa mostrando uma usina não-identificada de cana-de-açúcar no interiorzão de Pernambuco. Enquanto a
câmera exibe a precariedade das
instalações, um narrador explica
que uma das razões que fazem o
açúcar tapuia ser tão barato é a
falta de investimentos em equipamentos antipoluentes.
Em seguida, é apresentado um
punhado de entrevistas com trabalhadores rurais da usina não-identificada. Todos contam histórias pavorosas de privação e
afirmam viver em um regime
de semi-escravidão.
O ponto alto do programa é
o depoimento de Hans-Jörg
Gebhard, presidente do Conselho
de Administração da Sudzücker,
maior empresa produtora de açúcar da Alemanha.
Herr Gebhard nem sequer pisca
quando diz que a Europa não deve abrir suas fronteiras ao açúcar
brasileiro. Segundo ele, isso não
ajudaria nossos pequenos produtores ou trabalhadores rurais,
uma vez que as usinas de açúcar
estão nas mãos de "um clube fechadíssimo" de 250 famílias, que
prefere "torrar seu dinheiro em
Miami". O executivo finaliza dizendo que o europeu precisa "estar consciente e saber se aceita ou
não essa situação".
Pois nós brazucas também precisamos ter consciência dos fatos.
Devemos saber que os mercados
europeu e norte-americano são fechados aos nossos produtos agrícolas. Exportamos a outros países
o açúcar de cana por cerca de US$
250 a tonelada. Enquanto isso, na
Europa, o açúcar de beterraba é
vendido a US$ 750 pela mesmíssima tonelada. E o que é pior: os excessos da produção européia acabam vendidos, por preço inferior
ao nosso, nos poucos mercados
mundiais a que temos acesso.
A diferença é paga pelos subsídios que a Europa oferece à sua
agricultura. E como esses subsídios são imorais e diretamente
responsáveis pela fome e a pobreza no Terceiro Mundo, os europeus produzem documentários de
TV para convencer a população
de que os vilões somos nós.
Em vez de criar caso inutilmente
com o urânio, que tal se o ministro
Celso Amorim começasse a denunciar em voz alta a propaganda suja e enganosa que é feita pelos produtores europeus?
QUALQUER NOTA
Desmitificação
Ciosa no papel de guardiã do
mito, a família Senna da Silva
ainda não se manifestou sobre
"Ayrton, o Herói Revelado", do
jornalista Ernesto Rodrigues,
que chega hoje às livrarias. A
biografia, capa da "Veja" da semana, oferece a primeira grande oportunidade de esmiuçar o
verdadeiro -e genial- Ayrton Senna.
Molusco da hora
Sabe-se lá por que o tapuia insiste em comer mexilhões ao
tomate ou em escabeche.
Quem lamenta a mesmice que
corra ao festival "Mariscos e
Fritas", do Ici Bistrô, em Higienópolis, em que os moluscos
são marinados "à francesa", em
vinho branco.
E-mail - barbara@uol.com.br
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