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RIO SOB TENSÃO
Apesar da presença de 1.300 policiais desde segunda-feira na favela, lojas, escolas e bancos permaneceram fechados ontem
Rocinha pára após morte de líder do tráfico
DA SUCURSAL DO RIO
A favela da Rocinha (zona sul
do Rio) parou completamente
ontem, um dia após a morte do
chefe do tráfico de drogas Luciano Barbosa da Silva, 27, o Lulu,
em um tiroteio com policiais.
Apesar de a favela estar ocupada
desde segunda-feira por 1.300 policiais, nenhuma loja abriu, os camelôs não trabalharam, escolas e
bancos não funcionaram, mototáxis não circularam e os serviços
mantidos pela prefeitura, como a
coleta de lixo, foram interrompidos. As ruas da favela, tradicionalmente movimentadas e com trânsito complicado, ficaram vazias e
repletas de lixo, que não foi recolhido. Parecia feriado.
Segundo representantes de associações de moradores da Rocinha que não quiseram se identificar, Lulu era querido na comunidade. Eles disseram que, embora
levasse uma "vida errada", o traficante respeitava os moradores e
ocupava o papel do poder público
em algumas ocasiões.
Ontem pela manhã, uma Kombi foi incendiada no interior da favela e uma faixa preta foi estendida para representar luto pela
morte de Lulu. Os traficantes deixaram um carro atravessado na
pista da estrada da Gávea -que
corta a favela- para impedir a
passagem de veículos.
A Folha conversou com moradores que disseram que não houve ordem do tráfico para fechar. O
clima, no entanto, era de medo.
Os moradores estão temerosos de
que o traficante Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, rival de Lulu e odiado na comunidade, tente novamente invadir a
Rocinha. Ontem, o Ministério Público Estadual pediu a prisão preventiva de Dudu.
A guerra entre os dois criminosos, iniciada na madrugada de
sexta-feira, deixou 12 mortos até
anteontem. Alguns moradores
ouvidos pela Folha disseram que
a Rocinha só voltará a ficar tranqüila depois que a polícia capturar ou prender Dudu.
O presidente da União Pró-Melhoramentos da Rocinha, William
de Oliveira, disse que "ninguém
sabe o que pode acontecer". "A
Rocinha sempre foi pacífica e ordeira e a polícia está fazendo o seu
trabalho. Existe alguém maior do
que a polícia que é Deus, e os moradores têm que rezar muito para
que esse clima de guerra acabe."
Comandante da ocupação
Responsável pelo comando das
ações policiais na Rocinha, o tenente-coronel Jorge Braga, comandante do 23º Batalhão (Leblon, zona sul), disse considerar
normal que as lojas tenham fechado, pois, segundo ele, Lulu era
"um amigo" dos comerciantes.
"Pelo que sabemos, o pessoal
que está querendo invadir [o
morro] faria muita maldade [com
os moradores]. Ele [Lulu], pelo
contrário, não praticava maldades contra a comunidade."
Braga afirmou que, desde a
morte de Lulu, vem percorrendo
as lojas na tentativa de convencer
os comerciantes a não interromperem o funcionamento.
Para o oficial, o fato de a comunidade gostar de um chefão do
tráfico não pode servir de empecilho à ação policial. "A função da
polícia é reprimir os atos ilícitos e
prender os criminosos", afirmou.
Braga anunciou que pretende
manter na favela o atual efetivo,
de mais de mil homens, por tempo indeterminado.
O clima de medo na Rocinha
também afetou PMs que estão
atuando na ocupação. A todo momento, eles recebiam ameaças de
traficantes por meio de radiotransmissores. "Vamos jogar granada neles, vamos vingar o cara [o
Lulu]. Fica na atividade que a bala
vai comer em cima de vocês [policiais]", diziam os traficantes.
Com Lulu morto, o controle das
drogas na Rocinha passou para
Adriano da Costa Brito, o Zarur,
que organizou, de manhã, uma
reunião entre os traficantes.
Dudu tem o apoio de várias favelas vinculadas ao CV (Comando Vermelho) para retomar o
controle da Rocinha, que ele perdeu em 1995, quando foi preso.
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