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Apesar da ocupação, venda de drogas continua
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Embora 1.237 policiais militares
estejam percorrendo diariamente
a favela da Rocinha desde a segunda-feira passada, o tráfico de
drogas continua a agir, embora de
maneira mais discreta.
O comandante da ação policial
na favela, tenente-coronel Jorge
Braga, da Polícia Militar, enumerou ontem três modalidades de
tráfico que persistem: o realizado
dentro de imóveis na Rocinha, o
itinerante (o traficante circula pela favela com pequenas quantidades de maconha e cocaína) e o
chamado "delivery" (os clientes
recebem a droga em casa).
De acordo com Braga, que comanda o 23º BPM (Batalhão de
Polícia Militar), no Leblon (zona
sul), os policiais militares ainda
não conseguiram acabar com a
ação dos traficantes, mesmo estando o morro ocupado.
"Não posso dizer que a venda
tenha parado. Eles continuavam
andando com armas [referência à
morte de Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, e de outros traficantes
nos últimos dias], mesmo com o
morro cheio de policiais. Isso
também vale para o tráfico."
Na tentativa de reprimir o tráfico, a PM ocupou os pontos onde
funcionavam as cinco "bocas"
(pontos-de-venda) fixas da Rocinha, que ficavam na rua 1 e nos locais conhecidos como Via Ápia,
Valão, Cachopa e Vila Verde.
"Bocas" fechadas
A Folha percorreu ontem os lugares onde os traficantes comandados por Lulu montaram as "bocas". Em todas elas havia por perto policiais armados com fuzis,
pistolas e granadas e vestidos com
coletes à prova de balas. Não havia venda de drogas nos locais.
A "boca" de onde Lulu comandava o tráfico, na rua 1 (parte alta
da favela), estava ocupada por policiais militares. Ali funcionava a
céu aberto o principal ponto-de-venda de drogas da Rocinha.
Antes da ocupação da polícia e
da morte de Lulu, a comunidade
chamava o trecho da rua 1 em que
funcionava a "boca" -perto da
estrada da Gávea, que atravessa a
favela, ligando os bairros de São
Conrado e da Gávea- de "quartel-general" do tráfico.
Para o tenente-coronel Braga,
os pontos-de-venda poderão ser
retomados pelo tráfico caso a polícia deixe a favela. Por enquanto,
os traficantes estão recorrendo a
alternativas menos arriscadas.
"Existe a entrega domiciliar, o
tráfico feito por pessoas isoladamente, que é o varejo, e o tráfico
domiciliar", disse.
Segundo o tenente-coronel Braga, a ação policial é prejudicada
pelas características da Rocinha.
"Os prédios têm quatro, cinco
andares, forro falso, subsolo. Parece fácil [combater o tráfico],
mas não é. É preciso ter cuidado
ao invadir um prédio, porque pode haver uma emboscada."
Ele afirma que a morte de dois
policiais do Bope (Batalhão de
Operações Especiais), na última
sexta, foi um exemplo de que os
traficantes conseguem surpreender os policiais mesmo com todo
o aparato montado na favela.
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