São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE PÚBLICA

Médico Luiz Jacintho da Silva, da Unicamp, avalia que o Brasil passará por nova onda da doença neste ano

Especialista prevê crescimento da dengue

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os casos de dengue devem aumentar neste ano em todo o país em razão de um relaxamento no controle da doença, da falta de engajamento comunitário no combate ao mosquito Aedes aegypti e do crescimento da doença na América do Sul.
A previsão é do médico Luiz Jacintho da Silva, professor titular de infectologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e ex-superintendente da Sucen. Na sua avaliação, o governo federal precisa ter uma atitude mais madura em relação ao controle da dengue, da mesma forma que tem com o combate à Aids.
"Ninguém bate na casa das pessoas perguntando se estão usando ou não a camisinha. Com dengue, deve ser igual. Não posso ficar de casa em casa, quatro vezes por ano, para ver se a dona Maria está com vaso com ou sem água."
Para o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, não é possível comparar os programas de prevenção à Aids com os de combate à dengue. "O programa de Aids está aí há 20 anos. O da dengue está há quatro. Pode ser que em 16 anos teremos o mesmo nível de consciência." Leia a seguir trechos da entrevista dada à Folha por Luiz Jacintho da Silva.

Folha - O ano começou com mortes por dengue hemorrágica no Rio e casos pipocando em todo o país, apesar de janeiro ter fechado com queda nos casos em relação a 2005. O sr. acredita que será um ano preocupante para a dengue?
Silva -
Nós passamos uns dois ou três anos de queda. É inevitável que haja um certo relaxamento das medidas de controle. Nós já começamos a ter transmissão de dengue no final do ano passado. Isso é um sinal muito importante. Todos os anos em que são registrados muitos casos de dengue, grandes epidemias, na verdade, a coisa já vinha acontecendo meses antes. As pessoas não devem ficar contentes porque em janeiro deste ano houve queda em relação a janeiro passado, porque janeiro não é o pior mês para a dengue. Na região Sudeste, é março e abril a hora do vamos ver. Conseguir um controle razoável é coisa para mais de uma década.

Folha - Mas há mais de uma década convivemos com epidemias...
Silva
Passamos mais de uma década tendo uma atitude esquizofrênica. Primeiro uma atitude por parte do governo do "deixa que eu chuto", vou lá e acabo com a dengue, e depois perceber que não dava. Depois, começaram a contabilizar a queda [do número de casos] como um feito político. Dessa forma, você não controla. Só impede uma catástrofe maior.

Folha - Os médicos brasileiros estão preparados para diagnosticar e tratar a dengue hemorrágica a tempo de evitar mortes?
Silva -
Existe o problema do próprio sistema de saúde brasileiro. O cara que trabalha no pronto-socorro, que recebe os casos de dengue, é um bóia-fria. Ele trabalha um pouco, sai, vai para o outro emprego. Tem uma rotatividade muito grande, são geralmente indivíduos no início da carreira. Há uma dificuldade muito grande de identificar dengue hemorrágica. Quando acontecem os casos de dengue hemorrágica, que saem na imprensa, aí o serviço público fica mais alerta, mais preocupado. Enquanto não sai, passa batido mesmo. Para identificar um caso de dengue hemorrágica é preciso conhecer bem a doença. Esse é um calcanhar de Aquiles do serviço de saúde.


Texto Anterior: Danuza Leão: A vida é cruel
Próximo Texto: Passado perdido: Prefeitura diz que exige pesquisa prévia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.