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SAÚDE PÚBLICA
Médico Luiz Jacintho da Silva, da Unicamp, avalia que o Brasil passará por nova onda da doença neste ano
Especialista prevê crescimento da dengue
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os casos de dengue devem aumentar neste ano em todo o país
em razão de um relaxamento no
controle da doença, da falta de engajamento comunitário no combate ao mosquito Aedes aegypti e
do crescimento da doença na
América do Sul.
A previsão é do médico Luiz Jacintho da Silva, professor titular
de infectologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)
e ex-superintendente da Sucen.
Na sua avaliação, o governo federal precisa ter uma atitude mais
madura em relação ao controle da
dengue, da mesma forma que tem
com o combate à Aids.
"Ninguém bate na casa das pessoas perguntando se estão usando
ou não a camisinha. Com dengue,
deve ser igual. Não posso ficar de
casa em casa, quatro vezes por
ano, para ver se a dona Maria está
com vaso com ou sem água."
Para o secretário de Vigilância
em Saúde do Ministério da Saúde,
Jarbas Barbosa, não é possível
comparar os programas de prevenção à Aids com os de combate
à dengue. "O programa de Aids
está aí há 20 anos. O da dengue está há quatro. Pode ser que em 16
anos teremos o mesmo nível de
consciência." Leia a seguir trechos
da entrevista dada à Folha por
Luiz Jacintho da Silva.
Folha - O ano começou com mortes por dengue hemorrágica no Rio
e casos pipocando em todo o país,
apesar de janeiro ter fechado com
queda nos casos em relação a 2005.
O sr. acredita que será um ano
preocupante para a dengue?
Silva - Nós passamos uns dois
ou três anos de queda. É inevitável
que haja um certo relaxamento
das medidas de controle. Nós já
começamos a ter transmissão de
dengue no final do ano passado.
Isso é um sinal muito importante.
Todos os anos em que são registrados muitos casos de dengue,
grandes epidemias, na verdade, a
coisa já vinha acontecendo meses
antes. As pessoas não devem ficar
contentes porque em janeiro deste ano houve queda em relação a
janeiro passado, porque janeiro
não é o pior mês para a dengue.
Na região Sudeste, é março e abril
a hora do vamos ver. Conseguir
um controle razoável é coisa para
mais de uma década.
Folha - Mas há mais de uma década convivemos com epidemias...
Silva Passamos mais de uma década tendo uma atitude esquizofrênica. Primeiro uma atitude por
parte do governo do "deixa que eu
chuto", vou lá e acabo com a dengue, e depois perceber que não
dava. Depois, começaram a contabilizar a queda [do número de
casos] como um feito político.
Dessa forma, você não controla.
Só impede uma catástrofe maior.
Folha - Os médicos brasileiros estão preparados para diagnosticar e
tratar a dengue hemorrágica a
tempo de evitar mortes?
Silva - Existe o problema do próprio sistema de saúde brasileiro.
O cara que trabalha no pronto-socorro, que recebe os casos de dengue, é um bóia-fria. Ele trabalha
um pouco, sai, vai para o outro
emprego. Tem uma rotatividade
muito grande, são geralmente indivíduos no início da carreira. Há
uma dificuldade muito grande de
identificar dengue hemorrágica.
Quando acontecem os casos de
dengue hemorrágica, que saem
na imprensa, aí o serviço público
fica mais alerta, mais preocupado.
Enquanto não sai, passa batido
mesmo. Para identificar um caso
de dengue hemorrágica é preciso
conhecer bem a doença. Esse é
um calcanhar de Aquiles do serviço de saúde.
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