São Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 2009

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Passageiros de trem são açoitados em estação

Com vagões lotados no subúrbio do Rio, agentes agridem usuários com socos e usam cordas dos apitos como se fossem chicotes

Quatro agentes de controle foram demitidos; empresa que administra transporte ferroviário afirma que funcionários "se excederam"

FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Início da manhã, estação de trem superlotada, centenas de pessoas que pagaram R$ 2,45 para ir da zona norte ao centro do Rio tentam entrar nos vagões. Além dos costumeiros empurrões de outros usuários, quem fica na plataforma na direção da entrada do vagão ou emperrando o fechamento da porta é agredido a socos e chicotadas pelos agentes de controle, contratados para orientar o embarque dos clientes.
As agressões, observadas por PMs, só terminam quando a porta se fecha e o trem parte.
A cena foi filmada ontem na estação de Madureira (subúrbio do Rio). Segundo a SuperVia, que administra o transporte ferroviário, quatro agentes de uma prestadora de serviço foram demitidos. Eles "se excederam", diz a empresa. A SuperVia diz que os agentes trabalham sem armas e recorreram às cordas dos apitos -que usam pendurados ao pescoço- como se fossem chicotes.
Depois da confusão, dois passageiros foram à delegacia denunciar a agressão. Carlos dos Santos Fernandes contou ter sido alvo de socos no rosto e no peito e de chicotadas no braço.
As duas vítimas foram orientadas a fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal para comprovar as lesões. A polícia deve abrir inquérito para investigar o caso e determinar que a empresa indique quem são os agressores.
O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Luiz Zveiter, criticou a ação dos agressores e disse que o Ministério Público também pode cobrar uma explicação da SuperVia.
A Agetransp, órgão que fiscaliza o transporte sob concessão, também vai investigar o caso e poderá até recomendar o cancelamento do contrato com a SuperVia. As outras penas são advertência e multa.
O secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, afirmou que o governador Sérgio Cabral (PMDB) determinou a demissão dos envolvidos. A assessoria de Lopes disse que o secretário usa regularmente trens para fiscalizar o serviço e nunca havia flagrado agressões.
Outros usuários, porém, afirmam que essa situação é comum. "Dizem que o pessoal está mais exaltado por conta da greve [dos ferroviários, que começou à 0h de segunda-feira e reduziu o número de trens em circulação]. Mas não é nada disso, porque o trem é superlotado mesmo quando não tem [greve]. Esses vigias se sentem poderosos e acham que podem bater, fazer de tudo", diz a faxineira Nair Lopes, 69.
O marceneiro Eduardo Campos, 29, estava revoltado. "Com essa greve o serviço já estava uma porcaria. Agora ainda temos que apanhar dos funcionários?" Os ferroviários iniciaram a paralisação pedindo reajuste salarial e melhores condições de trabalho. Só uma parcela da categoria está trabalhando.


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