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Passageiros de trem são açoitados em estação
Com vagões lotados no subúrbio do Rio, agentes agridem usuários com socos e usam cordas dos apitos como se fossem chicotes
Quatro agentes de controle foram demitidos; empresa que administra transporte ferroviário afirma que
funcionários "se excederam"
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Início da manhã, estação de
trem superlotada, centenas de
pessoas que pagaram R$ 2,45
para ir da zona norte ao centro
do Rio tentam entrar nos vagões. Além dos costumeiros
empurrões de outros usuários,
quem fica na plataforma na direção da entrada do vagão ou
emperrando o fechamento da
porta é agredido a socos e chicotadas pelos agentes de controle, contratados para orientar
o embarque dos clientes.
As agressões, observadas por
PMs, só terminam quando a
porta se fecha e o trem parte.
A cena foi filmada ontem na
estação de Madureira (subúrbio do Rio). Segundo a SuperVia, que administra o transporte ferroviário, quatro agentes
de uma prestadora de serviço
foram demitidos. Eles "se excederam", diz a empresa. A SuperVia diz que os agentes trabalham sem armas e recorreram às cordas dos apitos -que
usam pendurados ao pescoço-
como se fossem chicotes.
Depois da confusão, dois passageiros foram à delegacia denunciar a agressão. Carlos dos
Santos Fernandes contou ter
sido alvo de socos no rosto e no
peito e de chicotadas no braço.
As duas vítimas foram orientadas a fazer exame de corpo de
delito no Instituto Médico Legal para comprovar as lesões. A
polícia deve abrir inquérito para investigar o caso e determinar que a empresa indique
quem são os agressores.
O presidente do Tribunal de
Justiça do Rio, Luiz Zveiter,
criticou a ação dos agressores e
disse que o Ministério Público
também pode cobrar uma explicação da SuperVia.
A Agetransp, órgão que fiscaliza o transporte sob concessão,
também vai investigar o caso e
poderá até recomendar o cancelamento do contrato com a
SuperVia. As outras penas são
advertência e multa.
O secretário estadual de
Transportes, Júlio Lopes, afirmou que o governador Sérgio
Cabral (PMDB) determinou a
demissão dos envolvidos. A assessoria de Lopes disse que o
secretário usa regularmente
trens para fiscalizar o serviço e
nunca havia flagrado agressões.
Outros usuários, porém, afirmam que essa situação é comum. "Dizem que o pessoal está mais exaltado por conta da
greve [dos ferroviários, que começou à 0h de segunda-feira e
reduziu o número de trens em
circulação]. Mas não é nada disso, porque o trem é superlotado
mesmo quando não tem [greve]. Esses vigias se sentem poderosos e acham que podem
bater, fazer de tudo", diz a faxineira Nair Lopes, 69.
O marceneiro Eduardo Campos, 29, estava revoltado. "Com
essa greve o serviço já estava
uma porcaria. Agora ainda temos que apanhar dos funcionários?" Os ferroviários iniciaram
a paralisação pedindo reajuste
salarial e melhores condições
de trabalho. Só uma parcela da
categoria está trabalhando.
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