São Paulo, sábado, 16 de abril de 2011

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BICHOS

VIVIEN LANDO - vivlando@uol.com.br

Fábricas de cães


E as ninhadas são tratadas com alimentos baratos, vacinas pouco confiáveis e higiene duvidosa

Quando Purpurina chegou na casa nova, o casal que a havia comprado não notou nada de estranho na schnauzer de três meses. Foi só com o passar do tempo -e não muito tempo- que ela começou a apresentar os sintomas de uma artrite precoce, que deformou suas patinhas. Hoje em dia, com sete anos, faz acupuntura toda semana e toma medicamentos para conseguir andar.
Téo teve mais sorte. Afora uma verminose fortíssima que o acometeu aos 60 dias de idade. O veterinário foi incisivo: ou ele sobreviveria ou não aos malefícios causados pelas fezes de pombos que infectavam o canil de onde veio o pequeno lhasa apso. Aos 12 anos bem vividos, Téo não tem sequelas. Mas quem sabe em sua memória restem manchas sombrias do que passou. Na lembrança de seus donos, com certeza -ninguém se esqueceu daquelas noites angustiantes.
O mesmo ocorre com a família que adquiriu Lolô, uma linda poodle que chegou ao novo lar com pavor de escuro. Gritava e fazia xixi assim que apagavam a luz. Foi só à custa de muito cuidado e carinho que atualmente ela é uma cadela saudável e feliz -e até dorme no escuro sem reclamar.
Nomes fictícios para cães reais e histórias verídicas. Todas nascidas no âmbito dos criadores de cães de raça brasileiros. Onde as fêmeas são cruzadas em cios sucessivos, sem descanso. Nos quais não há uma seleção para filtrar os espécimes saudáveis dos mais frágeis. E as ninhadas são tratadas com alimentos baratos, vacinas pouco confiáveis e higiene duvidosa.
Mamar no peito é artigo de luxo, e muitos filhotes são separados da mãe nos primeiros momentos. O que lhes garante, no mínimo, uma baixa imunidade a doenças pelo resto da existência.
A displasia coxo-femural e outras deformações congênitas, como problemas renais, tornaram-se comuns.
A insuficiência hepática hereditária que atacou quase uma família inteira de pastores belgas mostra o pouco caso de quem vive dos lucros da venda de cachorros. Sem contar os que jamais apresentam o pedigree prometido e incluso no preço. Ou quem esconde do consumidor o fato de a cadela ter morrido de parto -o que torna um pouco arriscada a futura prenhez das filhotas.
Se existem canis sérios? Claro que sim. Cada vez mais raros e caros. Para localizá-los é necessária uma longa busca através das histórias de vida dos antepassados e do cãozinho que você vai levar para a sua própria história -a fim de que o final seja feliz.


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