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GUERRA URBANA/ TRÉGUA
Ordem foi dada a membros da facção após dois dias de conversas com representantes do governo estadual, que nega negociação
Cúpula do PCC ordena fim dos ataques
GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE
A cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) deu ordem
ontem para cessar os atentados e
rebeliões em São Paulo, após dois
dias de negociações com representantes do governo do Estado.
A Folha apurou que, por telefone celular, líderes da facção criminosa determinaram a presos e
membros do PCC do lado de fora
das cadeias que interrompessem
a onda de violência.
A trégua foi mais rápida nas cadeias. No começo da noite, não
havia mais nenhuma rebelião em
andamento no Estado. O dia começou com 55 presídios amotinados -foram 82 unidades rebeladas (73 presídios e nove cadeias
públicas) desde o início das ações.
A maior parte das rebeliões terminou quase simultaneamente, a
partir das 16h.
Segundo o que a Folha apurou,
o preso Orlando Mota Júnior, 34,
o Macarrão, foi um dos principais
interlocutores do governo. Ele e
outros líderes do PCC deram a ordem de cessar os atentados.
Nas conversas com representantes da Secretaria da Administração Penitenciária, a facção condicionou o fim dos ataques a benefícios a presos transferidos para
a Penitenciária 2 de Presidente
Venceslau (620 km de SP) e à não
entrada da Tropa de Choque da
PM nos presídios rebelados. Na
quinta-feira, 765 detentos -todos membros do PCC- foram
levados para a penitenciária.
Na pauta estava o banho de sol.
Os presos estão trancafiados, por
medida de segurança, desde a
transferência. O PCC pediu que os
presos levados a Presidente Venceslau não sejam submetidos ao
regime de observação.
Nesse sistema, usado para
quem chega a uma nova penitenciária, os detentos ficam trancados e não podem receber visitas
ou advogados por um período de
até 30 dias. Eles alegam que são
"piolhos" (presos veteranos) e
não cometeram infrações no sistema para justificar a punição.
Houve outras reivindicações,
mais ousadas. Entre elas, segundo
agentes penitenciários, está o pedido de visita íntima e de televisores no RDD (Regime Disciplinar
Diferenciado). O sistema mais rígido proíbe esses dois benefícios.
Marcola e outros quatro líderes
da facção foram levados provisoriamente para o RDD em Presidente Bernardes (589 km de SP)
no sábado. Segundo agentes penitenciários, homens da SAP estiveram no domingo em Presidente
Bernardes para conversar com o
líder máximo do PCC.
Sem negociação
O governo nega a negociação
com a organização. "Não se negocia com bandido", afirmou ontem
o diretor do Deic (Departamento
de Investigações Sobre o Crime
Organizado), Godofredo Bittencourt. Mas ele afirma que o plano
de isolar os líderes do PCC em
Presidente Venceslau surgiu
quando os presos passaram a fazer pedidos fora da lei.
"Eles [os líderes do PCC] fizeram reivindicações junto à Secretaria da Administração Penitenciária que não eram permitidas.
Chegou a um ponto que o secretário [Nagashi Furukawa] achou
que eles estavam pedindo aquilo
que não se poderia permitir e poderia acontecer alguma coisa",
afirmou o diretor do Deic.
Bittencourt disse que a facilidade do acesso dos presos a celulares dificulta o trabalho da polícia.
"São contatos feitos por telefone
rapidamente que não há condições, de quem quer que seja, de
saber o que vai acontecer."
Em março, a Folha revelou uma
foto em que Marcola aparece com
um celular na mão. A imagem foi
registrada por outro telefone,
com câmera digital, que pertencia
a outro preso. O aparelho com a
imagem arquivada na memória
foi apreendido em janeiro.
A CPI da Câmara dos Deputados que investiga o tráfico de armas já aprovou requerimento para ouvir Marcola e seu irmão Juvenal Herbas Camacho Júnior. O
depoimento dos dois pode ocorrer na próxima semana. Os deputados também decidiram exigir
do governo paulista a permanência de Marcola no RDD.
Colaborou a Sucursal da Brasília
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