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GUERRA URBANA/ ANÁLISE
Para diretor de "Ônibus 174", houve a explosão de um barril de pólvora; cineasta Sergio Bianchi diz acreditar em erros da elite
Cineastas culpam Estado por "barbárie"
EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Clima de barbárie. Foi assim
que o escritor Marçal Aquino, autor de "O Invasor", que retrata a
violência em São Paulo, e que foi
adaptado para o cinema por Beto
Brant, descreveu o que viu pelas
ruas da cidade ontem.
"As pessoas estão se assustando
com qualquer escapamento de
carro estourando. O que preocupa mais, no entanto, é a impotência do Estado para fazer frente a
essa violência. Li que já se fala até
em negociação. É a realidade esfregada na nossa cara de maneira
compulsória", disse o escritor que
também foi roteirista do filme
"Crime Delicado".
Aquino ressaltou ainda que a
violência em São Paulo, que costuma ser menos "promíscua" do
que no Rio de Janeiro, porque está
nas "franjas da cidade", chegou a
um nível em que ninguém escapa.
E mais: o crime paulista parece
mais organizado. "São Paulo tem
fama de ser mais organizada e pelo visto, infelizmente até nisso,
porque consegue ter um levante
realizado no Estado inteiro."
Para Joaquim Nogueira, ex-delegado, o clima ontem era de verdadeiro terrorismo. A obra do autor, que inclui os livros "Informações Sobre a Vítima" e "Vida Pregressa", descreve o cotidiano da
polícia civil de São Paulo.
"O PCC [Primeiro Comando da
Capital] cresceu demais, por conta da omissão do Estado, da fraqueza e ineficiência do aparelho
policial. Agora está fazendo demonstração de força para impor
medo e reivindicar coisas. O governo está em situação difícil. Mas
tem que fazer demonstração de
força também, porque ele tem
maior poder do que organização
criminosa. Se omitir, os criminosos vão ocupar cada vez mais espaço e nós, a população, pagamos
o pato e e vamos ser vítimas."
Barril de pólvora
Já Ferréz, autor de "Manual Prático do Ódio", que também tem
como cenário a periferia paulista,
ressaltou que a culpa é do Estado,
que não investe em educação nem
em segurança pública. "O que
mais me deixou triste foi ver muito trabalhador precisando ir trabalhar e não conseguindo."
"Isso não me espanta, o sistema
está destruído, isso é natural", diz
o cineasta José Padilha, diretor do
documentário "Ônibus 174", para
quem o que está acontecendo nos
últimos dias é a explosão de um
barril de pólvora. "Existem por
um lado os criminosos, por outro,
a situação calamitosa dos presídios. O criminoso revoltado é,
nesse caso, o estopim de um barril
de pólvora."
O diretor está se preparando para iniciar as rodagens de "Tropa
de Elite", filme que vai tratar da
relação dos policiais com a violência social no Brasil. "Hoje temos o
Estado produzindo a violência.
Por exemplo, se um policial for
honesto, vai arriscar sua vida, mal
armado e mal preparado, para ganhar apenas R$ 700 por mês. Ou
seja, está sendo impelido pela
própria polícia a se corromper."
Padilha diz acreditar que o fato
de o cinema brasileiro estar retratando a violência social com mais
intensidade nos últimos tempos
não incentiva mais violência.
"Não compro a idéia de que o cinema tenha alguma influência sobre a violência. Quantas pessoas
viram "Carandiru", 5 milhões? E
"Cidade de Deus", 3 milhões? Muito pouca gente vê esses filmes.
Não é isso que faz a diferença, basta olhar para os verdadeiros problemas. São eles que causam a
violência."
Para o cineasta Sergio Bianchi,
diretor de "Cronicamente Inviável" e também de "Quanto Vale
ou É por Quilo", a situação é resultado de erros da elite. "A elite
comete erros catastróficos e, cedo
ou tarde, tem problemas enormes
para resolver."
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