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GUERRA URBANA/ ANÁLISE
Sociólogo Luiz Werneck Vianna diz que não é hora de "investir em inclusão", mas de pôr líderes do movimento em total reclusão
Para pesquisador, Estado tem de reagir agora
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O que está acontecendo em São
Paulo pode ser rotulado como
"uma revolução social", disse à
Folha o sociólogo Luiz Werneck
Vianna, 67. Professor-pesquisador do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), centro de pesquisa e pós-graduação em ciências sociais, Vianna sustenta que a falta de espaços
para a "expressão formal" dos excluídos urbanos levou o PCC a
ocupar o que chama de "verdadeiro deserto".
"Eles estão falando de exclusão,
estão usando uma linguagem radical das revoluções, certo? E estão se comportando revolucionariamente, de armas na mão", afirmou, em entrevista por telefone.
O pesquisador do Iuperj acredita que as facções criminosas do
Rio farão "um armistício" para
aderir ao movimento desencadeado pelo PCC. Disse que isso
ainda não aconteceu porque os
criminosos fluminenses integram
comandos "fragmentados".
"Ou Estado democrático de Direito se defende agora ou se desmoraliza", afirmou ele, acrescentando ser favorável à "reclusão total dos cabeças" em presídios de
segurança máxima.
Vianna afirmou ainda que não
adianta nada o presidente Lula dizer agora que vai dar dinheiro para a educação ou investir "em políticas públicas compensatórias".
Folha - Na sua opinião, o que está
acontecendo a partir de São Paulo
também pode ser interpretado como um protesto social?
Luiz Werneck Vianna - Para mim
o que está havendo é uma revolução social. O nível de organicidade disso, a capacidade estratégica,
a ação intempestiva, coordenada,
e o clima de revolta. Porque esses
homens não estão com medo de
nada. Eles estão comandando essa rebelião. Os chefes estão presos. Então, [há] um grau de radicalização muito grande.
Folha - O senhor poderia explicar
por que considera estar ocorrendo
uma revolução social?
Vianna - Essa "revolução social"
vem larvando. Isso a meu ver é
notório há muito tempo. [Há] a
vida popular que não encontra
formas de expressão, de resistência pelos temas adequados. A não
ser o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]. O
MST dá vazão a isso aos trabalhadores do campo, aos excluídos.
Agora, no mundo urbano, quem
faz isso? Qual partido tem trabalho em favela?
Folha - A "revolução social" teria
origem na dificuldade de expressão desses desassistidos urbanos?
Vianna - É um verdadeiro deserto que essa gente ocupou, e ocupou não apenas com a lógica mercantil do tráfico. É claro que o
substrato é esse, mas o discurso e
a retórica são de protesto social.
Acho que o Estado democrático
de Direito não pode aceitar isso.
Essa não é a hora de ficar procurando pela origem do fenômeno
na exclusão. Não adianta pensar
em políticas públicas compensatórias e inclusivas agora. Agora o
Estado democrático de Direito
tem que reagir.
Folha - De que forma?
Vianna - Reagir com a lei. Presídios de segurança máxima, reclusão total dos cabeças.
Folha - O que mais?
Vianna - Combate implacável,
ora bolas! Combate implacável a
essa sedição que, na verdade, é
contra a ordem democrática.
Folha - Isso seria, a seu ver, o correto a fazer, mas vivemos uma situação ...
Vianna - Mas não é dizendo que
tem que botar mais dinheiro em
educação que você vai resolver isso agora, como o presidente da
República [Luiz Inácio Lula da
Silva, do PT] disse. A política penal brasileira, por exemplo. Tem
regime de progressão, uma pena
de 20 anos se converte em muito
pouco tempo em dois, três anos.
Folha - O que na sua opinião deveria ser feito de imediato?
Vianna - O Estado democrático
de Direito ou se defende agora ou
se desmoraliza. Além do que já
vem acontecendo em outras dimensões, no Parlamento, e por aí
vai.
Folha - O senhor acha que esse
movimento tende a se expandir?
Vianna - Se cair no Rio de Janeiro eu não sei como vai ser. Está
para cair.
Folha - Por quê?
Vianna - O que o Rio não tem é o
comando unificado. No Rio esses
comandos são todos fragmentados. Eles vivem em dissídio. Agora, é perfeitamente possível que
eles realizem um armistício e venham a cavalgar esse furacão. E as
condições do Rio para isso são
mais... O Rio é mais vulnerável do
que São Paulo. Eles estão muito
perto do coração da cidade.
Folha - O senhor acha que caberia
uma negociação de autoridades
com o PCC?
Vianna - Ou o Estado democrático de Direito reage com os instrumentos que a lei dispõe ou então,
se for negociar com o crime, a coisa pode sair de controle.
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