São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 2011

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Morro do Alemão vive fim de semana de zona sul carioca

Moradores de áreas nobres participam de programação no complexo da zona norte agora ocupado pela polícia

Em vez de tiros, houve esporte, cerveja e música; no sábado, Caetano Veloso se apresentou em festival

CIRILO JUNIOR
DIANA BRITO

DO RIO

Sentados à mesa de um bar na rua Canitar, dentro do Complexo do Alemão, o engenheiro Cláudio Buarque, 32, e o arquiteto Alexandre Schoen, 34, tiveram um domingo que há seis meses julgavam impossível.
Moradores da zona sul do Rio, eles bebiam cerveja no conjunto de favelas da zona norte, que era uma das áreas mais perigosas da cidade antes de sua ocupação por 1.700 militares do Exército, em novembro passado.
Um pouco antes, os dois tinham percorrido os cinco quilômetros do Desafio da Paz, corrida iniciada na Vila Cruzeiro, no complexo de favelas da Penha, e finalizada no morro do Alemão, no bairro de Inhaúma.
O trajeto na serra da Cantareira -íngreme e acidentado- é o mesmo no qual câmeras flagraram traficantes em fuga quando tanques chegaram à Vila Cruzeiro.
A cena marcou o fim do controle territorial da região pela facção criminosa Comando Vermelho.
"Jamais imaginei correr aqui, especialmente no trecho onde todos acompanharam a fuga. Beber cerveja, então, nunca tinha passado pela cabeça", disse Buarque.
O executivo irlandês Dennis O'Shea, 43, era outro forasteiro. "A imagem que sempre tive das favelas era da violência. É fantástico estar aqui", disse O'Shea, que está no Rio a trabalho.
A corrida teve 1.200 participantes -800 de fora do complexo, que pagaram inscrição de R$ 60, e 400 moradores das favelas locais.
"É uma transformação. Espero que o legado de ética e esporte permaneça", disse o organizador do evento, José Júnior, da ONG AfroReggae. "Antes, o comum era a correria de bandidos quando a polícia chegava", afirmou a dona de casa Marilene Brito, 53.
O fim de semana não foi atípico só pela corrida. Com 400 mil moradores, o complexo teve outro evento rotineiro em áreas nobres do Rio, como a zona sul: o Favela Festival, encerrado sábado à noite, com Caetano Veloso.
"É possível viver com paz aqui", disse o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que completou o percurso com camiseta do Bope, o batalhão especial da PM.
Atrás, os policiais conhecidos como "caveiras" voltaram ao complexo desarmados. Entoavam gritos de guerra, mas suprimiam partes que diziam que o Bope entra na favela para matar.
O evento atraiu políticos, entre eles o governador Sérgio Cabral (PMDB) e os senadores petistas Eduardo Suplicy e Lindberg Farias.
Houve quatro prêmios de R$ 6.000, para pagantes e moradores. O gari José Carlos Barreto da Silva, 35, ganhou um deles. "Vou ajudar minha irmã a construir a casa dela aqui", disse.


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