São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2008

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Meta de segurança viária só deve ser alcançada em 2020

Média foi de 4,28 mortes por cem milhões de quilômetros rodados nas rodovias de SP sob comando privado em 2007; objetivo é chegar a 2,5

Concessionárias e governo alegam que a dificuldade de evitar mortes e acidentes se deve à educação e formação deficientes dos motoristas

DA REPORTAGEM LOCAL

Nas rodovias estaduais de São Paulo concedidas à iniciativa privada, a pista costuma ter hoje uma condição de "vitrine" devido à aprovação predominante dos usuários, mas os índices de acidentes e mortes são muitas vezes uma "vidraça" e preocupam os especialistas.
Se a situação do pavimento, dos aparelhos de monitoramento do tráfego e de atendimento aos usuários já é em alguns casos semelhante a de países desenvolvidos, a violência do trânsito teve nos últimos anos melhoria inferior à de estradas sob gerência estatal.
A meta fixada para as concessionárias é atingir um bom padrão de indicadores de segurança viária só em 2020. E, mesmo se não for atingida, não haverá nenhuma punição aplicada pelo governo paulista.
As rodovias estaduais de São Paulo sob comando privado tiveram no último ano uma média de 4,28 mortes por cem milhões de quilômetros rodados.
O objetivo é chegar à marca de 2,5 daqui a 12 anos, patamar médio para países da Europa, de acordo com Sebastião Ricardo, diretor de operações da Artesp (agência que regula as concessões paulistas). Na Suíça, diz ele, a taxa já é inferior a 1,50 e, na Suécia, inferior a 2.

Formação deficiente
A alegação das concessionárias e do governo para a dificuldade de evitar mortes e acidentes é a educação e a formação deficientes dos motoristas, agravada pela difusão das motos e a popularização do carro.
É a mesma argumentação para justificar a falta de punição às concessionárias em cujas rodovias não há redução consistente de ocorrências.
"A concessionária não tem culpa pela educação do motorista. É um dever dos governos", diz Sebastião Ricardo.
Mas, para uma parcela de técnicos, não é bem assim.
O engenheiro Luiz Célio Bottura, ex-presidente da Dersa (estatal que administra estradas), diz que ainda existem problemas nas rodovias paulistas que, a cargo das concessionárias, poderiam contribuir com a redução de acidentes, como melhoria de sinalização.
"Toda meta ou exigência precisa ter alguma punição", defende. "Se tem um animal na pista que provoca um acidente, para mim a culpa é da concessionária, que deveria proteger a estrada; mas ela vai dizer que a culpa é do dono do bicho", diz. Entre 2000 (ano em que os dados passaram a ser compilados por todas as concessionárias de São Paulo) e 2007, a quantidade de feridos por cem milhões de quilômetros rodados na malha paulista sob comando privado caiu só 1,1%, a de acidentes, 5,8%, e a de mortos, 22,3%.
"É pouco, ainda mais se considerar que há tanta tecnologia disponível", avalia Bottura.
Os dados da totalidade de ocorrências nas rodovias do Estado indicam que a melhoria foi mais acentuada nas não-concedidas: eles revelam diminuição de 35,5% dos mortos, 24% de feridos e 23,9% de acidentes proporcionalmente à frota.
Sebastião Ricardo, da Artesp, avalia que parte da explicação se deve ao fato de as estradas concedidas já terem uma condição razoável na época -com menor margem para melhorar.
Para Jaime Waisman, professor da USP, uma razão é a própria situação do pavimento.
"Rodovias em bom estado estimulam velocidades maiores, que podem agravar os acidentes", afirma ele, para quem é possível exigir "mais sinalização de advertência" ou "lombadas eletrônicas" das concessionárias, mas não redução dos índices de mortalidade -pelo fato de a falha humana ser predominante para as ocorrências.
(ALENCAR IZIDORO)


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