|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Meta de segurança viária só deve ser alcançada em 2020
Média foi de 4,28 mortes por cem milhões de quilômetros rodados nas rodovias de SP sob comando privado em 2007; objetivo é chegar a 2,5
Concessionárias e governo alegam que a dificuldade de evitar mortes e acidentes se deve à educação e formação deficientes dos motoristas
DA REPORTAGEM LOCAL
Nas rodovias estaduais de
São Paulo concedidas à iniciativa privada, a pista costuma ter
hoje uma condição de "vitrine"
devido à aprovação predominante dos usuários, mas os índices de acidentes e mortes são
muitas vezes uma "vidraça" e
preocupam os especialistas.
Se a situação do pavimento,
dos aparelhos de monitoramento do tráfego e de atendimento aos usuários já é em alguns casos semelhante a de países desenvolvidos, a violência
do trânsito teve nos últimos
anos melhoria inferior à de estradas sob gerência estatal.
A meta fixada para as concessionárias é atingir um bom padrão de indicadores de segurança viária só em 2020. E,
mesmo se não for atingida, não
haverá nenhuma punição aplicada pelo governo paulista.
As rodovias estaduais de São
Paulo sob comando privado tiveram no último ano uma média de 4,28 mortes por cem milhões de quilômetros rodados.
O objetivo é chegar à marca
de 2,5 daqui a 12 anos, patamar
médio para países da Europa,
de acordo com Sebastião Ricardo, diretor de operações da Artesp (agência que regula as concessões paulistas). Na Suíça, diz
ele, a taxa já é inferior a 1,50 e,
na Suécia, inferior a 2.
Formação deficiente
A alegação das concessionárias e do governo para a dificuldade de evitar mortes e acidentes é a educação e a formação
deficientes dos motoristas,
agravada pela difusão das motos e a popularização do carro.
É a mesma argumentação
para justificar a falta de punição às concessionárias em cujas
rodovias não há redução consistente de ocorrências.
"A concessionária não tem
culpa pela educação do motorista. É um dever dos governos", diz Sebastião Ricardo.
Mas, para uma parcela de
técnicos, não é bem assim.
O engenheiro Luiz Célio Bottura, ex-presidente da Dersa
(estatal que administra estradas), diz que ainda existem problemas nas rodovias paulistas
que, a cargo das concessionárias, poderiam contribuir com a
redução de acidentes, como
melhoria de sinalização.
"Toda meta ou exigência precisa ter alguma punição", defende. "Se tem um animal na
pista que provoca um acidente,
para mim a culpa é da concessionária, que deveria proteger a
estrada; mas ela vai dizer que a
culpa é do dono do bicho", diz.
Entre 2000 (ano em que os dados passaram a ser compilados
por todas as concessionárias de
São Paulo) e 2007, a quantidade de feridos por cem milhões
de quilômetros rodados na malha paulista sob comando privado caiu só 1,1%, a de acidentes, 5,8%, e a de mortos, 22,3%.
"É pouco, ainda mais se considerar que há tanta tecnologia
disponível", avalia Bottura.
Os dados da totalidade de
ocorrências nas rodovias do Estado indicam que a melhoria foi
mais acentuada nas não-concedidas: eles revelam diminuição
de 35,5% dos mortos, 24% de
feridos e 23,9% de acidentes
proporcionalmente à frota.
Sebastião Ricardo, da Artesp,
avalia que parte da explicação
se deve ao fato de as estradas
concedidas já terem uma condição razoável na época -com
menor margem para melhorar.
Para Jaime Waisman, professor da USP, uma razão é a
própria situação do pavimento.
"Rodovias em bom estado estimulam velocidades maiores,
que podem agravar os acidentes", afirma ele, para quem é
possível exigir "mais sinalização de advertência" ou "lombadas eletrônicas" das concessionárias, mas não redução dos índices de mortalidade -pelo fato de a falha humana ser predominante para as ocorrências.
(ALENCAR IZIDORO)
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Polícia pede prisão de 11 militares no Rio Índice
|