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Polícia pede prisão de 11 militares no Rio
Membros do Exército são suspeitos de terem entregue três jovens, moradores do morro da Providência, a traficantes de outro morro
Os três jovens foram encontrados mortos em um aterro sanitário; eles haviam sido detidos pelos militares e depois desapareceram
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
A Polícia Civil do Rio pediu
ontem a prisão temporária de
11 militares do Exército. Eles
são suspeitos de entregar três
jovens, moradores do morro da
Providência (região central)
que estavam desaparecidos, a
traficantes do morro da Mineira, comandado pela facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), rival do Comando Vermelho, que domina a Providência.
Os corpos foram achados ontem num aterro sanitário em
Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense.
David Wilson Florêncio da
Silva, 24, Wellington Gonzaga
Costa, 19, e Marcos Paulo da
Silva, 17, voltavam de um baile
funk no morro da Mangueira,
na manhã de sábado, quando
foram detidos pelos militares,
acusados de desacato, e levados
ao comandante para que prestassem depoimento. Depois
disso, os três não haviam mais
sido vistos.
Revoltados com a morte dos
rapazes, cerca de 150 moradores da Providência fizeram ontem manifestação em frente ao
Comando Militar do Leste,
próximo à favela, e pediram a
saída dos militares do morro,
ocupado desde o último mês de
dezembro.
A Polícia Militar foi acionada
para conter os manifestantes,
mas não houve confronto. Ao
final do protesto, no entanto,
policiais entraram no morro e
houve intensa troca de tiros
com criminosos, que ainda usaram bombas e granadas.
No sábado, ainda sem saber o
que havia acontecido com os jovens, os moradores já haviam
fechado um túnel que corta o
morro e que liga o Centro à zona portuária. Eles queimaram
um ônibus e depredaram outros dez. Ninguém ficou ferido.
Segundo os moradores, as vítimas não tinham nenhum envolvimento com o tráfico de
drogas ou grupos criminosos.
"Eles trabalhavam e estudavam. Todo mundo na comunidade sabe que eles não tinham
ligação com os criminosos. O
mais velho deles era pai de duas
crianças", disse um adolescente, amigo das vítimas.
Segundo a mãe de Wellington, os três amigos foram vistos
entrando no quartel e as famílias foram avisadas.
"Eu estava trabalhando
quando me disseram. Fui até lá
e cheguei a ver meu filho jogado
no chão enquanto um militar
gesticulava e o insultava, mas
não consegui ouvir o que diziam. Quando tentei mais uma
vez falar com ele, me disseram
que ele estava na delegacia.
Procurei por toda a área, mas
ele não foi encontrado", disse
Lílian Gonzaga.
Ainda no sábado, o Comando
Militar do Leste informou, por
meio de nota oficial, que o comandante, após ouvir os jovens, determinou que fossem
liberados e não mais os viu.
No entanto, de acordo com o
delegado titular da 4ª DP (Central), Ricardo Dominguez, responsável pelo caso, os indícios
apontam que os militares saíram com os rapazes do quartel,
que fica próximo à favela, e os
levaram para o morro da Mineira, dominado por uma facção criminosa rival, também no
centro do Rio, onde teriam
abandonado os três.
Agressões
As investigações preliminares apontaram que os jovens
sofreram agressões e foram assassinados pelos traficantes
antes de serem despejados em
uma caçamba de lixo no Caju
-zona portuária-, mais tarde
recolhida ao aterro sanitário na
Baixada Fluminense.
"A acusação é que eles entregaram as vítimas para bandidos
rivais. Entre os suspeitos está
até mesmo um oficial", disse o
delegado, que não forneceu o
nome dos militares. Ele ouviu
ontem oito homens do Exército. O Exército também não divulgou o nome dos militares
envolvidos.
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