São Paulo, terça-feira, 16 de junho de 2009

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USP gasta 87% das receitas com salários e aposentadorias

Para Reitoria, reajuste pedido por grevistas elevaria índice a 92%, inviabilizando instituição

Sindicato dos professores, que aderiu à greve após reitora requisitar apoio da PM, contesta dados e afirma que USP subestima receitas

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dados apresentados pela Reitoria da USP apontam que a universidade ficaria sem recursos para manutenção (custeio) e investimento caso seja concedido o reajuste salarial exigido pelos sindicatos em greve.
Segundo a Reitoria, 92,4% do orçamento passaria a ser destinado apenas à folha de pagamento (ativos e inativos).
Representantes de funcionários e professores pedem aumento de 16%. A reitora Suely Vilela afirma não ter condição de atender à reivindicação e concedeu 6% de aumento. Com isso, o gasto com pessoal, que já era de 83% das receitas, passou para 87,2%, diz a USP.
O impasse sobre o aumento salarial é um dos motivos da greve, iniciada pelos funcionários no dia 5 de maio. Os professores aderiram à paralisação no início de junho depois que a reitora requisitou força policial para impedir piquetes.
O Orçamento da USP aprovado pela Assembleia de SP é de R$ 3 bilhões, valor que pode mudar ao longo do ano porque é calculado de acordo com a receita de ICMS do governo paulista. Ou seja, antes do aumento e considerando só o valor aprovado, a USP já gastaria R$ 2,5 bilhões com pessoal.
Os dados sobre o comprometimento da receita com pessoal são contestados pela Adusp (sindicato dos professores).
A entidade afirma que a Reitoria subestima as verbas que receberá do governo -acha que a arrecadação vai crescer mais do que estima a reitoria- e que infla a participação dos salários no orçamento. Com o aumento exigido, diz, a USP passaria a gastar 83,8% com pessoal.
Nenhum representante da Reitoria concedeu entrevista sobre o assunto. As informações foram repassadas pela assessoria de imprensa.

Salário de um doutor
Com o reajuste dado pela Reitoria, um professor doutor com dedicação integral (40 horas semanais) passou a ganhar R$ 6.707. Nessa classe, os docentes estudam ao menos mais cinco anos (mestrado e doutorado) após se formarem na graduação. Também precisaram ser aprovados em concurso.
Caso fosse concedido o reajuste pedido pelos sindicatos, o salário passaria a R$ 7.337.
"A arrecadação no final do ano é historicamente maior do que o previsto no orçamento", diz Americo Kerr, um dos representantes da Adusp nas negociações. Já a USP afirma não ser prudente trabalhar com projeções de crescimento, que podem não se concretizar.
Kerr diz ainda que a instituição infla a participação dos salários no orçamento. Segundo o sindicato, a Reitoria concedeu reajuste de 6,5% em 2008, mas a folha de pagamento neste ano está 12,2% maior (antes do aumento de 2009).
"As universidades seguem determinação do governo de não conceder aumentos para que haja expansão de vagas com os mesmos recursos", diz.
Para Edson Nunes, membro do Conselho Nacional de Educação e pró-reitor de planejamento da Universidade Candido Mendes, o comprometimento do orçamento da USP com os salários já era alto antes mesmo do reajuste de 6%.
"Numa universidade de pesquisa privada, quando o percentual chega a 70%, já se começa a mudar o planejamento", afirma Nunes. Segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal, os Estados não podem gastar mais do que 60% da receita corrente líquida com pessoal.



R$ 6.707
é quanto ficou o salário de um professor doutor com dedicação integral (40 horas semanais) após reajuste concedido pela Reitoria da USP

R$ 7.337
seria o pagamento de um professor doutor com dedicação integral (40 horas semanais) com o reajuste salarial exigido pelos sindicatos


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