São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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BARBARA GANCIA

Seu ouvido está à disposição?

Depois que seu pai apareceu de algemas em todas as CNNs do mundo, Robyn Lay, filha do ex-presidente da Enron, Kenneth Lay, mandou um longo e-mail aos amigos intitulado "Rezem, por favor", pedindo que sua família seja incluída nas preces dos que "ainda" gostam dela.
Na cabeça da filha do responsável pela maior falência de uma empresa norte-americana de todos os tempos, seu pai, Kenneth Lay, está sendo vítima de uma caça às bruxas promovida pela imprensa.
Está certo que papel de filha é defender o pai, mas será que meu ouvido é penico? Robyn afirma ainda que o único pecado de Ken Lay foi ter "acreditado nas pessoas erradas". Para ela, ele é "um homem bom e honesto, um homem de Deus". O e-mail termina dizendo que o maior predicado do dono da Enron é "nunca desistir", não importando qual a natureza da adversidade.
Imagino que as filhas de Nicolau dos Santos Neto, de Sérgio Naya, se ele as tiver, e de outros poderosos que acabaram fisgados pela Justiça poderiam ter escrito mensagens muito parecidas com a de Robyn Lay. Mas só as filhas de Paulo Maluf encheriam a boca para dizer, acertadamente, que o pai nunca desiste.
Nos últimos tempos, como se vivesse em uma peça de teatro escrita por Ionesco, Paulo Maluf tem negado, sistematicamente, até mesmo para os amigos mais íntimos e para homens de negócios para lá de experientes que algum dia tenha tido conta no exterior.
Tanto faz os quase oito quilos de documentos enviados pela Suíça; pouco importam os pareceres dos peritos que analisaram as assinaturas nos cartões de banco ou o tamanho do absurdo de imaginar que alguém teria investido mais de US$ 300 milhões só para incriminá-lo: o ex-prefeito Paulo Maluf não desiste do papel de perseguido.
Vai ver que Maluf torce para ter a mesma sorte de Tony Blair, o Tony Teflon, em quem nenhuma acusação parece grudar. Pois, enquanto a Procuradoria Geral não decifrar toda a papelada, a população continuará tendo de emprestar seu ouvido às negativas mais surrealistas da história do município.
 
Depois de passar pelas mãos de executivos de empresas de telefonia celular do mundo todo, a tocha olímpica finalmente voltou a Atenas. Ela deveria ser um símbolo, mas o COI (Comitê Olímpico Internacional) resolveu negociá-la. Já imaginou se a moda pega? Já pensou o Cristo Redentor tendo de dobrar o braço para falar no celular?

QUALQUER NOTA

Na onda
Espera-se que o sucesso da 2ª Festa Literária Internacional de Parati sirva para incentivar a reedição dos livros de Guimarães Rosa em traduções para o francês e o inglês. "Grande Sertão: Veredas", por exemplo, não consta do catálogo de nenhuma das grandes livrarias da França, da Inglaterra ou dos EUA.

Mistério
O Pelican de Miami promete instalar uma filial de seu hotel cinco estrelas na cidade. Com dezenas de quartos às moscas, é de se perguntar como ainda há quem se anime a investir na área. Ou será que Sampa vai passar a sediar vários Unctads ao ano?

E-mail - barbara@uol.com.br
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