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Sociólogo também aponta abuso de força
Ignácio Cano diz que estudo mostra "indícios fortíssimos" de assassinatos, por policiais, em operação no complexo do Alemão
Pesquisa do professor da
UERJ foi feita com base em
laudos dos mortos na
operação policial e estudo
sobre violência no Rio
DA SUCURSAL DO RIO
A análise de laudos médicos
dos 19 mortos pela polícia em
ação do dia 27 no complexo do
Alemão mostra claras semelhanças com estudo feito em vítimas das forças fluminenses
entre 1993 e 1996, pelo sociólogo e professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Ignácio Cano.
Segundo Cano, membro do
laboratório de Análise da Violência da Uerj, os casos analisados na pesquisa revelam "indícios fortíssimos" de assassinatos e uso excessivo da força por
policiais.
No Alemão, a média de buracos de entrada de bala é 3,6 por
pessoa; 68% dos corpos receberam ao menos um disparo pelas
costas; 26% dos cadáveres tinham pelo menos um tiro na
cabeça, houve quatro tiros à
curta distância, e 52% dos corpos tinham outras lesões, além
daquelas de armas de fogo.
Os dados dos anos 90 mostram média de 4,2 perfurações
de entrada de projéteis em média, por cadáver; 65% dos corpos tinham ao menos um disparo pelas costas; 61% tinham
ao menos um disparo na cabeça; 32% dos cadáveres tinham
outras lesões além das provocadas por armas de fogo, e 83%
dos casos não contavam com
testemunhas civis.
Em apresentações feitas na
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados, Cano expôs em
itens "como diagnosticar uso
excessivo da força", segundo
indicadores médico-legais:
1) disparos na região posterior;
2) disparos na cabeça;
3) disparos à queima-roupa;
4) alto número de disparos.
Outro indício de uso excessivo da força na ação do dia 27 é o
fato de o número de mortos, 19,
ter sido muito maior que o de
presos, quatro.
"O normal é que haja mais feridos que mortos. Essa é outra
evidência de execuções e do excesso da polícia", disse Cano.
O número de policiais militares feridos em serviço em 2007
corresponde a 12 vezes o número de PMs mortos em confronto com criminosos.
Embora se trate de uma situação de guerra e de militares
regulares, as forças armadas
dos EUA no Iraque tiveram
proporção semelhante: 3.590
mortos e 25.830 feridos até a
noite de quinta. O número de
feridos é 13,8 vezes o de mortos.
A ação do Alemão subverteu,
porém, a lógica de tiroteios e de
confrontos em guerra. Teve ao
menos 19 mortos, mas apenas
sete feridos e nove presos.
"E é pior tendo em vista que
na guerra há tentativa de matar. É um quadro de uso excessivo de força e a intervenção
com a intenção de matar e não
prender", avalia Cano.
A ONG Viva Rio prega que a
polícia adote a doutrina da não-letalidade. Cano vê ironia no fato de o governo do Rio dizer que
havia "pacto de não-agressão"
nos governos anteriores. "Se
havia, tal pacto já provocava
mais de mil mortes [autos de
resistência]. A política sempre
foi a de uso excessivo da força."
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