São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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Efeito do veto a caminhões é maior pela manhã

Em julho, houve queda de 32% no trânsito em SP das 7h às 10h e de 7% das 17h às 20h

A meta da prefeitura, com a restrição ao transporte de cargas, era de uma melhoria próxima de 15% na fluidez do trânsito

ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mês e meio depois da restrição aos caminhões implantada pela gestão Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo, os motoristas têm enfrentado menos engarrafamentos pela manhã, mas os efeitos da medida ainda não tiveram impactos significativos durante a tarde.
Neste mês de volta às aulas, a lentidão do trânsito a partir das 15h30 inclusive piorou em relação ao mesmo período de 2007 -mas especialistas relativizam essa conclusão devido à chuva que atingiu a capital paulista e que agravou os transtornos à circulação na semana passada.
A análise do impacto da restrição ao tráfego de caminhões abrange o trânsito aferido pela Companhia de Engenharia de Tráfego em 90% dos dias entre 1º de julho e 14 de agosto. Não trata de todo o período devido à recusa da CET em fornecer dados à reportagem.
Os dados compilados pela Folha mostram que, em julho, houve uma queda de 32% dos congestionamentos medidos pela CET na média da manhã (das 7h às 10h), de 24% no entrepico (das 10h30 às 16h30) e de 7% de tarde/noite (das 17h às 20h), na comparação com período similar do ano passado.
Já nas primeiras duas semanas deste mês, depois do final das férias escolares, os indicadores são menos favoráveis em todos os períodos do dia: pela manhã, redução de 17% da lentidão, mas, no entrepico, de só 7% e, a partir das 17h, piora de 5% na comparação com 2007.
No último dia 5, diante dos altos níveis de engarrafamento do começo do mês, Gilberto Kassab havia pedido "uma quinzena, pelo menos, para ter convicção de que as decisões estão tendo bons resultados".
A meta da prefeitura, com a restrição, era de uma melhoria próxima de 15% na fluidez.
Especialistas não vêem uma explicação conclusiva para justificar a tendência de redução do trânsito maior pela manhã do que pela tarde, consideram ser cedo para avaliações definitivas, mas, assim como os técnicos da CET, citam hipóteses.
A mais predominante delas é a avaliação de que as entregas vinham se concentrando pela manhã até 30 de junho, quando passou a vigorar a proibição aos caminhões das 5h às 21h em 100 km2 do centro expandido.
Primeiro porque os tradicionais engarrafamentos do final de tarde já levavam as próprias empresas a evitar que seus caminhões rodassem nesse horário para não ficar parados.
Segundo porque a CET vinha estimulando esse fenômeno -ao isentar os veículos de carga do pagamento de zona azul em algumas vias até as 9h.
Outra hipótese aventada é a possibilidade de, por razões logísticas, as medidas adotadas pela prefeitura terem postergado os horários das viagens.
Assim, um caminhão que circularia nas marginais das 7h às 10h, mas ficou impedido devido à sua inclusão no rodízio, adia sua passagem no local para as horas seguintes, com implicações até no final da tarde -como um efeito dominó.
"O tráfego da manhã está sendo diluído ao longo do dia", diz Luiz Célio Bottura, engenheiro e ex-presidente da Dersa. Jaime Waisman, professor da USP, afirma não ver ainda "uma explicação lógica e clara" para a tendência verificada, mas considera plausível a possibilidade de que as entregas, antes da nova restrição, terem se concentrado pela manhã.
Além do impacto da chuva, os indicadores menos favoráveis do trânsito neste mês sinalizam também uma tendência. Ou seja, os eventuais benefícios do veto aos caminhões devem ser cada vez menores, até por conta do crescimento da frota -que já recebe mais de 1.350 veículos novos por dia.
Técnicos avaliam que os dados de congestionamento da CET devem contribuir para as análises de eventual sucesso ou fracasso da restrição aos caminhões, mas também merecem ser encarados com ressalvas.
Isso porque a companhia só monitora 835 km das vias, 5% do total. Os dados não contemplam, por exemplo, os impactos de rotas de fuga dos caminhões para escapar do rodízio. Além disso, nem sempre a queda da lentidão para os carros é também favorável aos ônibus.


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