São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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Hospital ligado à USP veta parteiras da USP Leste

Cinco estagiárias do curso de parteiras foram dispensadas no segundo dia de atividade

Estudantes dizem que pressão da chefia da ginecologia da Faculdade de Medicina, que é parceira do hospital de Sapopemba

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco universitárias do quarto ano do curso de parteiras da USP Leste foram dispensadas do hospital estadual de Sapopemba no segundo dia de estágio. Motivo: suposta pressão da chefia da ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP, que seria contra a atuação das parteiras. O Sapopemba é gerenciado pelo Hospital das Clínicas, por meio da Fundação Faculdade de Medicina.
O titular de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina, professor Marcelo Zugaib, nega (leia texto abaixo). "Eu não as conheço."
O curso de graduação em obstetrícia da USP Leste -único do Brasil- forma parteiras, também chamadas obstetrizes. São profissionais que atuam de forma autônoma orientando a grávida, ajudando no parto normal e no pós-parto. Podem trabalhar em hospitais e em partos domiciliares.
A profissão de parteira ainda é vista com desconfiança -e até com desprezo-por muitos obstetras que entendem o parto como um procedimento médico. Eles só admitem a atuação de enfermeiras-obstétricas -enfermeiras que obtém o título depois de um curso de especialização em obstetrícia- sob supervisão médica.
Na avaliação das estagiárias do Sapopemba (zona leste de SP), essa teria sido a causa para o rompimento do estágio, que iria até o final do ano. A turma de parteiras da USP Leste é composta por 45 alunos, sendo 41 mulheres.
As alunas já passaram por estágios em outras maternidades com tradição em parto humanizado, como o Amparo Maternal, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), hospital geral de São Mateus e o hospital Santa Marcelina. O convênio de estágio entre a USP Leste e o Sapopemba foi assinado no início deste ano.
Segundo Carla de Almeida Vieira Azenha, 46, representante dos alunos do curso de obstetrícia, na última quarta, ao chegarem para estagiar no hospital de Sapopemba, ela e outras quatro estudantes foram avisadas de que o convênio de estágio havia sido cancelado.
"A funcionária do hospital nos informou que isso ocorreu por solicitação do professor Marcelo Zugaib", relata Carla. Ainda segundo ela, Zugaib teria condicionado a permanência da sua equipe médica no hospital -por ser administrado pelo HC, o Sapopemba tem ginecologistas e enfermeiras que são subordinados a Zugaib- à saída das parteiras-estagiárias.
Ontem, a Folha confirmou com representantes do Sapopemba que houve ingerência de Zugaib para o cancelamento do convênio. O médico nega. (leia texto nesta página).
A direção da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Leste -a qual o curso de obstetrícia é vinculado- informou que fora surpreendida com o fim do convênio de estágio e que havia solicitado informações ao hospital de Sapopemba sobre os motivos do cancelamento, mas até ontem não obteve resposta.
O diretor da Faculdade de Medicina da USP, Marcos Boulos, disse ontem, por meio da assessoria de imprensa, que não sabia do assunto, que iria se inteirar sobre ele e se manifestaria na próxima segunda. A Secretaria de Estado da Saúde também informou que desconhecia a polêmica.
"É preconceito. Já estávamos esperando por isso. Estão indo contra tudo o que se preconiza em humanização no parto. Não conseguem enxergar que uma equipe obstétrica pode ter médico, enfermeira e parteira", afirmou a aluna Bianca Alves Amaral, 24, que integra o grupo dispensado.


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