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Terreiro de umbanda bane fumo de ritual
Templo tomou decisão mesmo sendo permitido o uso de charutos em rituais religiosos feitos em ambientes fechados
A proibição vale para o salão fechado, de acesso público, onde acontecem as festas e o atendimento aos filhos de santo e seus consulentes
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Terreiro de umbanda localizado na zona sul de São Paulo; a entrada em vigor da lei antifumo fez o templo deixar de usar cigarro e o charuto durante os rituais
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao menos no terreiro de umbanda Guaracy, no Jardim Ipê,
zona sul de São Paulo, o santo
da lei antifumo é forte. Mesmo
permitido pela nova legislação,
que abre exceção para templos
religiosos em que o fumo ou a
fumaça façam parte do ritual,
os caboclos, boiadeiros, marinheiros, pretos velhos e demais
entidades daquela crença aboliram o charuto, o cachimbo e a
cigarrilha das rodas de jira.
A proibição, que começou na
sexta-feira 7, mesmo dia em
que a lei antifumo entrou em
vigor em todo o Estado, diz o
babalorixá Carlos Buby, 59, ele
próprio um fumante desde os
14 anos, foi referendada pelos
guias espirituais do templo e
motivada para que o terreiro
umbandista "se afinasse com a
lei dos homens".
Por lá, confirmam os vizinhos, o batuque nunca passa
das 22h para respeitar também
a lei do silêncio. O banimento
do fumo no terreiro Guaracy
segue à risca a nova lei. A proibição vale para o salão fechado,
de acesso público, onde ocorrem as festas e o atendimento
aos filhos de santo e aos consulentes. No quintal de terra batida, ao ar livre, no sítio onde é
feita boa parte das oferendas, as
entidades fumam charutos livremente nos rituais.
A exceção é para Exu, que pode fumar o charuto em ambientes fechados, explica o pai de
santo Buby, porque o contato
com essa entidade é fechado ao
público e exclusivo para os iniciados na religião umbandista.
"É nesse momento que a cabocla deveria estar fumando o
charuto e está de mãos vazias",
diz Ana Paula da Costa, seguidora do templo Guaracy.
"Não sabíamos como iria
acontecer porque as entidades
trabalham com a fumaça, mas
os caboclos trazem segurança.
É uma novidade. Antes, o gosto
do charuto ficava até o dia seguinte, agora não sinto mais",
afirma a médium Sílvia Dias,
que na última quinta-feira recebia a cabocla Potira, pela primeira vez sem o rolo de fumo.
"Imagine 15 médiuns fumando charuto nesse espaço pequeno com outras 150 pessoas.
A proibição não pesou em nada
nos trabalhos da umbanda.
Agora, as grávidas e crianças
podem participar", diz o babalaô Carlos Buby.
Para o professor titular aposentado de sociologia da USP
Reginaldo Prandi, autor de
mais de 20 livros sobre religiões afro-brasileiras, a decisão
do terreiro Guaracy é minoritária e não é representativa da
umbanda em geral. Para ele, a
mudança é positiva e faz parte
da transformação das religiões,
que antes ditavam tendências e
agora são pautadas pelo comportamento coletivo.
Prandi diz que a fumaça dos
charutos é uma herança indígena usada nos rituais de cura para canalizar energia e fluidos na
limpeza espiritual. Agora, explica o professor aposentado da
USP, os guias podem usar as
mãos, como nos passes dos médiuns kardecistas. Presidente
da Federação Brasileira de Umbanda, que reúne 5.325 terreiros no país, Manoel Alves de
Souza diz que a abolição dos
charutos no templo Guaracy
após a lei antifumo "faz parte
da evolução da religião".
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