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FOCO
Policiais dançam como par de debutantes em morro do Rio
VERENA FORNETTI
DO RIO
O morro da Providência,
na região central do Rio, viveu sábado uma noite de debutantes na qual só faltou a
carruagem substituir o "caveirão", o blindado policial.
Como princesas, 16 adolescentes da comunidade que
completaram 15 anos debutaram, tendo mais de uma
dezena de policiais no papel
pouco usual de consortes.
Acostumados a incursões
policiais violentas antes da
implantação recente da UPP
(Unidade de Polícia Pacificadora), os moradores da Providência assistiram à polícia
dançar. Até o secretário de
Segurança, José Mariano Beltrame, bailou, com a mulher.
À meia noite, a banda da
PM tocou "Danúbio Azul"
para que debutantes e policiais rodopiassem pelo salão
do Centro Cultural José Bonifácio, um prédio de 1877.
A noite de sonho das adolescentes teve organização
de assessores da PM e do governo do candidato à reeleição Sérgio Cabral (PMDB),
além do patrocínio da Avon.
O comandante local da
UPP, Glauco Schorcht, 35,
moreno de olhos verdes, posava de príncipe ao lado da
adolescente Lucimar Conceição Cardoso, que tem doença
neurológica que compromete a fala e os movimentos.
A menina sorria largo toda
vez que olhava o par. Cadeirante, ela quase não sai de
casa. Mora no alto do morro e
os avós não conseguem carregá-la pelas escadarias. Não
vai ao médico. Nunca foi à escola, tampouco toma remédio. Aos sete anos, foi recusada em uma instituição de ensino pública dos arredores.
A avó economizava as críticas. "A festa está maravilhosa, e ela é alegre. É que no
dia a dia mesmo falta muita
coisa", diz Vera Lúcia Conceição, 57, servente nascida e
criada na Providência.
A amiga Marineide de Souza, 43, também cadeirante,
reclama que, em ano sem
eleição, nenhuma iniciativa
acontece, como se reconhecesse que, se carruagem houvesse, viraria abóbora.
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