São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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FOCO

Policiais dançam como par de debutantes em morro do Rio

VERENA FORNETTI
DO RIO

O morro da Providência, na região central do Rio, viveu sábado uma noite de debutantes na qual só faltou a carruagem substituir o "caveirão", o blindado policial. Como princesas, 16 adolescentes da comunidade que completaram 15 anos debutaram, tendo mais de uma dezena de policiais no papel pouco usual de consortes.
Acostumados a incursões policiais violentas antes da implantação recente da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), os moradores da Providência assistiram à polícia dançar. Até o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, bailou, com a mulher.
À meia noite, a banda da PM tocou "Danúbio Azul" para que debutantes e policiais rodopiassem pelo salão do Centro Cultural José Bonifácio, um prédio de 1877.
A noite de sonho das adolescentes teve organização de assessores da PM e do governo do candidato à reeleição Sérgio Cabral (PMDB), além do patrocínio da Avon.
O comandante local da UPP, Glauco Schorcht, 35, moreno de olhos verdes, posava de príncipe ao lado da adolescente Lucimar Conceição Cardoso, que tem doença neurológica que compromete a fala e os movimentos.
A menina sorria largo toda vez que olhava o par. Cadeirante, ela quase não sai de casa. Mora no alto do morro e os avós não conseguem carregá-la pelas escadarias. Não vai ao médico. Nunca foi à escola, tampouco toma remédio. Aos sete anos, foi recusada em uma instituição de ensino pública dos arredores.
A avó economizava as críticas. "A festa está maravilhosa, e ela é alegre. É que no dia a dia mesmo falta muita coisa", diz Vera Lúcia Conceição, 57, servente nascida e criada na Providência.
A amiga Marineide de Souza, 43, também cadeirante, reclama que, em ano sem eleição, nenhuma iniciativa acontece, como se reconhecesse que, se carruagem houvesse, viraria abóbora.


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