São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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Polêmica tira cartilha de circulação

da Reportagem Local

A publicação de uma cartilha em Campinas com orientações sobre estupro, no ano passado, estimulou o debate sobre o tema bem antes do caso do maníaco do parque do Estado.
A cartilha, distribuída pela delegacia da mulher de Campinas, causou polêmica por sugerir, por exemplo, que a mulher não reaja ao estupro e que peça ao estuprador que use preservativo.
Vereadores do PT e entidades civis da cidade entraram com representação junto ao Ministério Público contra a distribuição dos 30 mil exemplares da publicação que, segundo a delegada Teresinha de Carvalho, já foi arquivada.
O argumento contra a cartilha era baseado na premissa de que, se seguida, a orientação poderia descaracterizar o crime de estupro e facilitar a impunidade, já que ficaria difícil identificar o criminoso.
"Esse tipo de argumento é absurdo e machista. Não é porque a mulher pede ao estuprador que use camisinha que ela está consentindo com a agressão. Na maioria das vezes, essas mulheres estão sob ameaça de arma e não têm como escapar. Podem, pelo menos, tentar se prevenir de doenças ou de gravidez", diz a delegada.
Segundo ela, as mulheres que foram a delegacia comunicar um estupro depois de ter reagido ficaram muito mais machucadas que as que não resistiram. Entre essas últimas, algumas conseguiram evitar o estupro, conta Teresinha.
"Um dos grandes prazeres do estuprador é ver o pânico e a resistência da mulher. Quando ela não reage e conversa com o agressor, ele às vezes perde a vontade e desiste do estupro", diz a delegada.
A orientação de não reagir e manter a frieza diante do estuprador é comum às delegadas da mulher ouvidas pela Folha, para quem o fato de o estuprador ter usado preservativo não descaracteriza o crime. "Nesse caso, não haveria coleta de material, mas o registro da ocorrência e a investigação do caso seriam feitos do mesmo jeito", diz Celi Paulino.
As delegadas recomendam ainda evitar lugares escuros e sem movimento, não pegar carona e desconfiar de propostas de pessoas desconhecidas.
Uma dica importante, diz Celi, é pedir credenciais e indicação de prestadores de serviços, como encanadores e pedreiros.



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