São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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SAIA JUSTA
Barrados no baile sofrem censura de estilo

O promoter Cacá Ribeiro costuma selecionar as pessoas das festas Ivone Ferraz, 35, que não entrou de saia curta na casa noturna Love


ANTONINA LEMOS
da Reportagem Local

Você chega animado para uma festa. Na entrada, dá de cara com um recepcionista que olha para você de cima a baixo e dá a sentença: "você não vai entrar". Para o barrado, resta discutir com quem o barrou ou voltar para casa .
A cena pode acontecer em vários lugares. Clubes, bares e até companhias aéreas adotam a estratégia de "selecionar" pessoas na porta e barrar os que não estão vestidos "de acordo" com o local.
Os critérios que fazem com que alguém seja barrado são relativos. A artista plástica Ivone Ferraz, 35, foi barrada mês passado no clube Lounge Love (uma das casas mais badaladas de São Paulo). Segundo a recepcionista da casa, ela estava com a saia muito curta. Ivone se revoltou. "Me senti humilhada."
Segundo o proprietário do clube, Ângelo Leuzi, "a casa quer ter pessoas educadas, que respeitem os outros". No caso de Ivone, Ângelo diz que ela estava "com a saia muito curta e sentada de uma maneira não conveniente".
Leuzi afirma que a casa quer abrigar "pessoas saudáveis e modernas, jovens, porém adultas". Segundo ele, não existe a orientação de barrar por causa da roupa. "Damos preferência às pessoas que estão no clima da casa", diz.
O promoter Cacá Ribeiro é outro que costuma selecionar as pessoas das festas. "Não barro ninguém específico, barro quem não tem um perfil da festa."
Alguns produtores de festas assumem que barram de acordo com a roupa que as pessoas estão usando. É esse o caso de Beto Lago, um dos organizadores do Mercado Mundo Mix e promotor de festas. "Os caretas não entram nas minhas festas", diz. Beto acha que está fazendo um bem para quem é barrado. "Se ela entrasse na festa, não ia se sentir bem."
Mas quem é barrado nunca fica satisfeito. O VJ da MTV Rodrigo Brandão, 25, foi barrado em um show do Free Jazz do ano passado. "Eu estava de cabelo solto, com dread locks lilás (tipo de rolinhos), camiseta e bermuda." Foi salvo por uma moça da casa que o reconheceu. "Mas não acho certo que as pessoas sejam barradas, você não pode saber como alguém é só pela roupa", diz.
As roupas não causam confusão só em clubes. O jornalista Aílton Pimentel, 25, deixou de ter um up grade (promoção) para a primeira classe na United Airlines por estar usando tênis. "Me avisaram que eu iria para a primeira classe, mas depois olharam para os meus pés e falaram que eu não poderia ir por estar usando tênis", diz Aílton, que estava de terno Gucci.
Segundo as regras da companhia, não é permitido na primeira classe uso de tênis, botas de estilo militar e shorts.



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