São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Próximo Texto | Índice

MASSACRE NO CENTRO

Eles controlariam venda de drogas e teriam atacado moradores de rua para eliminar membros do tráfico

Detidos 2 PMs suspeitos de ataque na Sé

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois policiais militares são mantidos desde a noite de anteontem em prisão administrativa na Corregedoria da PM, sob a suspeita de terem participado de pelo menos um dos ataques a moradores de rua ocorridos em agosto no centro de São Paulo.
Até a noite de ontem, no entanto, nenhum pedido de prisão temporária havia sido apresentado ao juiz Rui Porto Dias, da 1ª Vara do Júri, segundo o Tribunal de Justiça. A prisão administrativa pode durar quatro dias. A temporária, em caso de homicídio, até 30.
"Se tiver policial, guarda municipal, seja quem for de autoridade, gari, é rua. É prisão. Isso é crime. Se tiver cargo público, vai para a rua, seja do Estado, do município ou da União", disse ontem de manhã o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, durante uma solenidade de aniversário da própria Polícia Militar.
Classificando como "razoáveis" as provas reunidas até agora no inquérito que apura o caso, o secretário reafirmou que espera ver as investigações concluídas até o fim de semana, conforme o prazo que ele mesmo fixou publicamente na quinta-feira passada.
"Eu continuo confiando no prazo. Eu acho que vamos conseguir cumpri-lo, acho que até este final de semana a gente soluciona isso de vez e descobre os autores", disse Abreu Filho.
"É claro que essa é uma visão minha, do delegado de polícia, mas há um juiz, há um sistema penal que vai julgar a prova que vamos apresentar. Na minha visão, até como promotor de Justiça que sou, acho que o sistema de provas está razoável."

Alvos
Os indícios reunidos até agora pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) sugerem que os dois PMs suspeitos são comandantes da segurança clandestina e do tráfico de drogas em parte da região central.
Há alguns dias familiares de um deles foram presos com dezenas de pedras de crack.
"Isso [ataques] envolve grupos ligados à segurança clandestina ou que assumem a segurança além daquilo que é papel deles", afirmou o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, que esteve ontem no DHPP.
Por essa linha de investigação, os policiais teriam promovido a primeira onda de ataques, em 19 de agosto, para eliminar um dos aviões do tráfico (pessoas que levam as drogas aos usuários), com quem haviam se desentendido.
O alvo em questão era um dos seis moradores de rua que morreram após as agressões daquela madrugada. Outras cinco pessoas ficaram feridas, entre elas um amigo desse alvo, que segue internado em estado gravíssimo -sem conseguir falar. As demais vítimas teriam sido atacadas para confundir as investigações.
"Quem mora na rua conhece o funcionamento do submundo da cidade. Tudo indica que havia um ou dois alvos que sabiam demais. Tráfico, extorsão. Aí eles atingiram outros para diluir a ação", disse Lancellotti.
Os PMs teriam sido reconhecidos por foto por testemunhas.

Dois grupos
A polícia não sabe se os policiais suspeitos têm ligação com a segunda onda de ataques nem quantos seriam seus cúmplices, mas diz ter indícios de que a segunda leva de agressões foi promovida por outro grupo.
"Não teve novo ataque, não. Num primeiro momento, aí sim, foi mais serial. Depois, um segundo momento de agressão menor. Isso é que está sendo comparado e que nós vamos solucionar", disse o secretário da Segurança.
Até agora, um dos suspeitos de atuação na segunda onda de ataques é um segurança clandestino, tio de um guarda-civil, cuja casa foi revistada.
Um uniforme achado lá está com a perícia para que se apure se há vestígio de sangue.


Próximo Texto: Outro morador de rua é agredido
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.