São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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CRIME ORGANIZADO

Foram presas sete pessoas e localizados milhares de dólares e euros atrás de uma parede falsa em operação no Rio

Polícia acha carne recheada com 2 t de coca

JOSÉ MESSIAS XAVIER
DA SUCURSAL DO RIO

Uma rede de distribuição de cocaína colombiana para a Europa foi desmantelada, ontem, no Rio de Janeiro, pela Polícia Federal, que apreendeu cerca de duas toneladas da droga e localizou milhares de dólares e euros escondidos numa parede falsa.
Na operação Caravelas, foram presas sete pessoas, entre elas o empresário português do setor de carnes Antônio dos Santos Damaso e José Antônio de Palinhos Jorge Pereira, suposto dono de rede de restaurantes de luxo. Os advogados dos acusados não quiseram falar com a imprensa.
"Foi a maior apreensão de cocaína do Rio, e o Palinhos, dono do Satyricon e da Capricciosa, era o chefe da organização no Brasil", disse Roberto Prel, delegado da PF. Os restaurantes, localizados na zona sul do Rio, são freqüentados pela classe média e a direção dos estabelecimentos nega que Palinhos esteja entre os donos.
No apartamento de Palinhos, que usava o nome falso de George Manuel de Paranhos Cohen, na avenida Sernambetiba, na Barra da Tijuca, os investigadores federais da Coordenação Geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes encontraram, em uma parede falsa, o que definiram como uma "montanha" de euros, dólares e reais. "Ainda não conseguimos contar o dinheiro, pois o volume é muito grande e chega aos milhares", disse o delegado Ronaldo Magalhães. Até o fechamento desta edição, haviam sido contabilizados US$ 680 mil (R$ 1,5 milhão) e 48 mil (ou R$ 135 mil).
A droga foi apreendida em um depósito na rua da Cevada, no Mercado São Sebastião, na Penha (zona norte do Rio). A cocaína com alto teor de pureza, que tinha a marca dos cartéis colombianos "capa preta", era escondida pela quadrilha dentro de peças de bucho bovino, que seriam exportadas por navio, do porto do Rio, para Portugal.
Os federais contaram 600 caixas com peças da carne, totalizando 50 toneladas de bucho. Em algumas havia oito quilos da droga. Estava escrito nos tabletes: "Toto, 100% pureza". A estimativa é que sejam encontradas pelo menos duas toneladas de cocaína.
A quadrilha, segundo a PF, comprava cocaína na Colômbia, enviava para o Paraná, Rio e Portugal. O quilo da droga era comprado a US$ 4.000 na Colômbia e vendido a US$ 35 mil na Europa. Para mandar a cocaína para Portugal, a quadrilha criou a empresa Agropecuária da Bahia Ltda.
Também foram presos Rossini Galdino de Souza, o Velho, dono do depósito; o advogado Estilaque Oliveira Reis, que seria encarregado de preparar os documentos para exportação da quadrilha; Márcio Junqueira de Miranda, acusado de montar a operação de colocar a cocaína dentro das carnes; Vania de Oliveira Dias, a Fabiana, secretária de Palinhos, que movimentaria contas bancárias para o grupo; e Carlos Roberto da Rocha, o Tobe, suposto encarregado de preparar o envio da cocaína da Colômbia para o Rio.
Carlos é irmão de Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, que está foragido no Suriname. Ambos são ligados a Ivan Carlos Mendes Mesquita, considerado o maior traficante do país, que foi preso ano passado no Paraguai e deportado para os Estados Unidos, onde cumpre pena.
Bruno Tolpiakow, que é da família dona das duas redes de restaurantes Satyricon e Capricciosa, afirmou à Folha que Palinhos não pertence ao quadro de sócios.
Segundo ele, Palinhos era apenas um freqüentador do Satyricon de Búzios. "Esses restaurantes são da minha família há 22 anos. Esse senhor não tem nenhum tipo de negócio conosco."
Os presos responderão a inquérito por tráfico de drogas, associação para o tráfico, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Seus advogados não quiseram falar com a imprensa.
As maiores apreensões de cocaína no país ocorreram em 1984, no Tocantins, com 7 toneladas, e 9,6 toneladas em 2003. Essa foi a maior realizada no Estado do Rio.


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