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TRANSPORTE
Ônibus levam mais gente, mas não têm prioridade na utilização das vias, mostra pesquisa feita em 11 cidades
Usuário de carro ocupa maior parte da rua
ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA (ES)
O privilégio dado pelo Brasil ao
transporte individual está dimensionado: nos principais corredores urbanos de transporte, os automóveis ocupam 58,3% do espaço viário -mas carregam somente 20,5% das pessoas.
A situação dos ônibus é inversa:
são a forma de deslocamento de
68,7% dos passageiros, mas
preenchem 24,6% do asfalto das
avenidas e ruas. É como se os carros, proporcionalmente à quantidade de usuários que transportam, ocupassem 7,9 vezes as vias
mais que os coletivos.
"É um exemplo da desigualdade
social do transporte. Os mais ricos dominam um bem público",
afirma Eduardo Vasconcellos, diretor-executivo-adjunto da
ANTP (Associação Nacional de
Transportes Públicos).
Os dados acima fazem parte de
uma pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte)
concluída em 2002 e que aferiu a
movimentação de veículos em 27
corredores urbanos de 11 municípios (Rio, Belo Horizonte, Recife,
Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre,
Salvador, Belém, Goiânia, Campinas e Juiz de Fora).
São Paulo ficou de fora por já ter
estudos anteriores, feitos por Vasconcellos, e que apontaram a
mesma tendência. As novas estatísticas estão sendo usadas por
técnicos, em reuniões do 14º Congresso Brasileiro de Transporte e
Trânsito, que ocorre nesta semana em Vitória (ES), como um dos
argumentos para reforçar a necessidade de priorização ao transporte coletivo urbano no país.
A desigualdade na ocupação do
espaço público acontece até nas
vias com faixas exclusivas para os
coletivos -embora a "vantagem"
do carro na ocupação do espaço,
nesse caso, seja menor (de 8,7 vezes à dos ônibus). Em corredores
sem nenhum tipo de prioridade
ao transporte público e com poucas interferências de semáforos, a
diferença chega a 10,5 vezes.
As estatísticas também estão
sendo usadas para pressionar os
governos a destinar mais faixas
exclusivas aos ônibus, bem como
para a adoção de medidas que
onerem a utilização do carro.
Enrique Peñalosa, ex-prefeito
de Bogotá (Colômbia), e Derek
Turner, mentor do pedágio urbano de Londres (os usuários pagam uma taxa diária para circular
de carro no centro), são dois dos
especialistas que defenderam essas teses no evento de Vitória.
Peñalosa foi responsável por
um referendo popular na capital
colombiana que definiu um rodízio de veículos mais severo que
em São Paulo. Ele citou pesquisas
segundo as quais a construção de
mais avenidas para a redução de
congestionamentos em grandes
centros apenas incentivou a expansão dos automóveis.
Pedágio urbano
O presidente do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Ailton Brasiliense, afirmou
ontem, em Vitória, ser "totalmente" favorável à implantação de pedágio urbano em grandes centros
para restringir o uso de carros.
Ele defende a discussão "imediata" do modelo. Brasiliense disse que a inspeção veicular obrigatória, prevista para ser implantada no final de 2004, estabelece um
cartão magnético que será afixado
nos veículos. Ele poderá ser, nos
próximos anos, uma forma de
controlar a circulação de carros.
O repórter viajou a convite da ANTP
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