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ENSINO
Segundo estudo do MEC, formação de profissionais será insuficiente para atender à demanda do setor nos próximos anos
Professor estuda mais, mas salário é baixo
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Responsáveis pela educação de
57,7 milhões de brasileiros, grande parte dos professores no país
tem uma média salarial bem abaixo de outras profissões, leciona
em escolas com infra-estrutura
precária e cumpre jornada acima
de 30 horas semanais. Mesmo assim, em todos os níveis de ensino,
de 1996 a 2002, a formação desses
profissionais melhorou.
O retrato está no estudo ""Estatísticas dos Professores no Brasil",
divulgado ontem pelo Ministério
da Educação e que inclui diversos
dados de 1991 a 2002.
A decisão de ser professor também não tem se mostrado atrativa
tanto em relação ao mercado como em relação às condições de
trabalho. O resultado é que podem faltar docentes nos próximos
dez anos, caso não sejam adotadas medidas para valorizar a categoria e incentivar o ingresso de
novos profissionais. Só no caso de
creches e pré-escola, a estimativa
é que o crescimento das matrículas vá exigir a criação de 139 mil
vagas até 2006.
Hoje o país tem cerca de 2,4 milhões de professores na educação
básica, 80% em escolas públicas.
Entre 1996 e 2002, melhorou a
formação dos docentes. Houve
uma redução significativa do número de professores com formação até o ensino fundamental
-de 15,3% em 1996 para 2,8% no
ano passado entre os que dão aulas da 1ª à 4ª série. Já entre os docentes de 5ª a 8ª, o percentual caiu
de 1% para 0,3%.
Por outro lado, o estudo diz que
"apenas 57% dos docentes que
atuavam na pré-escola, no ensino
fundamental e médio possuíam
formação em nível superior".
Resposta oficial
Para tentar reverter a falta de
acesso à informática, o governo
anunciou ontem, Dia do Professor, a ampliação da linha de crédito para docentes, oferecida desde
2000, para a compra de computadores. Serão R$ 115 milhões por
meio do Banco do Brasil e outros
R$ 20 milhões pela Caixa Econômica Federal. Cada professor pode ter acesso a R$ 3.000.
Um dos pontos que preocupam
o governo é a estimativa de falta
de mão-de-obra no ensino até
2006. O aumento registrado nas
matrículas em cursos de licenciatura de 556 mil em 1991 para 1,059
milhão no ano passado não tem
sido suficiente para atender à demanda. Algumas áreas são mais
críticas, como física e química.
A infra-estrutura das escolas da
educação básica varia de acordo
com a região, mas, de modo geral,
é insuficiente. Do total, 45% dos
professores atuam em escolas
sem biblioteca. No Nordeste, esse
índice passa para 66%.
Em relação a laboratórios de
ciências, 80% trabalham em escolas que não contam com esse suporte, e 74% em estabelecimentos
sem laboratório de informática.
Quando se fala em salário, a situação é complicada. O estudo
mostra que um professor de educação infantil ganha, em média,
R$ 423. Docentes que lecionam
em turmas de 1ª a 4ª série recebem
R$ 462, e de 5ª a 8ª, R$ 600.
Já quem atua no nível médio ganha, em média, R$ 866, quase a
metade do salário de um policial
civil e um quarto do rendimento
de um delegado. Os rendimentos
de um juiz chegam a ser 20 vezes
superiores ao valor da menor média salarial do professorado -a
da educação infantil.
Ontem, milhares de pessoas
participaram, em todo o país, de
protestos que pediam "uma escola pública de qualidade". Os atos
ocorreram em cidades como Fortaleza (CE), Rio Branco (AC), Brasília (DF) e em São Paulo.
O objetivo é sensibilizar a opinião pública para as questões relativas ao financiamento da educação e pressionar o Congresso
para que aumente os recursos
desse setor.
Colaboraram a Agência Folha, a Sucursal
de Brasília e a Reportagem Local
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