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Cresce apreensão de animais traficados
Até setembro, foram encontrados com traficantes 33 mil animais no Estado de SP; número supera totais de 2006 e de 2005
Pássaros são a categoria preferida dos traficantes; "de cada dez animais traficados, só um sobrevive", afirma ambientalista
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Só até setembro deste ano, as
apreensões de animais vítimas
do tráfico já superam os totais
dos anos de 2005 e 2006 no Estado de São Paulo. Foram 33
mil animais. No ano passado
inteiro, o número foi de 30,2
mil e, em 2005, de 25,1 mil.
Um relatório da Polícia Militar Ambiental que acaba de ser
concluído mostra que também
aumentou, em 332,6%, a quantidade de autos de infração ao
comparar 2006 com 2005. Foram feitos mais bloqueios policiais -9.204 contra 5.513-, e
mais veículos foram fiscalizados -59,9 mil contra 37,2 mil.
Pelo segundo ano consecutivo, considerando os rankings
de 2005 e 2006, o canário-da-terra-verdadeiro, de cor amarela, foi o animal vítima de tráfico
mais apreendido no Estado.
Em 2006, foram apreendidas
5.630 aves dessa espécie.
Em segundo lugar da lista de
apreensões de 2006, vem o coleirinho, com 2.730 exemplares, e, em terceiro, o picharro,
com 2.148. Segundo a Polícia
Militar Ambiental de São Paulo, os pássaros são o principal
alvo dos traficantes, por serem
fáceis de ser transportados e terem apelo de vendas.
Na madrugada da última
quinta, a Polícia Rodoviária Federal deteve um homem e
apreendeu com ele 21 filhotes
de papagaios-verdadeiros dentro de uma mala. Alguns bichos
não tinham mais nenhuma pena no corpo. O criminoso estava na rodovia Presidente Dutra,
sentido Campinas-Rio de Janeiro. Os animais foram levados para um criadouro em Lorena (188 km de SP).
Em março deste ano, na região de Araraquara (273 km de
SP), 160 pássaros-pretos foram
encontrados numa caixa apertada de arame e madeira, debaixo do banco traseiro de um
Uno. Alguns tinham asas e rabos cortados.
De acordo com Marcelo Robis Nassaro, tenente da PM que
exerce o cargo de porta-voz da
Polícia Militar Ambiental, apesar de os dados mostrarem um
avanço da fiscalização no Estado, para acabar com o tráfico é
necessário investir mais em
educação ambiental. "Não
adianta fazer apenas operações. É preciso convencer as
pessoas, principalmente as
crianças, de que não se deve ter
animais silvestres em casa."
Ele considera positivo, entretanto, o fato de as denúncias terem aumentado -passaram de
17,5 mil, em 2005, para 26,5
mil, em 2006. "As pessoas precisam entender que o tráfico de
animais é como o tráfico de
drogas. Com as denúncias, as
ações são mais certeiras, e o resultado, mais garantido."
Nesta semana, sete equipes
da Polícia Militar Ambiental
começam a visitar escolas públicas e privadas para dar aulas
de educação ambiental. Eles
abordarão o tráfico de animais
e distribuirão quebra-cabeças
com desenhos dos bichos mais
traficados.
Na opinião de Dener Giovanini, coordenador-geral da
Renctas (ONG que combate o
tráfico de animais), o trabalho
de fiscalização, apesar de importante, é como "enxugar gelo". "Mais relevante é evitar que
o animal seja retirado da natureza, pois, quando isso acontece, dificilmente ele volta. O governo não tem dinheiro para fazer o transporte de volta, e os
bichos ficam debilitados e muitas vezes morrem."
E afirma ser necessário "acabar com a cultura da gaiola no
país". "De cada dez animais traficados, apenas um sobrevive.
Quem gosta de bichos e quer
ter animal silvestre em casa
precisa saber o que está por trás
disso e ter consciência de quantas mortes são causadas. É uma
atitude egoísta."
Segundo Giovanini, mesmo
com a morte de muitos bichos,
infelizmente a atividade ainda
é lucrativa. "Eles compram um
papagaio por R$ 2 e vendem
por R$ 300".
Outra dificuldade em evitar o
tráfico de animais, segundo
ambientalistas e a polícia ambiental, é o fato de que as pessoas flagradas com animais silvestres não vão para a cadeia.
A pena máxima para quem
trafica é de um ano e meio de
detenção -e os crimes com pena de até quatro anos de detenção são considerados de menor
poder ofensivo. Assim, os traficantes normalmente prestam
serviços comunitários ou doam
cestas básicas.
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