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SAÚDE
Pesquisa mostra que 54% dos adultos de 8 capitais têm problemas para dormir e revela os motivos que causam a insônia
Falta de dinheiro abala sono da população
João Wainer/Folha Imagem
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O estudante H.A.D.S., que torna medicamentos contra a insônia |
AURELIANO BIANCARELLI
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
A situação financeira, um coquetel que mistura contas a pagar,
desemprego e salários baixos, é a
principal causa dos transtornos
de sono do brasileiro. Na relação
dos motivos das noites maldormidas, os problemas econômicos
foram citados por 38% dos 1.465
insones ouvidos em oito capitais
brasileiras e no interior paulista.
A pesquisa, realizada pelo Datafolha a pedido do laboratório
Wyeth, revela que 54% da população adulta têm algum problema
de sono. Os resultados serão apresentados hoje no 8º Congresso
Latino-Americano de Sono e 1º
Congresso Paulista de Medicina
do Sono, que estão acontecendo
em São Paulo.
Na avaliação de especialistas, o
resultado da pesquisa confere
com outras feitas em países ricos e
pobres, que não estejam vivendo
sob situações especiais, como
conflitos armados.
Os motivos das noites maldormidas é que podem ser diferentes.
O neurocirurgião Flávio Alóe, do
centro do sono do Hospital das
Clínicas, observa que para haver
insônia é preciso haver preocupações. "Há quem se preocupe com
a conta de luz e há quem perca o
sono se perguntando o que fazer
com US$ 10 mil."
No mundo todo, no entanto, "a
insônia ataca mais as mulheres de
meia-idade e com menor poder
aquisitivo", diz o médico. Na pesquisa Datafolha, 36% dos entrevistados culparam as "contas para
pagar" pela insônia. Embora o desemprego preocupe mais os homens, são as mulheres que controlam o caixa da casa, quando
não tocam sozinhas a família.
No ranking das causas da insônia, as "atividades do dia" aparecem em segundo lugar, com 31%,
lideradas pela "preocupação no
trabalho" e pela "preocupação
com a segurança e a violência".
Os "problemas de saúde", da
pessoa ou da família, estão em terceiro lugar, com 27%, seguido do
"relacionamento familiar (24%).
"É natural que as pessoas estejam mais preocupadas com a subsistência num país como o nosso", diz a médica Stella Tavares,
especialista em distúrbios do sono do Hospital das Clínicas e do
Albert Einstein.
Segundo os médicos, embora as
vítimas da insônia citem motivos
pontuais, as principais causas estão ligadas à depressão e à ansiedade. Na sequência estão as enfermidades físicas em geral, a insônia primária -aquela sem causa
definida- e as mudanças de horário nas atividades.
Stella Tavares cita o relógio biológico, chamado de "atraso da fase de sono", como outro responsável importante pelos distúrbios.
A pesquisa também mostra que
há capitais onde se dorme melhor
que em outras. Os porto-alegrenses seriam os campeões da insônia, com 65% dos seus moradores
se queixando de algum distúrbio.
Brasilienses vêm em segundo lugar, com 59%. Na outra ponta estão os moradores de Fortaleza
(39%) e de Salvador (45%), com
melhor qualidade de sono. "Não
encontramos nenhuma razão para diferenças geográficas do sono", diz Flávio Alóe. O que se tem
como estabelecido é que a insônia
é mais comum entre populações
urbanas do que nas rurais.
A pesquisa revelou que na média a insônia é mais frequente entre pessoas com mais de 40 anos,
entre as de classe A e entre os casados. Em média, os insones dormem mal 12 noites por mês, mas
21% disseram ter problemas quase todos os dias.
Colaborou ESTANISLAU MARIA, da Reportagem Local
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