São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

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SAÚDE
Pesquisa mostra que 54% dos adultos de 8 capitais têm problemas para dormir e revela os motivos que causam a insônia
Falta de dinheiro abala sono da população

João Wainer/Folha Imagem
O estudante H.A.D.S., que torna medicamentos contra a insônia


AURELIANO BIANCARELLI
MARIANA VIVEIROS


DA REPORTAGEM LOCAL

A situação financeira, um coquetel que mistura contas a pagar, desemprego e salários baixos, é a principal causa dos transtornos de sono do brasileiro. Na relação dos motivos das noites maldormidas, os problemas econômicos foram citados por 38% dos 1.465 insones ouvidos em oito capitais brasileiras e no interior paulista.
A pesquisa, realizada pelo Datafolha a pedido do laboratório Wyeth, revela que 54% da população adulta têm algum problema de sono. Os resultados serão apresentados hoje no 8º Congresso Latino-Americano de Sono e 1º Congresso Paulista de Medicina do Sono, que estão acontecendo em São Paulo.
Na avaliação de especialistas, o resultado da pesquisa confere com outras feitas em países ricos e pobres, que não estejam vivendo sob situações especiais, como conflitos armados.
Os motivos das noites maldormidas é que podem ser diferentes. O neurocirurgião Flávio Alóe, do centro do sono do Hospital das Clínicas, observa que para haver insônia é preciso haver preocupações. "Há quem se preocupe com a conta de luz e há quem perca o sono se perguntando o que fazer com US$ 10 mil."
No mundo todo, no entanto, "a insônia ataca mais as mulheres de meia-idade e com menor poder aquisitivo", diz o médico. Na pesquisa Datafolha, 36% dos entrevistados culparam as "contas para pagar" pela insônia. Embora o desemprego preocupe mais os homens, são as mulheres que controlam o caixa da casa, quando não tocam sozinhas a família.
No ranking das causas da insônia, as "atividades do dia" aparecem em segundo lugar, com 31%, lideradas pela "preocupação no trabalho" e pela "preocupação com a segurança e a violência".
Os "problemas de saúde", da pessoa ou da família, estão em terceiro lugar, com 27%, seguido do "relacionamento familiar (24%).
"É natural que as pessoas estejam mais preocupadas com a subsistência num país como o nosso", diz a médica Stella Tavares, especialista em distúrbios do sono do Hospital das Clínicas e do Albert Einstein.
Segundo os médicos, embora as vítimas da insônia citem motivos pontuais, as principais causas estão ligadas à depressão e à ansiedade. Na sequência estão as enfermidades físicas em geral, a insônia primária -aquela sem causa definida- e as mudanças de horário nas atividades.
Stella Tavares cita o relógio biológico, chamado de "atraso da fase de sono", como outro responsável importante pelos distúrbios.
A pesquisa também mostra que há capitais onde se dorme melhor que em outras. Os porto-alegrenses seriam os campeões da insônia, com 65% dos seus moradores se queixando de algum distúrbio. Brasilienses vêm em segundo lugar, com 59%. Na outra ponta estão os moradores de Fortaleza (39%) e de Salvador (45%), com melhor qualidade de sono. "Não encontramos nenhuma razão para diferenças geográficas do sono", diz Flávio Alóe. O que se tem como estabelecido é que a insônia é mais comum entre populações urbanas do que nas rurais.
A pesquisa revelou que na média a insônia é mais frequente entre pessoas com mais de 40 anos, entre as de classe A e entre os casados. Em média, os insones dormem mal 12 noites por mês, mas 21% disseram ter problemas quase todos os dias.


Colaborou ESTANISLAU MARIA, da Reportagem Local


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