São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

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Deportado ficará com refugiados

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro João Herbert, adotado em 86 por uma família norte-americana, chega hoje a São Paulo e irá ficar em um albergue com mais 30 refugiados políticos, a maioria de países da África.
Herbert, 22, está sendo deportado dos Estados Unidos por ter sido pego em 97 tentando vender uma pequena porção de maconha a um policial disfarçado em Ohio.
A vinda do brasileiro, que saiu aos 7 anos de um orfanato paulista, é polêmica. Ele não fala português, não tem vínculos familiares nem amigos no Brasil.
O local escolhido pelo Ministério da Justiça para ele ficar atende 1.120 moradores de rua, diariamente, além dos refugiados -encaminhados por entidades ligadas à ONU (Organização das Nações Unidas). ""Ele será um caso todo especial aqui dentro", disse ontem Antonio Palladino, presidente da casa Arsenal da Esperança, no Brás (centro).
Os moradores de rua podem dormir no máximo 180 dias no local, período em que recebem comida, atendimento médico e frequentam cursos profissionalizantes, como computação e assentamento de blocos e azulejos.
Os refugiados seguem a mesma rotina, só que podem ficar o dia todo na entidade e durante o tempo necessário para que regularizem a permanência no país. Eles ainda recebem ajuda de custo dos órgãos que os encaminharam.
Até ontem, Palladino não sabia dizer quanto tempo Herbert ficaria no abrigo. ""Podem ser seis meses ou um ano, mas acredito que ninguém gostaria de ficar muito tempo aqui, por melhor que fosse o acolhimento", disse. No caso, não há ajuda de custo prevista.
Durante sua estadia, o brasileiro terá aulas de português e ficará a maior parte do tempo em contato com os refugiados que falam inglês como segundo idioma.
Amanhã, Herbert passará por entrevista com assistente social para definir quais cursos profissionalizantes tem interesse e como a entidade pode ajudá-lo a montar sua vida no país.
Duas leis americanas são responsáveis pela expulsão dele.
A primeira, que trata de adoções, não garante cidadania americana às crianças no momento da adoção, mas apenas se os pais pedirem a naturalização, o que não ocorreu. A outra, diz que os estrangeiros condenados por qualquer crime serão deportados após cumprimento da pena, sem direito a recorrer da decisão.
O brasileiro ficou 28 meses em uma prisão norte-americana, embora a Justiça o tenha condenado a prisão domiciliar pelo crime que cometeu.
Após reportagens da Folha, a Embaixada do Brasil em Washington tentou sem sucesso reverter a decisão.


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