São Paulo, segunda, 16 de novembro de 1998

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Diferenças raciais aumentam, diz estudo

da Reportagem Local

Do ponto de vista das crianças, as desigualdades raciais estão aumentando no país. Desde 1980, vem crescendo a diferença entre as taxas de mortalidade infantil entre brancos e negros. É o que mostra o estudo "Diferenciais na mortalidade de menores de 1 ano segundo raça: novas constatações", de Estela Garcia da Cunha.
A pesquisadora do Núcleo de Estudos da População da Unicamp demonstra que a diferença entre as taxas de mortalidade infantil entre negros e brancos cresceu de 21% em 1980 para 40%, dez anos depois.
Embora tenha pequenas diferenças metodológicas, o estudo de Cunha é comparável ao do demógrafo Celso Simões, do IBGE. E os dados referentes a 1996 mostram que esse diferencial da mortalidade entre crianças de cor diferente já chegou a 67%.
O problema é que, embora ambas as taxas estejam em queda, a mortalidade entre crianças brancas está caindo mais rapidamente do que a das negras e pardas.
Isso é, em grande parte, reflexo de uma série de segregações a que estão submetidos os pais e mães das crianças negras.
Um segundo estudo feito por Simões mostra que em praticamente todos os principais indicadores socioeconômicos os negros estão em desvantagem. A taxa de desemprego, por exemplo, é 22% maior para as mulheres negras. Entre os homens, o desemprego é 14% maior entre os negros. Os dados, nacionais, se referem a 1995.
A segregação é mais explícita na comparação da renda. Entre as mulheres brancas que fazem parte da População Economicamente Ativa, 61% têm renda até dois salários mínimos. Entre as negras esse percentual é 1/3 maior: 81%.
Entre os homens a diferença cresce ainda mais. Os negros com renda até dois mínimos são 62%, contra apenas 38% entre os brancos (diferença de 64%).
É na escolaridade, porém, que a segregação chega a seu ápice. Há mais do que o dobro de mulheres e homens negros (118% e 117%, respectivamente) com menos de quatro anos de estudo do que brancas e brancos. Mães pobres e com pouca escolaridade correm mais risco de desnutrição e hipertensão. A consequência, explica o médico Marcos Drumond, são gestações de alto risco.



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