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Futuro médico erra definição de gripe suína
61% dos alunos do último ano de medicina que participaram da prova do conselho da categoria não souberam explicar o que é a doença
56% dos estudantes foram reprovados no exame, que não é obrigatório; conselho diz que faculdades investem pouco na qualidade do curso
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais da metade dos estudantes do último ano de medicina
que participaram de um teste
de múltipla escolha não soube
explicar o que é a gripe suína.
Dos 621 futuros médicos
(25% do total de formandos)
que resolveram o exame aplicado pelo Cremesp (Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo) dois meses
atrás, 61% erraram a resposta.
Problema de saúde pública
mundial, a gripe suína deixou
doentes e mortos no Brasil em
meados deste ano e deve voltar
ao país no próximo inverno.
"Nossas faculdades são de
má qualidade e estão formando
médicos péssimos. A saúde da
população está em risco. Não é
à toa que as denúncias por erro
médico aumentam ano a ano",
afirma Bráulio Luna Filho, médico responsável pelo exame.
No Brasil, a lei não exige que
se faça residência médica antes
de exercer a profissão. Bastam
os seis anos de universidade.
A prova do Cremesp, executada pela Fundação Carlos
Chagas, é aplicada desde 2005
com o objetivo de aferir a competência dos novos médicos.
Na primeira fase, eles resolvem
questões de múltipla escolha.
Os poucos aprovados participam da segunda fase, que inclui
simulação de situações reais.
Neste ano, 56% dos alunos
foram reprovados, índice parecido com o dos dois anos anteriores. Foram particularmente
mal em clínica médica, saúde
mental e clínica cirúrgica.
Entre as razões para esse desempenho "lamentável", o Cremesp diz que as faculdades privadas investem pouco na qualidade dos cursos -muitas não
têm hospital próprio- e que o
Ministério da Educação não as
fiscaliza com rigor.
"Há muitos interesses políticos e financeiros. O prefeito ou
deputado que abre uma faculdade numa cidade ganha um
prestígio gigantesco na região",
diz o presidente do Cremesp,
Henrique Carlos Gonçalves.
O MEC rechaçou a crítica e
disse que, em razão de má qualidade, cortou temporariamente 730 vagas nos vestibulares de
medicina do país.
O Estado de São Paulo tem 31
faculdades de medicina, das
quais 25 formam 2.600 médicos por ano. Seis ainda não formaram a primeira turma.
O exame do Cremesp não é
obrigatório, mas vários alunos
participam na esperança de
que um bom resultado possa
ajudar em seus currículos. A
baixa adesão não permite que
se faça um ranking das melhores e das piores instituições.
"Como os bons alunos sabiam que iriam bem, participaram da prova. Os maus alunos
boicotaram. Tenho certeza
que, se todos tivessem participado, a reprovação teria sido
muito pior", diz Luna Filho.
De acordo com ele, houve casos em que as próprias faculdades -por discordar da metodologia ou temer os resultados-
incentivaram o boicote.
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