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Serra exonera conselho que anulou multas
Governador afirma que decisões contra o rodízio de veículos eram estranhas; julgamentos em favor de motoristas podem ser revistos
Governo utilizou brecha legal para destituir os conselheiros; órgão de trânsito não atenderia resolução nacional
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador José Serra
(PSDB) destituiu ontem os 12
conselheiros do órgão que julga
apelações de infração de trânsito e que vinha anulando as multas do rodízio de veículos.
A decisão publicada no "Diário Oficial" foi articulada com a
gestão Gilberto Kassab (DEM),
que temia a perda de credibilidade da restrição veicular.
Alguns advogados questionam a medida por temer que
ela ponha em xeque a independência e a credibilidade do julgamento de recursos de multa.
O Cetran (Conselho Estadual
de Trânsito) é responsável por
avaliar, em segunda instância, a
defesa dos motoristas punidos.
Desde agosto de 2007, a
maioria absoluta dos conselheiros passou a anular sistematicamente todas as multas
por desrespeito ao rodízio na
capital paulista, independentemente do argumento utilizado
no recurso, conforme revelou a
Folha na semana passada.
A justificativa era a ausência
de placas para sinalizar a área
da restrição. Ela era defendida
tanto por representantes de órgãos estaduais no Cetran, como
Polícia Militar, Polícia Civil e
Detran, como pelos de outras
entidades ligadas ao trânsito.
O Estado utilizou uma brecha legal para destituir os conselheiros, cujos mandatos, de
dois anos, só acabariam na metade de 2008. Alegou que a atividade do órgão estava irregular, em desacordo com uma resolução publicada pelo Contran (Conselho Nacional de
Trânsito) em junho de 2007.
"Foi uma determinação minha. O Cetran tomou decisões
absurdas em relação à questão
do rodízio", disse Serra.
A resolução do Contran fixou
novas diretrizes para a formação dos conselhos estaduais.
Entre as novidades, a previsão
de ter ao menos 14 membros
(presidente incluído) e a presença de gente das áreas de medicina, ambiente e psicologia.
O texto definia 180 dias para
a adaptação, prazo esgotado em
31 de dezembro. O ex-presidente do Cetran Renato Funicello
Filho diz que a minuta com a
mudança já havia sido encaminhada à gestão Serra, que nega.
Autonomia
Cyro Vidal, presidente da comissão de direito de trânsito da
OAB, diz que a adaptação às diretrizes não deveria significar a
troca dos conselheiros. "Mandato é para ser cumprido. O Cetran tem que ter autonomia."
Serra classificou de "estranha" a posição dos conselheiros
de ver ilegalidade no rodízio
dez anos após implantado.
"Numa linha de decisões
muito estranha que, ao meu
ver, só prestava um serviço: aos
que instalam placas nas ruas
que estavam muito contentes,
porque iriam entupir a cidade
de placas desnecessárias."
O governador disse que, após
saber da anulação das multas
para quem recorria, mandou
"olhar" a atuação do conselho e
detectou a "irregularidade".
"O governo poderia ter demitido independentemente disso.
Porque são nomeações. Agora,
esse fator, sem dúvida, deixou
clara a necessidade", afirmou.
O Estado diz que os novos
membros do Cetran devem ser
nomeados em até dez dias. Já
há contestações porque, na nova composição, foram excluídos integrantes do Detran e de
município com população
equivalente à de Campinas.
O secretário municipal dos
Transportes, Alexandre de Moraes, afirma que a prefeitura irá
pedir a anulação dos julgamentos do conselho a partir da data
máxima para a vigência da resolução do Contran -que ele
disse ser 21 de dezembro.
Além das multas de rodízio
-as anuladas beiram 400-, o
conselho também deferia recursos por infração de zona
azul dentro do parque Ibirapuera -alegando não ser via
pública aberta à circulação.
Moraes disse que espera do
novo conselho uma posição diferente da que vinha sendo
adotada. Se isso não ocorrer,
ele afirma que vai à Justiça.
Serra também deu a indicação do que espera da nova composição. "Vai acabar essa história de cancelar multa a troco de
motivos que não se justificam."
O conselho, pela lei, deve ter
composição equilibrada entre
poder executivo estadual, órgãos executivos e rodoviários
municipais e entidades representativas da sociedade.
A idéia, segundo Julyver Modesto de Araujo, autor de livros
sobre legislação de trânsito e
que fazia parte do Cetran destituído, é garantir a pluralidade.
"A liberdade de convicção do
órgão julgador é fundamental
no Estado democrático. Se for
para defender só os interesses
de arrecadação e de punição,
não é um órgão idôneo", diz.
O Contran informou ontem
que os governadores têm poder
de nomear e destituir membros
do Cetran. Disse também que
as diretrizes fixadas em 2007
foram só mudanças "sutis" nas
regras que já existiam.
(ALENCAR IZIDORO, ROGÉRIO PAGNAN E EVANDRO
SPINELLI)
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