São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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Jogos eletrônicos ajudam vítimas de AVC

Tratamento auxilia pacientes com seqüelas de derrames a ativar funções de concentração, memória e coordenação motora

Terapia oferecida pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, ligado à UFRJ, é considerada inovadora em reabilitação

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pacientes com graves seqüelas de lesões cerebrais provocadas por AVC (acidente vascular cerebral) ou traumas têm reaprendido a realizar tarefas do cotidiano, e até retornar ao mercado de trabalho, por meio de um tratamento que envolve jogos de computador.
A aparente brincadeira é utilizada para estimular as funções de concentração, atenção, memória e coordenação motora, que ficam comprometidas com a lesão cerebral.
Em razão da plasticidade neural -a capacidade do cérebro de fazer novas redes para suprir as áreas lesionadas-, o treino em computador permite que o paciente reaprenda a realizar atividades diárias.
O tratamento, oferecido pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o hospital do Fundão, ligado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é considerado uma inovação em reabilitação -ele já foi apresentado em congressos internacionais.
Segundo a médica Lídia Cardoso, coordenadora do laboratório de Neuropsicologia e Cognição, foram criados softwares que simulam cenas cotidianas.
Em um dos jogos, por exemplo, o paciente está em uma casa e deve buscar por objetos, cômodos e fazer a higiene pessoal. Outra proposta é o supermercado, que permite a memorização, localização de produtos e realização de cálculos para concretizar a compra.
Atualmente, cerca de cem pacientes recebem o tratamento no hospital -outros 50 aguardam na fila de espera. O tratamento é realizado em sessões semanais de 40 minutos.
Antes de se submeter à terapia, os pacientes realizam exames psicológicos, segundo Cardoso. "Verificamos se houve seqüela de uma doença neurodegenerativa e analisamos qual a função das atividades diárias foram mais afetadas."
A médica afirma que a atividade é planejada levando em conta a gravidade do caso e o impedimento do paciente. Casos de doenças neurodegenerativas, como demências e mal de Alzheimer, por exemplo, não têm indicação para a terapia.
O tratamento começa com um jogo em 2D (duas dimensões). Logo após, o paciente evolui para atuação em ambientes virtuais. A média de duração do tratamento é de um ano e meio. "É trabalhoso, mas vale a pena. Os resultados são impressionantes", diz Cardoso.
Segundo a médica, todos os pacientes tratados até agora tiveram algum grau de melhora. Dois deles voltaram a trabalhar. É o caso da coordenadora pedagógica Selma Conceição, 60, dois filhos e três netos. Em outubro de 2006, sofreu um AVC. "Não conseguia falar nem o meu nome. Não sabia onde morava nem com que trabalhava. Foi muito triste", lembra.
Com a terapia, ela conta que começou a "reaprender a viver". "As coisas foram voltando. Aprendi a multiplicar de novo." Ano passado, ela voltou a coordenar uma equipe de 38 professores na escola onde trabalhava. "Faltam ainda algumas coisas, mas estou no caminho."


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