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Jogos eletrônicos ajudam vítimas de AVC
Tratamento auxilia pacientes com seqüelas de derrames a ativar funções de concentração, memória e coordenação motora
Terapia oferecida pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, ligado à UFRJ, é considerada inovadora em reabilitação
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pacientes com graves seqüelas de lesões cerebrais provocadas por AVC (acidente vascular
cerebral) ou traumas têm reaprendido a realizar tarefas do
cotidiano, e até retornar ao
mercado de trabalho, por meio
de um tratamento que envolve
jogos de computador.
A aparente brincadeira é utilizada para estimular as funções de concentração, atenção,
memória e coordenação motora, que ficam comprometidas
com a lesão cerebral.
Em razão da plasticidade
neural -a capacidade do cérebro de fazer novas redes para
suprir as áreas lesionadas-, o
treino em computador permite
que o paciente reaprenda a realizar atividades diárias.
O tratamento, oferecido pelo
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o hospital
do Fundão, ligado à UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro), é considerado uma
inovação em reabilitação -ele
já foi apresentado em congressos internacionais.
Segundo a médica Lídia Cardoso, coordenadora do laboratório de Neuropsicologia e Cognição, foram criados softwares
que simulam cenas cotidianas.
Em um dos jogos, por exemplo, o paciente está em uma casa e deve buscar por objetos,
cômodos e fazer a higiene pessoal. Outra proposta é o supermercado, que permite a memorização, localização de produtos e realização de cálculos para
concretizar a compra.
Atualmente, cerca de cem
pacientes recebem o tratamento no hospital -outros 50
aguardam na fila de espera. O
tratamento é realizado em sessões semanais de 40 minutos.
Antes de se submeter à terapia, os pacientes realizam exames psicológicos, segundo Cardoso. "Verificamos se houve seqüela de uma doença neurodegenerativa e analisamos qual a
função das atividades diárias
foram mais afetadas."
A médica afirma que a atividade é planejada levando em
conta a gravidade do caso e o
impedimento do paciente. Casos de doenças neurodegenerativas, como demências e mal de
Alzheimer, por exemplo, não
têm indicação para a terapia.
O tratamento começa com
um jogo em 2D (duas dimensões). Logo após, o paciente
evolui para atuação em ambientes virtuais. A média de duração do tratamento é de um
ano e meio. "É trabalhoso, mas
vale a pena. Os resultados são
impressionantes", diz Cardoso.
Segundo a médica, todos os
pacientes tratados até agora tiveram algum grau de melhora.
Dois deles voltaram a trabalhar. É o caso da coordenadora
pedagógica Selma Conceição,
60, dois filhos e três netos. Em
outubro de 2006, sofreu um
AVC. "Não conseguia falar nem
o meu nome. Não sabia onde
morava nem com que trabalhava. Foi muito triste", lembra.
Com a terapia, ela conta que
começou a "reaprender a viver". "As coisas foram voltando.
Aprendi a multiplicar de novo."
Ano passado, ela voltou a coordenar uma equipe de 38 professores na escola onde trabalhava. "Faltam ainda algumas coisas, mas estou no caminho."
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