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carnaval 2010
Só ando em bloco
Festa de rua vira principal destino de boa parte dos turistas que viajam ao Rio no Carnaval; cariocas tentam evitar que desfiles sejam "privatizados" como em Salvador
DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O maranhense Antônio Barros, 29, esteve em 2007 no Rio
para assistir aos desfiles de escolas de samba, mas acabou
descobrindo um outro mundo:
o dos blocos de rua, que a cada
ano atraem mais foliões e rivalizam a atenção de turistas e cariocas com as escolas de samba.
"Já desfilei na Sapucaí, mas
voltei só para os blocos. Não
quero outra vida. É diversão a
custo quase zero. Só gastamos
com comida e bebida", afirma.
O crescimento dos blocos,
porém, desperta o medo da privatização da folia. Uma faixa erguida no desfile do Cordão do
Boitatá, domingo, no centro,
afirmava: "Contra a baianização do Carnaval de rua do Rio".
Embora a tradição de abadás
de Salvador não exista no Rio,
começam a aparecer camisas
que dão direito a banheiro e outros confortos, como área VIP.
No Cordão da Bola Preta,
maior bloco da cidade, foliões
isolaram trechos das calçadas
do centro no sábado e os transformaram em "camarotes".
O meu é melhor que o seu
Se diferenciar do Carnaval de
rua de Salvador parece mesmo
ter virado questão de honra para os cariocas. Na segunda-feira, espontaneamente, foliões
que estavam no bloco do AfroReggae, em Ipanema, cantavam: "ô, ô, ô, ô, o Carnaval do
Rio é melhor que Salvador".
Turistas de outros Estados
que não se identificam com a
proposta do Carnaval baiano
também procuram nos blocos
cariocas algo que não encontram mais em seus Estados.
Foi o caso do advogado capixaba Raphael Trés. "Em Vitória, o Carnaval está "baianizado'", diz ele, em referência aos
blocos com espaços VIP delimitados por cordões para integrantes vestindo abadás.
Os blocos cariocas atraem
também muitos estrangeiros.
O inglês Greg Milbrodt, 23, veio
de Leeds para conhecer "o verdadeiro Rio", e nem quis saber
de Salvador ou da Sapucaí.
O melhor dos desfiles de rua,
para ele "é o jeito espontâneo
como as pessoas se abraçam.
Além disso, ser de graça é bom
para quem não tem muito dinheiro, como eu", explica.
Falta de infraestrutura
Apesar dos elogios, o crescimento do Carnaval de rua do
Rio exige cada vez mais infraestrutura, como banheiros químicos e transporte público.
Cerca de 2,5 milhões de pessoas participaram dos blocos
neste Carnaval, segundo a prefeitura. Trata-se de um chute
oficial, já que é praticamente
impossível contabilizar o público em 590 desfiles na cidade.
Neste ano, a festa teve patrocínio de R$ 5 milhões de uma
cervejaria. Foram instalados
4.000 banheiros, quatro vezes
mais do que no ano passado.
O aparato, no entanto, não
foi suficiente. Até ontem, 277
pessoas, sendo 12 mulheres e
seis estrangeiros, foram detidas por urinar na rua.
A demanda crescente pelos
blocos causou transtornos
também no metrô, que se mostrou despreparado para atender tanta gente. Mesmo trabalhando com toda a frota, várias
estações do centro, Ipanema e
Copacabana precisaram, em alguns períodos, barrar a entrada
de mais passageiros.
O secretário de Turismo do
Rio, Antonio Pedro Figueira de
Mello, diz que, para o ano que
vem, será preciso melhorar a
infraestrutura, especialmente
na distribuição dos banheiros
químicos. "Este foi o primeiro
ano em que o Carnaval de rua
foi tratado como produto turístico de verdade. Mas o mais importante é criarmos uma cultura de as pessoas brincarem e
cuidarem melhor da cidade."
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