São Paulo, quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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carnaval 2010

Só ando em bloco

Festa de rua vira principal destino de boa parte dos turistas que viajam ao Rio no Carnaval; cariocas tentam evitar que desfiles sejam "privatizados" como em Salvador

DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O maranhense Antônio Barros, 29, esteve em 2007 no Rio para assistir aos desfiles de escolas de samba, mas acabou descobrindo um outro mundo: o dos blocos de rua, que a cada ano atraem mais foliões e rivalizam a atenção de turistas e cariocas com as escolas de samba.
"Já desfilei na Sapucaí, mas voltei só para os blocos. Não quero outra vida. É diversão a custo quase zero. Só gastamos com comida e bebida", afirma.
O crescimento dos blocos, porém, desperta o medo da privatização da folia. Uma faixa erguida no desfile do Cordão do Boitatá, domingo, no centro, afirmava: "Contra a baianização do Carnaval de rua do Rio".
Embora a tradição de abadás de Salvador não exista no Rio, começam a aparecer camisas que dão direito a banheiro e outros confortos, como área VIP.
No Cordão da Bola Preta, maior bloco da cidade, foliões isolaram trechos das calçadas do centro no sábado e os transformaram em "camarotes".

O meu é melhor que o seu
Se diferenciar do Carnaval de rua de Salvador parece mesmo ter virado questão de honra para os cariocas. Na segunda-feira, espontaneamente, foliões que estavam no bloco do AfroReggae, em Ipanema, cantavam: "ô, ô, ô, ô, o Carnaval do Rio é melhor que Salvador".
Turistas de outros Estados que não se identificam com a proposta do Carnaval baiano também procuram nos blocos cariocas algo que não encontram mais em seus Estados.
Foi o caso do advogado capixaba Raphael Trés. "Em Vitória, o Carnaval está "baianizado'", diz ele, em referência aos blocos com espaços VIP delimitados por cordões para integrantes vestindo abadás.
Os blocos cariocas atraem também muitos estrangeiros. O inglês Greg Milbrodt, 23, veio de Leeds para conhecer "o verdadeiro Rio", e nem quis saber de Salvador ou da Sapucaí.
O melhor dos desfiles de rua, para ele "é o jeito espontâneo como as pessoas se abraçam. Além disso, ser de graça é bom para quem não tem muito dinheiro, como eu", explica.

Falta de infraestrutura
Apesar dos elogios, o crescimento do Carnaval de rua do Rio exige cada vez mais infraestrutura, como banheiros químicos e transporte público.
Cerca de 2,5 milhões de pessoas participaram dos blocos neste Carnaval, segundo a prefeitura. Trata-se de um chute oficial, já que é praticamente impossível contabilizar o público em 590 desfiles na cidade.
Neste ano, a festa teve patrocínio de R$ 5 milhões de uma cervejaria. Foram instalados 4.000 banheiros, quatro vezes mais do que no ano passado.
O aparato, no entanto, não foi suficiente. Até ontem, 277 pessoas, sendo 12 mulheres e seis estrangeiros, foram detidas por urinar na rua.
A demanda crescente pelos blocos causou transtornos também no metrô, que se mostrou despreparado para atender tanta gente. Mesmo trabalhando com toda a frota, várias estações do centro, Ipanema e Copacabana precisaram, em alguns períodos, barrar a entrada de mais passageiros.
O secretário de Turismo do Rio, Antonio Pedro Figueira de Mello, diz que, para o ano que vem, será preciso melhorar a infraestrutura, especialmente na distribuição dos banheiros químicos. "Este foi o primeiro ano em que o Carnaval de rua foi tratado como produto turístico de verdade. Mas o mais importante é criarmos uma cultura de as pessoas brincarem e cuidarem melhor da cidade."


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